Pesquisa

A natureza é a solução para uma saúde mental equilibrada

A população brasileira encontra-se em sua maioria nas grandes cidades; é o que indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2015

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Estefáne em uma trilha em Florianópolis (trilha)

Brasília - Viver em meio a urbanização nos apresenta inúmeras sensações e assimilações do convívio ao nosso redor, sensações que podem nos limitar a estresses, irritações e doenças mentais e físicas ocasionadas pela poluição sonora e poluição do ar.

Os estímulos causados pelas agitações como trânsito, luzes, pode nos acionar no corpo e na mente respostas, que variam de estados de grande euforia para estados de melancolia e depressão.

É neste contexto que entra o papel da natureza em nossas vidas para equilibrar o nosso sistema nervoso e emocional com intuito de nos proporcionar bem-estar e paz interior. As cores, a calmaria, os sons, sentimentos positivos que o espaço verde nos atribui, tem a capacidade de compensar e restaurar nossas emoções e pensamentos. Nos dando força para encarar com mais leveza e até mesmo enfrentar a rotina de uma grande cidade.

Um estudo feito pela Universidade de Brasília, coordenado pelo professor Reuber Albuquerque Brandão, mostra que o contato com a natureza aumenta a saúde e o bem-estar humanos por meio da redução do estresse e licitação de emoções positivas, como também a restauração da atenção.

Na pesquisa foi realizada tarefas cognitivas e autorrelatos emocionais em 33 pessoas, antes e depois de uma caminhada de 30 minutos no Parque Nacional de Brasília, e 30 minutos de caminhada no centro de Brasília.

Registrou-se melhorias nos relatos emocionais após o contato com espaços verdes, enquanto a exposição urbana causou aumento nas emoções negativas e diminuição de felicidade.

“A natureza nos conforta, nos acolhe, nos relembra que também fazemos parte dela, apesar de termos nos deslocado na construção de uma sociedade voltada para a mercadoria, para o produto. O contato com a natureza alivia o estresse, libera hormônios como dopamina e serotonina no corpo, é como se nos regenerássemos a cada contato,” explica Betina G. Rodrigues Alves, doutora em ciências biológicas.

Além do estudo feito pela Universidade de Brasília, especialistas da mente como a psicóloga do Hospital das Clinicas de São Paulo, Daniela de Oliveira, pontua a teoria polivagal, desenvolvida por Stephen Porges, ao trazer novidades a ciência e a prática clínica, que pode ser exemplificada a capacidade do nosso sistema nervoso em resposta ao convívio e comunicação com o meio ambiente.

“A teoria chamada “Polivagal”, tem a ver com a regulação do tônus do nervo vago, e também tudo que vem com isso, a diminuição do batimento cardíaco, a respiração se aprofunda, nossos processos internos entram em um ritmo mais saudável e com isso nosso cérebro ganha um respiro para fazer a função de perceber as coisas, percepção,” exemplifica a teoria.

Para Oliveira, estar junto na natureza é olhar para a linha do horizonte e colocar os pés na terra. É presenciar os animais. É um equilibro para o nosso sistema nervoso central e autônomo, ou seja, nos desativa daquele estado constante de alerta do centro urbano.

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Estes benefícios de aumento de felicidade, emoções positivas e bem-estar pontuados anteriormente, podem ser encontrados nas próprias pessoas que estão na prática em constante convívio no ambiente verde, como é no caso da recepcionista e moradora da maior cidade urbana do país, São Paulo, Estefáne Melo. Adepta de viagens do turismo de natureza, ela pontua o porquê de precisar estar viajando para locais com alta incidência de espaços verdes em sua vida.

“Eu me sinto outra pessoa, tenho necessidade de ir pra lugares com natureza porque parece que a energia muda, pareço estar conectada com o universo, tudo flui. Quando eu morava em Florianópolis, meu maior prazer era fazer trilha ou ir à praia logo cedo, eu sentia necessidade de pegar aquela brisa, de pegar o sol da manhã,” relata.

Como bem averiguado pela pesquisa da Universidade de Brasília, há uma diferença considerável em como respondemos os diferentes espaços, como fazer uma caminhada, trilha num parque e ao andar num centro cercado de prédios e edifícios com muito barulho.

“Quando fazia trilha, parecia que toda vez era mágico, o ar era mais limpo, os pensamentos eram mais leves. Só pensava em coisas boas, sentia-me feliz e grata por estar vivenciando cada pedacinho daquele lugar,” destaca Estefáne

Em relação à infância, esses aspectos vivenciados também são muito relevantes. Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, revela que o contato de crianças com a natureza, aliviam o estresse, a ansiedade e traz uma série de benefícios como o estímulo a criatividade, a resiliência e relaxamento.

O manual de orientação desta pesquisa intitulado “Benefícios da natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes”, mostra uma problemática na falta deste contato com áreas de mato e vegetação na infância. Há um aumento amplo de problemas de saúde nos pequenos, como obesidade, sedentarismo, hiperatividade, baixa motricidade, falta de equilíbrio, agilidade, habilidade física e até miopia.

Para o contexto de isolamento social e pandemia, pequenas viagens em lugares com afastamento de pessoas e mais vegetação é evidenciado a fim de evitar contrair a Covid e poder relaxar e abster dos problemas e caos das cidades. É um momento de ansiedade, impaciência e agitação. E estar junto a natureza é necessário para absorver a calmaria, tolerância e paciência com a vida.

Oliveira pontua um certo caráter espiritual em estar próximo ao espaço verde, é como se a vida encontrasse a vida.

“Quando vamos ao ambiente verde movimenta aquela comunicação de estar perto da vida, entrar em contato com a vida dentro e fora, e ter essa equidade. Como o budismo diz que somos parte de toda essa vida, somos um único ser, uma única consciência, a vida é maior que todos nós. Ir ao campo faz-nos entrar em contato com esse aspecto de nós fazermos parte de algo, ou seja, pertencimento” descreve a psicóloga.

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