SÃO LUÍS - Acidentes envolvendo caravelas são comuns em São Luís, principalmente neste período do ano, segundo o Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMar), 27 ocorrências já foram registradas, somente em 2020, lembrando que esse dado ainda não foi atualizado com os números do feriadão, a tendência é que essa contagem sofra um aumento de 50%, de acordo com o Major Lisboa, comandante do GBMar. Já em 2019, a quantidade de envenenamentos por caravelas chegaram a 63, no total.
Jorge Luiz Silva Nunes, do Laboratório de Organismos Aquáticos – Departamento de Oceanografia e Limnologia, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), conversou com a reportagem, nesta quarta-feira, 9, e explicou alguns pontos importantes, o primeiro deles, é que o termo correto é envenenamento, e não queimadura, como comumente é chamado o ferimento provocado pelas caravelas. “Queimadura não é o termo correto. Há alguns anos o envenenamento era chamado de queimadura pela sensação de ardência. Depois passou a se chamar de queimaduras biológicas, como acontece com urtigas. Mas, queimadura é uma ação física e o que ocorre com as caravelas e a urtiga são envenenamentos. Então a cnida, que é o conteúdo do cnidócito penetra a pele e lá despeja seu veneno”, afirma.
O que são?
As caravelas são animais conhecidos como Cnidários e possuem baixa complexidade de estruturas corporais, ficando a frente apenas das esponjas quanto a este quesito. Caravela é o nome popular da espécie Physalia physalis, que possui distribuição circum-tropical, portanto é possível encontrá-la na zona tropical do planeta. Aqui no Brasil é muito comum no nordeste. O professor Jorge Nunes, conta que as caravelas recebem esse nome em alusão as embarcações do período das grandes navegações. “O sistema de propulsão é o mesmo e envolve uma incrível performance que daria inveja a muitos navegadores. Este ponto possui características muito interessantes, principalmente para nós maranhenses”, ressalta.
Jorge, expõe que o litoral maranhense está em uma grande faixa tropical que possui a ação de duas variáveis importantes para a movimentação das caravelas. “As correntes marinhas e vento. É comum acompanhar nos noticiários a previsão do tempo, ainda mais sobre a influência da Zona de Convergência Intertropical que promove as atividades climáticas na região. Quando a ZCIT está sobre o continente temos chuvas e quando se afasta temos a estiagem, junto com a estiagem temos a ação dos ventos que começam aqui a partir de junho-julho, e seguem até o início das chuvas na metade de dezembro. Além disso, temos as correntes marinhas atuando no mesmo período, visto que as correntes também dependem dos ventos. Portanto, mais vento e mais velocidade nas correntes resultam em mais caravelas nas praias”, diz o professor. Ou seja, as caravelas estão presentes o ano inteiro no Maranhão, mas no segundo semestre a ocorrência é maior devido ao vento e as correntes marinhas.
Banhistas
Em uma rápida caminhada pela orla da praia, é possível avistar uma quantidade expressiva dos animais, com uma coloração diferenciada, logo chamam a atenção das crianças, no entanto, os irmãos Davi e Mateus, de 11 e 10 anos respectivamente, que aproveitavam um passeio com o pai, Fábio Oliveira, sabem dos riscos das caravelas. “Eu mesmo tava com medo de entrar no mar, por causa delas”, fala Davi. O pai brinca, dizendo que o filho é um fiscal de caravelas. “Nunca aconteceu nada, a gente observa eles”, pontua Fábio.
Ruth Lamar, que também aproveitava a praia do Calhau, nesta quarta-feira, e conta que somente no feriadão, presenciou quatro pessoas se acidentando com Caravelas. Fernanda Lamar também comentou a situação. “Semana passada eu vim pra cá, e fiquei avisando, porque tava cheio de crianças”. O professor Jorge Nunes faz um lembrete. “Como se trata de uma espécie venenosa é sempre bom ter cuidado, mas as atenções devem ser redobradas quando as crianças estão na praia. A caravela possui uma coloração muito atrativa e as crianças são curiosas, sabemos muito bem no que resulta esta combinação quando o assunto é caravela.”
O ideal, quando um banhista avistar o animal na areia da praia é colocá-lo de volta no mar, mas isso deve ser feito com cuidado, e nunca por crianças. “Quando você olha uma caravela no mar é muito possível que veja apenas a vesícula de flutuação. Os tentáculos não ficam à vista e isso é um perigo, porque pode estar muito próximo. Se a caravela estiver na areia, seria bom devolver ao mar, mas sempre usando alguma proteção para evitar o contato direto com o corpo”, explica.
Recomendações dos Bombeiros
A primeira recomendação é evitar o contato com a caravela. “Se o contato for realizado acidentalmente, principalmente por crianças, que acabam tendo curiosidade, então, a gente recomenda que procure o Corpo de Bombeiros, para realizarmos um procedimento padrão”, frisa o Major Lisboa. Esse é a segunda recomendação, no caso do envenenamento por caravelas, esse método, que o Major Lisboa cita, nada mais é do que a limpeza do ferimento com vinagre, que é uma técnica orientada pelo Ministério da Saúde.
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“Provoca um alívio na dor de forma imediata”, completa. Outra opção, é a própria água do mar, no entanto, não é recomendado que água doce seja colocada sobre o ferimento. No geral, a pessoa que se feriu, pode ir para casa, após o ocorrido. “Em casos raros, em que a pessoa tenha uma alergia, ou um contato maior com os tentáculos da caravela, a gente precisa sim buscar atendimento médico”.
SAIBA MAIS
Sintomas: a médica da Família, Rosana Castello Branco em entrevista a O Estado, fala dos principais sintomas. “Geralmente, os sintomas são dor latejante, de leve a moderada, pele vermelha (hiperemiada) e irregular, edema, e raramente algum envenenamento com as toxinas podem causar problemas alérgicos, respiratórios ou cardíaco, caso ocorra, é considerado como grave, e necessita de internação.
Quando procurar um médico:
– Dor muito intensa
– Acometimento de olhos e mucosas
– Lesões avermelhadas e difusas pelo corpo
– inchaço nos olhos, ou boca
– sensação de falta de ar
– sensação de desmaio, ou fraqueza
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