Entrevista

"Consórcio mistura bolsonaristas e dinistas", diz Franklin Douglas

Pré-candidato do PSOL tem visão crítica das gestões de Edivaldo, Dino e Bolsonaro, e quer partido dialogando com a sociedade, não com o gueto

Gilberto Léda

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
(Franklin Douglas)

O professor Franklin Douglas, pré-candidato do PSOL à Prefeitura de São Luís, afirmou em entrevista a O Estado não ter dúvidas da existência de um consórcio de candidatos apoiados pelo Palácio dos Leões nas eleições deste ano na capital – algo que vem sendo veementemente negado pelos pré-candidatos ligados ao governador Flávio Dino (PCdoB).

Segundo ele, o “colegiado” de candidatos é composto não apenas por membros da base esquerdista do governo, mas até por filiados a partidos da base de sustentação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“É consórcio dos Palácios, La Ravardière e dos Leões, onde o contemplado não é o povo”, destacou.

Formado em Comunicação, Direito, mestre e doutor em Políticas Públicas pela UFMA, Franklin Douglas tem 47 anos e deve ser lançado em breve como o nome do seu partido, após uma malsucedida tentativa de formação de uma frente de esquerda, com PT, PCdoB e PCB.

“Buscamos PT e PSB para uma frente de esquerda para São Luís. Fizemos essas sinalizações, desde o segundo turno das eleições de 2018, com o voto em Haddad, passando pela campanha Lula Livre, as mobilizações a favor da Previdência Pública, contra a Reforma Trabalhista e na oposição ao desastre que é o governo Bolsonaro. Não obtivemos retorno. Ao contrário, o PT sinalizou a escolha entre as pré-candidaturas do PCdoB, Republicanos ou Solidariedade, estes dois últimos, inclusive, partidos de sustentação do governo Bolsonaro. O PSB bateu martelo em projeto próprio de candidatura”, destacou. Já o PCB decidiu, em congresso nacional, não disputar eleições.

Douglas tem visão crítica sobre as gestões do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT), do governador Flávio Dino e do presidente Jair Bolsonaro. E diz que topou o desafio de ser candidato com a condição de que o PSOL dialogue com a cidade, não com o gueto.

O Diretório Municipal do PSOL aprovou no mês passado, por ampla maioria, a proposta de lançamento e candidatura própria. Mesmo assim, o PSB, do deputado Bira do Pindaré, ainda tenta uma articulação para a formação de uma frente de esquerda com a participação de vocês. É possível uma reviravolta?

Permita-me, antes, que me apresente aos leitores d´O Estado do Maranhão, visto que, se for confirmado como candidato, talvez seja o menos conhecido dos postulantes. Sou Franklin Douglas, 47 anos, nascido e criado em São Luís, casado, tenho dois filhos, católico. Formado em Comunicação, Direito, mestre e doutor em Políticas Públicas pela UFMA. Todos certificados na Capes e registrados no meu currículo Lattes, com os diplomas! (risos). Do movimento estudantil do Marista e do DCE/UFMA a secretário adjunto de Trabalho e Renda do governo Jackson Lago (2007-2009), tenho feito uma opção de militância política no campo progressista, em defesa dos setores populares e pobres da sociedade. Pois bem, desejando que o leitor e a leitora desta entrevista estejam com saúde, protegidos do coronavírus, passo a sua pergunta. Buscamos PT e PSB para uma frente de esquerda para São Luís. Fizemos essas sinalizações, desde o segundo turno das eleições de 2018, com o voto em Haddad, passando pela campanha Lula Livre, as mobilizações a favor da Previdência Pública, contra a Reforma Trabalhista e na oposição ao desastre que é o governo Bolsonaro. Não obtivemos retorno. Ao contrário, o PT sinalizou a escolha entre as pré-candidaturas do PCdoB, Republicanos ou Solidariedade, estes dois últimos, inclusive, partidos de sustentação do governo Bolsonaro. O PSB bateu martelo em projeto próprio de candidatura. Então, quando dois não querem, um não casa. Dessa forma, a decisão de 82% do Diretório Municipal do PSOL foi por apresentar uma candidatura própria. Não há reviravolta nessa decisão. Inclusive, nesta eleição sob novas regras, todos os partidos são obrigados a apresentar seus candidatos majoritários se quiserem eleger seus vereadores. Então, a candidatura própria do partido é uma decisão também de sua chapa proporcional. Faremos a escolha de nossos majoritários e seguiremos o nosso caminho de propor um novo projeto para uma nova cidade. Um São Luís sustentável, inclusiva e moderna.

O PSOL conversa com outros partidos para uma possível aliança? Ou já decidiu que vai sozinho, sem possibilidade de apoios?

Como disse, tentamos. Inclusive buscamos o PCB. Mas o Congresso Nacional do PCB orientou seus diretórios a não disputar essas eleições. Não foi possível. Buscaremos agora é o diálogo com a cidade, ouvir a cidade, seus segmentos organizados e as pessoas que se disponham a opinar em nossa consulta pública, no site www.vumbora.org, onde perguntamos o que elas acreditam que precisa ser feito em São Luís para vivermos numa cidade melhor e sermos felizes aqui. Junto com os webnários, com a participação de técnicos e especialistas das áreas, vamos unir as duas opiniões e construir um conjunto de propostas para defendermos na campanha. Isso é novo. É construir de baixo para cima. Deixar a velha política para trás. Colocar as pessoas, o povo, em protagonismo no processo eleitoral. Isso assusta as velhas práticas políticas, e até mesmo em segmentos do campo progressista. Vamos, então, priorizar essa aliança com o povo, que é o maior protagonista da eleição.

Muito se tem falado sobre a existência de um “consórcio de candidatos” patrocinado pelo Palácio dos Leões. Como você avalia esse tipo de tática para a manutenção do poder na capital?

Há um consórcio nessa eleição que, inclusive, mistura os partidos que apoiam o governo Bolsonaro com os partidos que sustentam o governo Flávio Dino. O consórcio cujos candidatos falam em suposta independência, mas estão no partido da família Bolsonaro; e outros tentam se esquivar, mas todo o suporte político da candidatura está alicerçado nos partidos que dão sustentação ao governo Bolsonaro. É consórcio dos Palácios, La Ravardière e dos Leões, onde o contemplado não é o povo. E ainda, tem pré-candidato que quer o bônus do apoio da máquina municipal, mas não quer o ônus da mal avaliada gestão do prefeito. O mesmo vale para o outsider, também escondendo que está vinculado ao governo da extrema-direita. É o velho oportunismo achando que o povo é bobo e não perceberá essas incoerências. Política é discurso, tenho dito. E discurso é coerência, seriedade. A insustentável leveza desses consórcios desabará nos debates, nas redes sociais.

Existe alguma possibilidade de composição com candidaturas vinculadas ao projeto Flávio Dino/Edivaldo Holanda Júnior?

Seria incoerente não termos apoiado Holanda Júnior antes e, agora, em 2020, entrarmos numa aliança cuja gestão da cidade denunciamos e fazemos oposição. Como explicar o caos na saúde sendo do campo do prefeito? Cujo secretário municipal de Saúde diz uma coisa – fique em casa – e faz outra (foi passear na Litorânea), em plena pandemia? Cujo transporte está distante dos interesses da população, que não só não tem ônibus de qualidade para se transportar, como não tem sequer paradas para as pessoas se protegerem da chuva! De uma gestão municipal e estadual que não consegue garantir segurança nos ônibus. As pessoas têm que sair de casa já preparadas para um assalto. Igualmente com Flávio Dino. A entrega da Alcântara aos interesses estadunidenses, de Cajueiro aos interesses chineses, como bem disse o professor Boaventura dos Santos, em palestra aqui no Maranhão, é buscar servir a dois senhores. Não tem como dar certo. Então, se nos perfilamos numa frente democrática antifascista, o fazemos como óleo e água. Pela Democracia, nos juntamos, mas não nos misturamos. Na construção de uma cidade cuja gestão esteja voltada para sua gente, os projetos do PCdoB, junto com os Progressistas do Dep. Fed. André Fufuca, e do DEM de Neto Evangelista e ACM Neto, com o PDT de Edvaldo Junior, não coincidem com um novo projeto para uma nova cidade que o PSOL irá propor nestas eleições.

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Está mais difícil para a esquerda eleger seus líderes após tanta frustração com os governos Lula e Dilma?

Não. Ocorre que a direita que se diz liberal e democrática prefere vetar a esquerda, por mais light que seja, e votar na extrema-direita, colocando o Estado Democrático de Direito em risco, do que somar com a construção de uma civilização distante dos processos históricos que se comprovaram nefastos para o planeta, a exemplo do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália. Os erros do Lula, por exemplo, apostando numa governabilidade conservadora, ao invés da sustentação popular organizada, como bem avaliou Frei Betto, se repetiu com Dilma. Diversos setores do PT, inclusive, fazem essa autocrítica, mas a maioria do partido não deixa ela emergir. Então, pagam por esse erro. Mas algumas políticas dos governos do PT foram significativas na inclusão de amplas parcelas da classe trabalhadora, que Temer e Bolsonaro, de imediato, priorizaram em seu governo, desmontar. O povo já percebeu a enrascada que entrou. Não à toa rejeita o governo. Quero ver os pré-candidatos do Bolsonaro defende-lo abertamente em São Luís, junto à população que perdeu seus entes para o coronavírus, que não tem emprego, não conseguem acessar o auxílio emergencial, os pequenos lojistas com seus empreendimentos parados...

O que o PSOL tem de diferente para apresentar aos ludovicenses, caso consiga eleger o prefeito da cidade?

Quando consultado se eu topava ser o nome do partido para a disputa, deixei claro. Topo, desde que não falemos para o gueto. Dialoguemos com a cidade. Não sejamos os profetas do caos. Mas, com equilíbrio, sensatez, portadores de uma nova proposta para a cidade, que supere o que deu errado em 32 anos de PDT e resgate o que deu certo. Vamos ouvir a cidade, para que esse projeto não seja do PSOL, mas da cidade. Como disseram os nossos convidados nos webseminários que estamos promovendo, a exemplo das pessoas com deficiência, “nada para nós, sem nós”. Participação, transparência na gestão e nos seus recursos, prioridades populares. Uma cidade nas mãos de nossa gente! Sustentável, inclusiva, moderna. Eis o ponto de partida de nossas propostas e debate com a ilha rebelde. O nosso diferencial, como diria o pensador italiano Antonio Gramsci, é buscar a construção uma nova cultura política para a cidade.


O PSOL propôs participação popular para a formação de uma plataforma de propostas. Seria possível atender a tantos anseios populares em um mandato apenas?

A plataforma é do movimento Vumbora, mais amplo que o PSOL, pois nele há também participantes não filiados ao partido. Nela, que o leitor, a leitora poderá acessar no www.vumbora.org, recolheremos as sugestões. Queremos São Luís como uma potência cultural e turística. Que gere empregos para sua população. Que escola funcione, o posto de saúde atenda de verdade. O orçamento de quase três bilhões e meio de reais dá para fazer muita coisa. Os recursos para a amortização da dívida, em torno de 121 milhões de reais, e pagamentos de juros e encargos, em 35 milhões, vão requerer de nós, de início, uma auditoria. Reorganizar a máquina para torna-la eficiente, também. Mas nem todas as demandas serão possíveis de dar conta em um único mandato. Eu seria leviano e estaria enganando a população. Não será essa nossa postura, caso seu seja confirmado o candidato do partido.

Qual avaliação você faz dos oito anos de mandato do prefeito Edivaldo Holanda Júnior?

Ruim. É um gestor que não tem gana, garra, ímpeto para administrar. Só pega no tranco. Muitas das vezes, e vimos isso nessa pandemia, o governador foi o prefeito da cidade. Fui o primeiro a escrever, aqui nas páginas d´O Estado, um plano emergencial para o combate ao Covid-19. Elaboramos no movimento Vumbora quase 20 propostas. Uma delas: recorrer a uma parceria com Wuhan, primeira cidade chinesa onde iniciou a pandemia. Para pedir, com coirmã que São Luís é de Wuhan, ajuda em materiais, respiradores. Temos um acordo firmado entre as duas cidades. A Prefeitura foi incapaz de articular-se com Wuhan. Escrevi aqui também, até inspirado no filme “O Poço”, o artigo “Distribuir máscaras à população, óbvio!”, apontando o rumo da prevenção. A prefeitura fez muito tempo depois uma ou outra ação. A secretaria de Cultura sequer tem sede... ainda deve produtores culturais. E assim o é pelas demais áreas, salvo raras exceções.

E dos quase seis anos do governador Flávio Dino?

Um governo classicamente social democrata, com sensibilidade social aguçada, mas sem compromisso com um horizonte que supere a estrutura oligárquica que demarca a política maranhense, de Benedito Leite a Sarney, passando por Vitorino Freire. O que virá depois de Dino no governo? Não tivesse errado no primeiro dia de governo, na organização do sistema de saúde, por exemplo, não estaria em apuros agora. Não fez concurso para a saúde. Optou pelas organizações, pela precarização dos contratos de trabalhos, condições difíceis para o trabalho dos médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas...

O PSOL faz forte oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Qual sua avaliação pessoal da atual gestão federal?

Péssima. Um governo que não consegue nomear um ministro da Educação que preste. Não consegue fazer um ENEM. Que tem a universidade como inimigo. Baseado em fakenews, beligerante. Incapaz de dialogar com a sociedade. Que levou o país a um caos econômico. A agenda do Guedes não trouxe empregos, ao contrário, ampliou o desemprego. Como avaliar bem um governo deste? Toda frente que se proponha para defender a Democracia e defender o impeachment desse governo, estaremos juntos. É nosso papel histórico. A defesa do legado da luta de Marielle Franco, de Wagner Baldez. Do posicionamento coerente de Guilherme Boulos, Marcelo Freixo. Daqueles que sonham em mudar essa cidade. Com nossa bancada de 2 a 3 vereadores atuantes, como Belo Horizonte, com o mandato da Juntas, do mandato coletivo em São Paulo. Como diz o Leminski, o poeta do haykai, nesta eleição não brigarei com o destino, o que vier, assino. Estou preparado para levar as melhores propostas e, se assim a cidade quiser, pronto para administrar nossa querida São Luís!

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