São Luís – Um dia após a decisão de relocação das bancas de revista e jornal do bairro Renascença II, os jornaleiros passaram mais uma manhã sem poder realizar suas vendas pela impossibilidade de mover as bancas para o espaço temporário disponibilizado para o grupo. O novo local temporário, localizado na Rua dos Sapotis, ao lado de uma lanchonete, estava inviabilizado com a presença de carros estacionados. O local deveria está isolado pela Secretária Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT).
Ao longo da manhã, as locações começaram a ser realizadas para o novo espaço com a presença da SMT e da Blitz Urbana, Contudo, mesmo com a locação, o espaço ainda precisa ser reorganizado e instalar energia elétrica, além da reconstrução das bases. De acordo com a Associação dos jornaleiros, algumas bancas saíram danificadas do processo. “A situação é crítica. Terminaram de fazer o translado de uma das bancas e o resultado é que ela ficou danificada. Seria importante saber quem vai cobrir essa despesa para realizar logo a mudança, pois não há nenhum apoio financeiro previsto”, informou a associação.
Luiz Henrique Costa e sua esposa Marlucia Aires foram um dos que tiveram sua banca danificada. Emocionados e chorando, o casal mostrou o resultado da tentativa de locomoção da banca. Os pisos foram quebrados e todos os produtos tiveram que ser retirados. “Não sabemos como vamos arcar com tudo isso e nem o que fazer”, desabafou Luiz Henrique. A banca de jornal é o principal sustento da família há mais de 20 anos.
Realocação
Já está na Vara de Interesses Difusos e Coletivos de São Luís, que tem como titular o juíz Douglas de Melo Martins, a ação de tutela provisória antecipada antecedente protocolada na tarde desta sexta-feira (16) pela Defensoria Pública do Estado que pretende obrigar o município de São Luís a realocar três bancas de revista retiradas de uma pequena área pública no bairro do Renascença.
A petição, assinada pelo defensor público Jean Carlos Nunes, do Núcleo de Direitos Humanos da DPE/MA, requer à Justiça tutela de urgência em caráter liminar, a fim de resguardar os direitos das donas das bancas permanecerem em atividade, em local próximo ao ponto onde os estabelecimentos funcionaram por cerca de duas décadas.
A ação solicita que as bancas sejam remanejadas para o estacionamento localizado em frente em Tropical Shopping, e que sejam providenciadas as devidas instalações elétricas necessárias para o funcionamento das mesmas, bem como a “adoção de medidas indispensáveis para a reparação dos danos estruturais causados” durante a remoção.
Em caso de descumprimento de uma ou mais determinações, a ação da DPE/MA sugere aplicação de multa fixada em, pelo menos, R$10 mil ao Município.
Sem vendas
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Leone de Jesus Mendes é dona de uma banca de revista há 20 anos, o seu único sustento. Ela conta que por dia costuma levantar em torno de mil reais com suas vendas, porém, com as bancas fechadas para a realização do translado, ela está sem seu sustento. “Sou viúva e mãe, preciso sustentar meus filhos e eu, e não sei como vou fazer sem trabalhar esses dias. Não sei quanto tempo vai levar esse processo e não sei o que fazer. Eu estou pensando em pedir um empréstimo e fazer logo essa mudança pois não posso ficar sem trabalhar e sem meu sustento”, contou Leone de Jesus, enquanto mostrava sua banca que estava vazia para a locação.
O Estado entrou em contato coma prefeitura para obter informações sobre possíveis projetos para amparar esses comerciantes, porém não obteve respostas até o fechamento desta edição.
A Associação dos Jornaleiros informou ao O Estado que está avaliando a realização de uma campanha, além de conversas com a Defensoria Pública Estadual para tentar chegar a um acordo e solicitar apoio ao grupo.
Caso Deodoro
As bancas do Renascença II não foram as primeiras de São Luís a passar pelo processo de relocação. Na Praça Deodoro, Centro, as famosas bancas de jornal e revista que habitavam o espaço por décadas, foram relocadas para a realização da revitalização do espaço. Com a promessa de que após as obras os jornaleiros poderiam voltar para o local, muitas ainda tentaram se manter aberta, mas, com o tempo, os locais foram fechando e hoje apenas duas ainda funcionam na Rua da Horta.
José de Ribamar Santos, mais conhecido como Seu Riba, é jornaleiro há 40 anos. A maior parte de sua jornada no ramo ele esteve na Praça Deodoro, porém, com a revitalização, ele foi um dos donos de bancas relocados para a Rua da Horta. Seu Riba conta que ao longo dos últimos três anos ele e outros jornaleiros estão tentando acordo para poder retornarem à Praça. “Já chegamos a receber autorização e voltamos por apenas um dia. Era uma sexta-feira a noite, no sábado apareceram umas pessoas me dizendo que eu deveria sair e que eram ordens superiores. Depois disso fomos a justiça outras vezes, mas até agora nada foi resolvido”, contou Seu Riba.
De acordo com um documento emitido pela Secretária do Estado da Cultura e do Turismo no dia 4 de agosto deste ano, as cinco bancas que ainda permaneceram abertas após a relocação deveriam ser mudadas para a Alameda Gomes de Castro e Alameda Silva Maia, que ficam em frente a Deodoro. Os jornaleiros alegam que o local é ideal devido a grande circulação de pedestre. Seu Riba conta que após a relocação suas vendas caíram e muitas outras bancas fecharam. “Muitos dos meus amigos fecharam, pois não tinham como se sustentar com a queda de vendas. Eu só consegui me manter porque tenho filhos que são formados e trabalham, mas não conseguiria sobreviver se meu sustento fosse apenas daqui. Eu apenas me mantenho porque sou apaixonado por isso. Sou jornaleiro há quarenta anos, é o que eu amo”, desabafou Seu Riba.
SAIBA MAIS
Redução de bancas em São Luís
De acordo com reportagem publicada em O Estado no último ano, em 2017 ainda existiam 55 bancas de jornais e revistas em São Luís. Contudo, em dois anos houve uma redução de 45% desses estabelecimentos em São Luís, não passando de 30 bancas em 2019. Segundo ainda o levantamento do O Estado, as bancas da capital maranhense apresentaram uma queda de 80% nas vendas, e com a relocação o cenário piorou.
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