Estudante cria pesquisa para mensurar violência psicológica nas mulheres
Após identificar que havia poucos estudos sobre o assunto, e a necessidade de debate do tema, Larissa Fook, estudante de psicologia da UFMA, passou a investigar a gravidade da violência psicológica; seu artigo foi aceito em revista eletrônica cientifica
São Luís – No último dia 29 de julho, foi sancionada, sem vetos, a Lei 14.188, de 2021, que cria o programa Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica e Familiar. O texto também inclui no Código Penal (Decreto-Lei 2.848, de 1940) o crime de violência psicológica contra a mulher, o que é considerado a base das outras violências que ocorrem ciclicamente na sociedade. Contudo, mesmo se tornando crime, a violência psicológica ainda é naturalizada pela sociedade, e foi pensando em debater isso, que a estudante de psicologia da Universidade Federal do Maranhão, Larissa Fook., criou uma pesquisa para mensurar essa violência.
Intitulada como “O que os olhos não veem, o coração não sente? Desenvolvimento de um instrumento brasileiro para avaliar a violência psicológica contra a mulher”, a pesquisa, que durou cerca de um ano, tem como objetivo principal desenvolver um instrumento capaz de mensurar o nível de violência psicológica praticada por parceiro íntimo contra a mulher, investigando quais comportamentos são identificados como violentos e como eles afetam a vítima.
“A gente buscou identificar que comportamentos constituem a violência psicológica mais especificamente. Além de investigar as evidências de validade do instrumento, verificar a qualidade psicométrica dele, a gente buscou também relacionar com variáveis externas, que no caso foram autoestima e emoções negativas, como depressão, ansiedade e estresse. Então, além de desenvolver o instrumento, vimos na pesquisa que quanto maior a violência sofrida, menor a autoestima e maior o nível de depressão e estresse”, explica Larissa.
Como a pesquisa foi realizada durante o momento de pandemia da Covid-19, para chegar aos resultados, Larissa fez um levantamento de informações através de formulários onlines entre mulheres que estavam, ou tiveram recentemente, relacionamentos que duraram mais de seis meses. “Não utilizamos uma amostra de mulheres que já tinham passado por violência psicológica, decidimos abordar a população feminina em geral. Tiveram algumas respostas em que mulheres relataram não sofrer violência psicológica no relacionamento, como tiveram mulheres que relataram sofrer algum nível dessa violência”, explica.
Resultados
A pesquisadora conta que conseguiu construir instrumento com boas qualidades psicométricas, e que a partir desse instrumento foram identificados dois fatores: A violência Psicológica Direta e a Violência Psicológica Indireta. De acordo com Larissa, cada um desses níveis possuem características específicas que como um todo são identificadas como violência psicológica.
“Os comportamentos de violência indireta seriam aqueles um pouco mais sutis, como monitorar mensagens, delimitar idas e vidas a determinados lugares, pedir para que essa mulher troque de roupa de uma forma mais sutil, como falar ‘ah, essa roupa não tá legal, por quê não vai com aquela?’. Já os comportamentos de violência direta, embora também sutis, porque a violência psicológica como um todo é uma violência silenciada, eles seriam humilhações, xingamentos, menosprezos”, explica.
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Além disso, Larissa também destaca que na pesquisa foi levantado que possivelmente a violência contra a mulher comece com a violência psicológica indireta, e vai se agravando com o tempo até chegar em casos mais graves.
Novos projetos
O artigo da pesquisadora foi aceito, e será publicado, na revista Contextos Clínicos, uma publicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) que publica artigos sobre investigações empíricas e revisões sistemáticas e integrativas da literatura que abordem a psicologia clínica em diferentes contextos.
Além disso, Larissa também conta que tem interesse em continuar com a pesquisa durante um mestrado, delimitando ainda mais o grupo que sofre essa violência. “Também quero analisar a questão de raça, classe e sexualidade, porque querendo ou não, a violência contra a mulher também está relacionada a esses fatores”.
Saiba mais sobre violência psicológica
Em conversa com O Estado, em celebração ao Agosto Lilás, mês de combate a violência contra mulher, a psicóloga e doutora em direitos humanos, Artenira Silva, explicou o que é violência psicológica e como combatê-la. Veja aqui a entrevista completa.
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