São Paulo - Chegou o segundo dos três EPs que formam o “Trio Acústico” dos Titãs, onde repassam quatro décadas de carreira entre grandes sucessos, canções Lado B e reengenharia de arranjos e interpretações no núcleo de obras com assinatura titânica explícita. Compõem o EP 02, lançado pela BMG, oito músicas que abrangem os 20 anos inicias da carreira da banda.
“Nosso critério para montagem do repertório foi parecido entre os três EPs - sucessos, músicas que tocamos sozinhos e outras que tocamos até em quinteto (com Mário Fabre na bateria e Beto Lee no violão) para que todos os lançamentos fossem proporcionais, tivessem novidades e coisas interessantes”, diz Sérgio Britto, que alterna entre vocais, piano e baixo.
“Dividimos as músicas tentando manter em cada um dos EPs o espírito do show. Mas no estúdio as músicas acabam ganhando outra dimensão”, completa Tony Bellotto, dono das seis cordas de violão, guitarra e variantes, além de assumir também vocal. Completa o trio Branco Mello nos vocais, baixo e violão.
O resultado é, novamente como dita a cartilha do grupo desde 1982, surpreendente. Comporta hits que pareciam quase intocáveis até versões repaginadas de canções que nas versões originais nos fazem pensar como igualmente não entraram em rotação maior em rádios e outros meios de comunicação.
Uma dessas é a que abre o EP, “Enquanto Houver Sol”. Ela teve seu destaque quando lançada em 2003, no álbum “Como Estão Vocês?”, mas aqui com protagonismo de piano e violão alcança o status de algumas das mais belas canções do grupo no formato, qual “Epitáfio”.
“Toda Cor” também traz essa característica com o belo arranjo de cello e violão sobre canção do álbum de estreia do grupo, de 1984, que na original trazia a então sonoridade oitentista e new wave de teclado. Marca também homenagem aos dois saudosos titãs compositores da canção, Marcelo Fromer e Ciro Pessoa. O último faleceu em maio, no meio da pandemia.
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“Go Back” é outra que acompanha o grupo desde o debute. Registrada como reggae no primeiro disco, fez sucesso encorpada como dub no trabalho ao vivo que carrega seu nome, no final dos 80, e no acústico atual ganha letra em espanhol e citação a “Stir it Up”, de Bob Marley.
"Neste EP, algumas canções ficaram especialmente diferentes. São os casos de 'Toda Cor', que gravei em voz e violão, 'Polícia', numa versão bem vazia com o Tony cantando, 'Televisão', que ganhou nova versão acústica, e 'Homem Primata', um ska com pegada rítmica bem crua e direta", dá um certo spoiler Branco Mello.
“Televisão”, que batizou o segundo disco da banda, de 1985, produzido por Lulu Santos, toma, conforme as palavras de Branco, rumo oposto ao esperado. A new wave do bordão: “Ô, Cride, fala pra mãe” ressurge mais roqueira na guitarra de Bellotto.
Já “Nem 5 Minutos Guardados” conserva a melodia da original (do “Acústico MTV”, de 1997) sob camadas de cello, flauta e clarinete, com piano tomando a frente dos violões.
A trinca final é pinçada do raivoso “Cabeça Dinossauro”, de 86. O hino “Polícia” incorpora percussão e saxofone ao espírito punk roqueiro da original, além de marcar performance vocal do autor, Tony Bellotto. “Pra mim foi uma surpresa ver a música ganhar a presença de sax e percussão. É revigorante ouvir um hino elétrico como Polícia com uma roupagem acústica e inusitada”, diz Bellotto.
A originalmente roqueira “Homem Primata” veste figurino ska com guitarra limpa, enquanto “Bichos Escrotos” mantém a marca característica do refrão como em grito de guerra, mas em performance de violão, bateria, piano, levadas de guitarra e baixo. No minuto final ela entrega o entrosamento que os traduz nestas quatro décadas com uma jam vigorosa. Praticamente um aviso de “cenas do próximo capítulo” até que chegue a parte final desta obra tríptica.
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