São Luís - Conceder o dom da vida é uma bênção divina associada às mulheres que, desde os tempos da criação, registram a capacidade de, após período gestacional, dar à luz uma criança. Esta fase suscita a uma série de dúvidas e incertezas, ao mesmo tempo em que provoca sensações ímpares e psicológicas na mãe que, com ansiedade, aguarda pela chegada do filho ou da filha.
Antes de se submeter ao processo de geração de vida, a mulher realiza preliminarmente o pré-natal, fase em que a futura mãe deve ser acompanhada por um profissional de saúde, que verifica por diversos fatores se o processo de gestação ocorre a contento.
Com o desenvolvimento das sociedades, ao longo dos séculos, e maior participação das mulheres nos processos de formação social, que levaram ao surgimento de conceitos, como feminismo (espécie de doutrina que preconiza o aprimoramento e ampliação do papel dos direitos das mulheres na sociedade), a mulher tornou-se autônoma nos costumes, na formação intelectual e, principalmente, no comportamento, a cada dia mais ativo.
Essa altivez na produção e nos costumes gerou uma série de mudanças nos perfis e na visão do que temos do feminismo e na desenvoltura da mulher, que se refletiu – como exemplo – na forma como ela quer realizar o seu parto. Foi neste contexto que a nomenclatura “parto humanizado” ganhou as páginas de peças de divulgação e de redes sociais nos últimos anos.
Porém, a partir de sua criação, estabeleceu-se uma espécie de estereótipo, ou seja, de que o parto se refere somente à um ambiente agradável, repleto de flores, com uma música “clean” e outros aspectos. Na verdade, a expressão “parto humanizado” é além destes aspectos e prioriza dar a opção plena ou praticamente única à mulher sobre como quer ter seu filho ou sua filha.
O objetivo da reportagem não é simplesmente desvincular o papel do profissional médico deste momento, e sim entender que o parto humanizado vem apenas dar à mulher a possibilidade de escolher se é, por exemplo, mais confortável ter sua criança no espaço domiciliar, como era feito com as “parteiras” (ou ainda é feito) em várias partes do Brasil por diversos fatores (em especial ausência de uma unidade de saúde capacitada no local do parto).
É preciso ressaltar ainda que – apesar de “humanizado” e menos “medicalizado” - é fundamental ter a presença de um quadro ligado a uma das competências do setor de saúde ao lado desta mãe, para amparo clínico e psicológico. Entender como se dá este tipo de parto e ouvir mulheres que se submeteram a ele é imprescindível para aprofundar o tema.
Aspectos do parto humanizado
Especialistas afirmam que as mulheres, ao relataram os seus partos via cesariana, “demonstram certa frustração” de não terem realizado um parto mais espontâneo ou mais natural. A mãe, em muitos momentos, quer viver na prática (sentindo inclusive as dores e influenciando na saída do bebê de seu ventre) esse parto. É uma espécie de continuidade do vínculo dos filhos, ou seja, de saber que aquela criança está ali por interferência da mãe de forma direta.
No entanto, a vivência plena dos processos considerados naturais e humanos envolve uma simbiose de sensações, ou seja, dor, incômodo e até medo. Porém, mesmo ciente destes desafios, para se sentir mais diretamente influenciadora no processo, a mulher quer vivenciar tudo isso e prefere algo com menos interferência médica.
Foi para atender um perfil mais próximo desta linha que surgiu o conceito de parto humanizado, ou parto que zela pelo amor e pelo sentimento da mãe. Neste conceito, é fundamental a aparição da doula, um termo de origem grega que “significa mulher que serve”. A sua atuação neste caso facilita a existência de um parto.
No entanto, a presença da doula, para alguns especialistas, tem como intuito apenas o auxílio na dor e no conforto. Sua presença, conforme defensoras do próprio “parto humanizado” tem sido restrita apenas neste sentido devido às medidas de distanciamento social. A recomendação é da presença, durante o parto humanizado, de uma doula, se possível, com formação acadêmica em enfermagem.
Além da doula, os defensores da ideia de parto humanizado definem a prática como a “expressão usada” para apontar que a mulher registra controle sobre como e em que posição deseja e se sente confortável para o nascimento do bebê.
A expressão “parto humanizado” remete ao termo “humanização” que, no contexto específico, não se refere à via do parto (vaginal ou cesárea) e sim ao tipo de assistência que a mulher recebe. É dar a prerrogativa à mulher acerca da forma ou em qual posição deseja e se sente confortável para o nascimento de seu bebê.
Uma das defensoras da ideia do parto humanizado é a antropóloga e ativista do parto natural, Robbie Davies Floyd. A escritora se debruçou sobre trabalhos fundamentais e separou o parto pelo aspecto tecnocrata, ou mais “tradicional”, em que o profissional médico usufrui de plena autonomia na adoção das condutas médicas, sem verificar o lado da paciente.
De acordo com Robbie, o corpo da mulher – nas ocasiões em que o aspecto técnico prevalece – é visto como uma espécie de “máquina” ou objeto. Os procedimentos clínicos são realizados desconsiderando a mente e o corpo, com “ênfase apenas nos resultados imediatos”, desconsiderando a subjetividade da mãe.
Um dos pontos mais criticados pelos defensores do “parto humanizado” diz respeito à caracterização das cesarianas. Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o Brasil ainda é o país, em dados absolutos, com maior índice de cesarianas no mundo. Em determinadas pesquisas, é apontado que mais da metade dos procedimentos do gênero é feita desta forma, com aspectos cirúrgicos interligados.
A antropóloga Robbie Davis Floyd defende a tese que qualquer sociedade moderna deve estabelecer como meta o índice de cesáreas em até 20%. É preciso esclarecer que as cesarianas, apesar de serem rebatidas pelas mães na modernidade, ainda ajudam a salvar vidas e, dependendo do caso das mães, são imprescindíveis e consideradas “a única opção”.
Os profissionais de saúde, mesmo os adeptos da prática do “parto humanizado”, defendem também e são razoáveis na ideia de que, o ideal é esperar o chamado “trabalho de parto” começar, ou seja, a adoção de um ciclo de três a quatro contrações em um intervalo de pelo menos 10 minutos para, se houver dificuldades – seja com sofrimento da mãe ou por decisão da genitora – partir para a cesárea.
Vantagens durante a pandemia
Além de tornar o parto como uma espécie de acolhimento, em meio à pandemia, outra vantagem do “parto humanizado” é reduzir o tempo de recuperação – contribuindo para um período mais curto de permanência da mãe e do bebê no hospital, o que é considerado mais seguro em tempos de pandemia da Covid-19.
Enquanto que o tempo de recuperação do “parto humanizado” é de 30 horas, em média, o período de regeneração do parto cesárea é de até 15 dias, por se tratar – por óbvio – de procedimento cirúrgico.
Em todos os casos de “parto humanizado”, a presença do especialista de saúde deve ser acompanhada, nos casos em que é possível, do acompanhamento mecânico, com o monitoramento em tempo real do ritmo cardíaco da paciente e do bebê. Em geral, o processo de “parto humanizado” - desde as primeiras contrações até o momento final, dura 12 horas. Ou seja, um ciclo considerado longo e que exige força de vontade, maturidade da mãe e dos familiares e, principalmente, sinergia entre a mãe e o (a) companheiro (a) no amparo psicológico.
Diversas pesquisas científicas também apoiam a ideia de que o nascimento em um ambiente acolhedor, ou seja, a residência da mãe ou outro local que remeta à lembranças positivas é a “melhor maneira” de vir ao mundo. No parto humanizado, a mulher escolhe se quer receber anestesia (a maioria opta pelo recebimento), o que comer e beber (dependendo da dieta específica para este momento) e, claro, em que posição quer gerar o bebê lindo ou linda que mudará a sua vida e de todos os familiares em volta.
SAIBA MAIS
Diferença entre assistência considerada medicalizada e humanizada
Assistência medicalizada
- Fisiologia do parto que precisa ser aperfeiçoada
- Tendência de acelerar o processo
- Colocar a mulher na posição de litotomia (o paciente é colocado em posição dorsal; a seção dos pés da mesa cirúrgica é abaixada completamente, e os membros inferiores são elevados e abduzidos em perneiras metálicas, para haver exposição da região perineal)
- Relação médica vertical
- Confiança na fisiologia
- Acompanhamento e estar “ao lado”
- Andamento e monitoramento de como será a evolução fisiológica;
- A protagonista do parto é a mulher;
- Decisões horizontalizadas.
Fonte: Parto, Aborto e Puerpério Assistência Humanizada à Mulher (Ministério da Saúde)
Humanizar é
- Acreditar que o parto normal, na maioria das vezes, não precisa de qualquer intervenção.
- É saber que a mulher é capaz de conduzir o processo e que ela é a protagonista deste evento;
- É informar que a mulher sobre os procedimentos e pedir a sua autorização para realizá-los;
- É garantir e incentivar a presença de um acompanhante escolhido pela gestante, para passar a ela uma segurança e tranquilidade.
Saiba Mais
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- Mãe que teve filho em calçada de shopping deve receber alta hoje
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