Brasília - Em outubro, de 2020, Camila de Oliveira, 31 anos, foi orientada a ficar em casa, isolada, quando testou positivo para Covid-19. Ela mora na França e, por lá, naquela mesma época, a pandemia estava no auge da segunda onda e o governo local decretava lockdown.
Ela estava feliz porque entrava no segundo mês de gestação e concluía seu sonhado curso profissionalizante quando adoeceu. Os primeiros sintomas chegaram com intensidade e, no isolamento, contava apenas com a ajuda dos familiares. Na França, as autoridades em saúde recomendavam o isolamento total nos primeiros dias de infecção. Camila teve febre, falta de ar e medo.
“A gente fica angustiada porque, realmente, o cansaço é forte. Eu não saia da cama, fiquei com medo de perder o ar, de não poder mais respirar, ninguém me socorrer e, por eu estar grávida, fiquei com medo de perder o bebê”, relata a estudante.
A falta de ar causou angústias e sofrimentos desesperadores em Camila de Oliveira. A brasileira conviveu com a sensação de afogamento e febres altíssimas por dois dias. Não foi ao médico. Mas conta que a ausência de uma equipe médica, durante a manifestação mais aguda dos primeiros sintomas, foi sentida.
“O acompanhamento médico do início ao fim, e depois também, é essencial. A doença é solitária e, por isso, se tivermos o amparo da medicina, dos médicos, é super importante”, acredita Camila.
Na casa da universitária Mariana Vargas, 28 anos, somente ela testou positivo para Covid-19, em fevereiro deste ano. Pareceu uma escolha feita a “dedo” que impôs o isolamento repentino e cuidados redobrados de contenção da proliferação do coronavírus na família.
Os sintomas foram leves em Mariana, mas suficientes para desencadear quadro depressivo profundo. As angústias desequilibraram o raciocínio e a autoestima. Ela sofreu com perda do paladar, olfato, peso e dos cabelos. Teve medo.
“Foram os piores dias da minha vida. É como se tivesse em uma prisão na qual fiquei 14 dias fechada dentro do quarto em choro constante. Eu chorava muito”, afirmou a universitária.
Mariana Vargas estuda Farmácia e as atividades acadêmicas são importantes no tratamento dos traumas recorrentes da Covid-19. A moradora de Brasília relembra os primeiros dias da infecção com lucidez e acredita que a falta de acompanhamento médico, nas fases críticas da doença, contribuiu no desenvolvimento de crises, que a princípio, poderiam ter sido amenizadas logo no início.
“Acredito que quando uma pessoa é diagnosticada com Covid-19 e tem acompanhamento psicológico, durante a fase inicial, é de suma importância”, acredita.
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Quando Ir ao hospital?
As formas como a Covid-19 ataca o organismo das pessoas, e os possíveis prejuízos à saúde, ainda são desafios para a ciência. Apesar disso, as experiências adquiridas no trato dos pacientes permitem entender, por exemplo, as fases e as manifestações do contágio do coronavírus.
“A Covid-19 tem um curso de evolução muito típico. Uma fase gripal, que dura de 3 a 5 dias. O paciente pode ter alguma melhora ou ficar estagnado na evolução após esse período. E a partir do 7º, 8º dia, há a fase em que a doença pode acometer o pulmão. O pico dessa evolução vai acontecer entre o 10º e o 12º dia após o início dos sintomas”, explica o médico Fabrício da Silva, especialista em Emergências Clínicas e no tratamento da Covid-19 na fase grave, da Rede D’Or.
O conhecimento é fundamental na antecipação de procedimentos capazes de contribuir para a recuperação do paciente, em menos tempo, além de, tranquilizar as vítimas.
A sensação de solidão e morte que Camila e Mariana conviveram, por exemplo, causam sequelas físicas e psicológicas e, segundo especialistas em saúde, é fator da falta de orientação, de acompanhamento médico próximo, já no período de início dos sintomas.
Aliás, “a recomendação inicial era ‘uma vez com sintomas gripais, com diagnóstico da Covid-19, fique em casa e procure o hospital caso tenha queda de saturação ou piora na falta de ar’. Esse conceito caiu por terra. Hoje, a recomendação é cada vez mais, termos o acompanhamento de perto, o diagnóstico precoce”, lembra Fabrício da Silva.
Ele destaca que, mesmo nos casos leves da Covid-19, é necessário o acompanhamento médico de perto desde o início dos sintomas. Descartar a possibilidade de a doença evoluir para uma forma grave após os primeiros exames, segundo o médico, é um erro grave.
“Sugiro que tenha uma reavaliação lá pelo oitavo, nono dia, justamente para definir se o paciente vai ter uma potencial chance de evoluir para uma forma mais grave, se vai começar a esboçar pneumonia”, acredita.
Os prejuízos e males causados pela Covid-19 ainda são desafios para as equipes médicas e, por isso, acompanhar cada pessoa infectada desde o início dos sintomas é importante. Cada sinal, reações, podem indicar a forma de tratamento, e se for realizado cedo, com grandes chances de cura, a fim de amenizar possíveis casos graves da doença.
“Realizar tomografia nessa fase é importante para definir o paciente que vai evoluir com acometimento pulmonar, com pneumonia pela Covid e para tentarmos otimizar o tratamento medicamentoso. Eventualmente, envolver a fisioterapia nesse cuidado e já traçar o planejamento de reavaliação, entendendo que ele está entrando na curva de piora da inflamação, em que o pico vai se dar lá no 10º, 11º, 12º dias. Essa noção de evolução e acompanhamento de perto é fundamental”, pontua.
Fonte: Brasil 61
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