Poderíamos aqui pedir para que seja propagado que se trata de fake news, mas antes vamos avaliar as dimensões do que é vital. Na década de 80 uma banda chamada Engenheiros do Havaí dizia que "a juventude é uma banda de uma propaganda de refrigerante".
Os roqueiros faziam uma crítica ao sucesso das bandas que se balizavam pela veiculação na mídia, algo parecido com os anúncios de margarina onde a família ideal só existe lá no horário nobre!
Já na vida real, sabemos que é falsa a idealização da família perfeita (composta por pai, mãe e filhos alegres e felizes), da infância como sendo o futuro do país, assim como da terceira idade sendo para todos a melhor idade.
Logo em cada fase da vida, temos questões íntimas e interpessoais que mostram as fragilidades e vulnerabilidades da nossa qualidade de vida. Contudo, preferimos publicitar atributos, que vendem e traduz ser saúde, mas não nos garante a dignidade e a valorização da diversidade em nossas vidas.
As características que fragilizam esta fase da vida devem ser analisadas para nortear a elaboração das metas das políticas públicas que estão vigentes, e principalmente, quando se trata da prevenção a automutilação e ao suicídio, por envolver além do ambiente familiar, a escola, o trabalho, a comunidade e os anseios da sociedade.
No Maranhão a juventude possui suas vulnerabilidades, dentre elas a taxa de frequência escolar, escolaridade, inserção no mercado de trabalho e o encarceramento. São os jovens as maiores vítimas de homicídios, acidentes de trânsito e violências presentes na ficha de notificação e investigação de autolesão. No período entre janeiro de 2019 a julho de 2020, se perfez em 1.868 casos, a maioria mulheres estudantes (1.304), tendo a incidência entre a faixa etária de 20 a 49 anos, sendo possível ainda notificar 1.000 casos em 2020 e na faixa de 15 a 19 anos, a soma de 499 casos de automutilações do Maranhão.
Na grande ilha de São Luís a SSP-MA infelizmente notificou 60 casos de vítimas de suicídio em 2019, e 33 no ano 2020 até 20 de junho, onde a prevalência são homens na faixa etária entre 20 a 29 anos, seguido por pessoas entre 30 a 39 anos.
É por estarmos cientes de tais necessidades que sugerimos projetos comuns que possam cuidar para educar, assim como educar para cuidar das vulnerabilidades cíclicas que perduram prejudicialmente no desenvolvimento integral de todas fases.
Por exemplo, o que esperar de uma gravidez indesejada na adolescência, de um casal de estudantes do nível médio, ou do consumo de álcool e outras drogas por grupo de pré-vestibulandos sem perspectiva alguma de emprego? Ou daquele que já vivia isolado por sofrer de bullying devido ao preconceito racial, religioso, de sua autoimagem ou orientação sexual, se apequena ainda mais em tempos de Covid-19 e diz que em terras de gigantes "Eu não quero ver meu rosto antes de anoitecer. Pois agora lá fora, o mundo todo é uma ilha".
É conflituoso o trecho musical, mas traduz o desespero psíquico do jovem que transforma sua dor emocional em física e, assim, encontra alívio no ato e compulsão pela autolesão. De quem é a responsabilidade, quem deve cuidar, quem deve dar notícias e endereçar o sujeito que sofre, lá se explicará o sentido da felicidade?
O sucesso da boa nova, neste contexto, se produzirá quando deixarmos de trabalhar as temáticas isoladamente, e passarmos a compartilhar os saberes intersetoriais, possibilitando a potencialidade dos fatores de prevenção, proteção, cuidado, vigilância em saúde, qualificação, autonomia e empoderamento deste ser integral, favorecendo a sua participação social na quebra dos tabus sociais.
Ruy R. M. Cruz
Psicólogo da Escola de Saúde Pública - SES/MA
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