Violência sexual

Brasileiros reconhecem impacto do estupro e direito das vítimas ao aborto

Pesquisa Percepções revela que maioria das mulheres e homens disseram considerar que estupro é sinônimo de relação sexual sem consentimento. E 84% concordam que o estupro é sempre culpa do estuprador

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Com cartazes, mulheres se manifestam em ato contra a violência sexual (Mulheres protestam)

BRASÍLIA - O medo do estupro está presente no cotidiano das brasileiras: 99% das mulheres disseram ter medo de serem vítimas de estupro, sendo que 78% afirmaram ter muito medo. Para 88% das mulheres e homens entrevistados, toda cidade deveria ter um serviço de aborto previsto na legislação e 81% consideram que, em caso de gravidez pós-estupro, a vítima deve buscar um serviço de saúde para interromper a gestação.

Para a população brasileira, o estupro, ao lado da violência doméstica e do assédio sexual, está entre os principais problemas que as mulheres enfrentam no país. Ao responder à pesquisa Percepções sobre estupro e aborto previsto por lei, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, a maioria das mulheres e homens disseram considerar que estupro é sinônimo de relação sexual sem consentimento. E 84% concordam que o estupro é sempre culpa do estuprador, não importa o comportamento da mulher ou sua roupa.

Conforme pesquisa, 52% dos entrevistados, o que equivale a 85,7 milhões de brasileiros, conhecem uma mulher ou menina que já foi vítima de estupro. E 16% das mulheres dizem que já foram vítima de estupro.

Já 91% das mulheres entrevistadas acham que contariam para alguém se fossem vítimas de estupro; destas, 68% têm certeza. Vergonha, constrangimento e medo da exposição são os principais fatores apontados pelas mulheres que não contariam a ninguém em caso de estupro.

Polícia e saúde

92% das mulheres dizem que denunciariam se fossem vítimas de estupro. Porém, para 53% da população, as vítimas não costumam denunciar e apenas 29% acham que a polícia está muito preparada para atender vítimas de estupro.

93% concordam que toda vítima de estupro que buscar a delegacia ou um serviço de saúde deve ser informada sobre as formas para evitar DST e gravidez indesejada e 82% concordam que o aborto deve ser permitido em caso de estupro.

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88% são a favor de que vítimas de estupro que engravidem possam escolher se querem ou não interromper a gravidez de forma legal e segura em um hospital público.

94% são favoráveis que, em casos como o da menina de 10 anos que foi estuprada e engravidou, a gestação possa ser interrompida.

Dos que conhecem uma vítima, 17% relataram que ela engravidou, sendo que em 42% desses casos a gestação foi interrompida e, em 44%, levada adiante.

Para 88% das mulheres e homens entrevistados, toda cidade deveria ter um serviço de saúde em que as meninas e mulheres vítimas de estupro pudessem interromper a gravidez de forma segura em um serviço público, conforme previsto na legislação.

Sobre o estudo
Para Maíra Saruê Machado, diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva, os resultados da pesquisa indicam que “o estupro é uma realidade próxima da população – a maioria conhece uma mulher ou menina que foi vítima e é unânime a percepção de que as brasileiras temem que isso ocorra com elas'. E acrescenta: " as consequências de um estupro na vida da vítima, sejam psicológicas, físicas ou uma gravidez indesejada, também são bastante reconhecidas. Mas a pesquisa mostra que o acolhimento do Estado às mulheres e meninas vítimas — seja nas delegacias ou no sistema de saúde — pode ser mais qualificado”.

Para Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, os dados da pesquisa evidenciam que já está amplamente disseminada a ideia de que uma relação sexual sem consentimento é um estupro e que, em caso de gravidez, toda menina e mulher tem o direito de interromper essa gestação de forma segura em um hospital público. "E, mais que isso, a maioria da população concorda que toda cidade deve ter um serviço de saúde para atender essas vítimas.”

A pesquisa Percepções sobre Estupro e Aborto Previsto por Lei foi realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva. Participaram do estudo online 2 mil pessoas, com 16 anos de idade ou mais, entre 1º e 14 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

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