Com o objetivo de falar sobre o “Centro Espacial de Alcântara e os desafios da Indústria Espacial Brasileira”, a Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA), por meio do Grupo de Trabalho - Pensar o Maranhão, coordenado pelo Diretor Luiz Fernando Renner que também preside o Conselho de Conselho Temático de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico da FIEMA promoveu na tarde da última terça (14/07), uma reunião on-line com o presidente da Visiona Tecnologia Espacial S/A, João Paulo Campos.
Para o presidente da FIEMA, Edilson Baldez das Neves que abriu a reunião, o Centro Espacial de Alcântara é estratégico para o desenvolvimento do Estado do Maranhão. “Observamos a Base de Alcântara como um dos pilares estratégicos. Não podemos pensar no Estado deixando de lado ou excluindo a nossa Base de Alcântara ou excluindo o nosso Porto do Itaqui. Esse grupo de trabalho é aberto e visa contribuir com informações para promover o desenvolvimento do Maranhão e esse fórum de trabalho, busca exatamente dessa forma debater e construir isso”, ressaltou Baldez.
Já em sua fala inicial, o presidente da Visiona, João Paulo Campos apresentou a primeira empresa brasileira integradora de sistemas espaciais, resultante de uma iniciativa única do governo brasileiro de estimular a criação de uma empresa integradora na indústria espacial e detalhou como vê o impacto desse empreendimento para o Maranhão.
“Nós somos uma joint-venture entre a Telebras, empresa de economia mista do setor de telecomunicações, e a Embraer, empresa privada líder nos setores aeroespacial e de defesa, criada em 2012, focada no espaço, até aqui não fazemos lançamentos, trabalhamos da criação de um satélite até a utilização de aplicativos, sendo uma das ações prioritárias para atender aos objetivos e às diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE) e da Estratégia Nacional de Defesa (END) e do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE)”.
A empresa foi a responsável pelo programa do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas, o SGDC, e é líder no mercado brasileiro de sensoriamento remoto orbital. Atualmente, a Visiona está desenvolvendo o VCUB, o primeiro nanossatélite nacional, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2020. O VCUB estará equipado com uma câmera de alta resolução e qualidade radiométrica voltada primariamente para os mercados agrícolas e de proteção ambiental. A missão permitirá o desenvolvimento e validação de tecnologias espaciais pela VISIONA e seus parceiros, com destaque para os sistemas de navegação, guiagem e controle (AOCS), de supervisão de bordo (OBDH) e de rádio definido por software (SDR) concebidos pela VISIONA, as principais lacunas tecnológicas da indústria espacial brasileira.
“O nanossatélite VCUB, é um marco no processo de desenvolvimento do primeiro satélite projetado pela indústria nacional. Apesar do tamanho, o VCUB é um sistema bastante sofisticado, com soluções complexas e de alto desempenho. Seu principal objetivo é desenvolver e validar a arquitetura do satélite e as delicadas tecnologias de controle de órbita e atitude, além de gestão de dados de bordo para que possam ser usados em futuras missões do Programa Espacial Brasileiro. Servirá para validar tecnologias espaciais voltada primariamente para os mercados agrícolas e de proteção ambiental. Adicionalmente, o satélite também contará com um sistema de coleta de dados capaz de servir o mercado de Internet das Coisas (IoT) em localidades com pouca infraestrutura, além de servir para aplicar seus conhecimentos e tecnologias em agricultura, geotecnologias, automação, sistemas de tecnologia da informação (TI) aplicados à agricultura e inovação”.
KOUROU – Falando um pouco mais sobre o setor aeroespacial da Guiana, João Paulo apresentou dados sobre o Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, que impacta positivamente com benefícios econômicos e sociais à cidade de Kourou e a população do território guianês.
“O PIB da Guiana é em torno de 4 bilhões de dólares. O PIB per capita da Guiana é provalvemente o mais alto da América do Sul. A base de Kourou é responsável por isso, 25% do PIB é em função da base. Eles não estão se referindo ao dinheiro colocado na Base em si, mas os impactos indiretos desse investimento. Durante os últimos 13 anos, de um total de 13 bilhões de compras, quase metade (50%) são para manutenção da base. O Maranhão, na minha visão, tem condições de recuperar sua infraestrutura e fazer a operação comercial da base. E o mais importante é que esse dinheiro fica na região. Kourou serve de inspiração para o que se deseja para Alcântara e o Brasil, aumentará suas perspectivas de ingressar no limitado grupo de países lançadores de satélites para o mercado mundial a partir do próprio território, e com a vantagem de ter a localização mais privilegiada do mundo. O Centro de Alcântara pode iniciar um cluster para o Brasil na área de engenharia aeroespacial”, destacou João Paulo.
VANTAGENS - Em termos comparativos, o Centro Espacial de Alcântara possui características únicas como a localização privilegiada dos sítios disponíveis, a aproximadamente 2º18’ a sul do equador; proximidade do mar, o que possibilita lançamentos em órbitas polares e equatoriais; baixa densidade demográfica; ausência de incidência de terremotos e furacões; baixa densidade de tráfego aéreo; e localidade ideal para lançamentos sob demanda (responsive launches), entre outras. Além do lançamento, um outro grande nicho de mercado na indústria aeroespacial são o desenvolvimento de softwares e aplicações.
CHAMAMENTO PÚBLICO - A discussão sobre os desafios da Indústria Espacial Brasileira pela FIEMA vem de encontro ao Chamamento Público da Agência Espacial Brasileira (AEB), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), com a finalidade de promover o desenvolvimento das atividades espaciais de interesse nacional para identificar empresas (nacionais e internacionais) que tenham interesse em realizar operações de lançamentos orbitais e suborbitais, utilizando o Centro Espacial de Alcântara (CEA), no Maranhão, que foi aberto no último mês de maio.
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Para o Coronel Aviador e Diretor do Centro Espacial de Alcântara (CEA), Marcello Corrêa, que participou da videoconferência, o chamamento público fará com que o Brasil inicie as atividades espaciais não-militares e torna-se a janela de acesso ao espaço no hemisfério sul.
“Esse tema é de grande interesse para o CEA nesse momento em que estamos oferecendo o Centro para o lançamento não militar e estamos aguardando essa finalização em relação as empresas que operariam com a gente”.
O coronel enfatizou que o que falta ainda para o Maranhão é o ensino de alta qualidade como chegou em São José dos Campos por meio do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). “Focar na parte universitária na engenharia aeroespacial, é o que estamos tentando fazer. A comparação com Kourou é verdade e nos espelhamos no exemplo da cidade da Guiana e, da mesma forma, acreditamos que toda a parte do suporte ficará com o CEA, mas à medida que as parcerias forem acontecendo vamos precisar expandir esse suporte. Falamos de transporte, hotel, restaurante, tudo isso vai ter que ser ampliado e é importante para a economia do Estado que vai aumentar muito e vejo que nesse momento a economia vai ser diretamente afetada em relação ao desenvolvimento do Centro”.
VALOR DE MERCADO – De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os lançamentos comerciais de satélites, movimenta bilhões de dólares por ano. Apenas em 2017, foram US$ 3 bilhões, US$ 500 milhões a mais do que no ano anterior, segundo dados da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos.
Estima-se uma média de 42 lançamentos comerciais de satélites por ano até 2026, o que torna o potencial de atração e geração de negócios em torno do Centro Espacial de Alcântara.
“O Brasil tem que aproveitar esse momento e entrar no mercado de lançamento de satélites. Não podemos ficar só observando essa fase passar!”, destacou o presidente da Visiona.
O professor da Escola Superior de Guerra do Rio de Janeiro, Ronaldo Carmona ressaltou que o país precisa ter um segundo polo da indústria espacial. “Não podemos nos bastar a ter um único polo em São José dos Campos. Alcântara tem potencial para capitanear essa parte mais complexa e ser uma nova São José dos Campos. O Maranhão precisa buscar por meio de uma estratégia de política industrial que não é só obviamente afeita ao Governo do Estado, uma estratégia que consiga capturar, portanto uma parte dessa industrial espacial no ponto de vista de um segundo polo!”.
“A palestra foi esclarecedora e até um pouco didática e isso vai trazer frutos para o nosso Estado. Foi uma forma de conhecer um pouco além do que se fala do CEA. O Grupo de Trabalho da FIEMA vem se debruçando sobre esse tema que é um extraordinário vetor de desenvolvimento. A FIEMA está aberta a sugestões de temas estratégicos em favor do Estado e agradecemos a participação não só dos membros do grupo mas principalmente dos nossos convidados especiais. Um agradecimento especial ao palestrante João Paulo Campos, de VISIONA, a quem desejamos muito sucesso em sua gestão”, finalizou o coordenador do Grupo de Trabalho da FIEMA, Luís Fernando Renner.
A reunião contou com a presença dos convidados: vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão, diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB, Cristiano Augusto Trein, presidente da EMAP, Ted Lago e assessor de Relações Institucionais da AEB, André Barreto, além dos membros efetivos do Grupo de Trabalho da FIEMA, do presidente da Federação, Edilson Baldez, do coordenador Luís Fernando Renner, do consultor da FIEMA e ex-governador do MA, José Reinaldo Tavares, do professor da Escola Superior de Guerra do Rio de Janeiro, Ronaldo Carmona, ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e professor da UFMA, Allan Kardec Barros, do secretário de Estado da Industria e Comércio, Simplício Araújo, dos diretores da Grão Pará Multimodal (GPM), Paulo Salvador e Nuno Martins, o diretor do CEA, Cel. Marcello Corrêa, do coordenador da Unid. Reg. de Alcântara da AEB, Huxley Bruno M. Batista, da relações institucionais da Vale, Giselly Pinto, do pró-reitor da Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-Graduação e Internacionalização da UFMA, Fernando Carvalho Silva, do coordenador de Ações Estratégicas da FIEMA, José Henrique Polary e do superintendente da FIEMA, César Augusto Miranda
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