Reverência

Homenagem ao São João do Maranhão com imagens, poesia e música

Vídeo destaca a beleza, emoção e riqueza da cultura popular do estado em reverência ao bumba meu boi

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

SÃO LUÍS-Fotografia, música e poesia. Três vertentes artísticas para celebrar a maior manifestação da cultura popular do Maranhão, o bumba meu boi, patrimônio cultural imaterial da humanidade. O resultado é um vídeo emocionante que reúne fotografias de Márcio Vasconcelos, poema de Celso Borges e música de César Nascimento. A edição é de Vinícius Vasconcelos. O trabalho é um alento para os amantes do São João do Maranhão, em um ano atípico, no qual a pandemia de Covid-19 obriga o cancelamento das festas coletivas. O trabalho está disponível na internet e pode ser visto nas páginas do Instagram (@marcio_vasconcelos_foto) e Facebook (www.facebook.com/marcio.vasconcelos.75).

A ideia do vídeo foi do fotógrafo Márcio Vasconcelos. Ele, que prepara um livro em homenagem ao título do bumba meu boi como patrimônio cultural imaterial da humanidade, a ser lançado no pós-pandemia, pinçou de seu enorme acervo as imagens que conversam de forma harmônica com a música “Catirina e o mar”, de César Nascimento que fala sobre a personagem do boi em ritmo inspirado no sotaque de Pindaré (ou da Baixada) e com a poesia visceral de Celso Borges.

“Junho é o mês do ciclo do boi, que tem uma importância enorme no meu trabalho. Pela primeira vez na história, o boi foi privado de acontecer em suas festividades para os santos. Isto deixou um vácuo muito grande, com as pessoas sofridas com a ausência da manifestação. Por isto resolvi fazer uma celebração a estes grupos, buscando nos arquivos fotos antigas e atuais e que devem estar no meu livro em homenagem ao título do boi patrimônio da humanidade”, conta Márcio Vasconcelos.

Com as imagens selecionadas, o fotógrafo entrou em contato com o poeta Celso Borges que também assina os textos do livro e César Nascimento, que autorizou o uso da música. “Assim, encaixamos as três vertentes e as coisas casaram muito bem. O feedback das pessoas tem sido muito bom, ficam emocionadas com esta homenagem ao bumba meu boi, os mestres da cultura popular do Maranhão”, diz Márcio Vasconcelos.

Veja abaixo o poema de Celso Borges

Ê, BOI!

Lá vem

Lá vem

Os versos no vento voando

em terreiros, quintais e varandas

soprando zoadas de zabumba

velando bois, batuques e cazumbás

Lá vem

A lua acendendo a noite de pandeirões e vaga-lumes

Eis o reino do Boi e suas estrelas na testa

Sua ginga, apitos e toadas

Lá vem ele

cuspindo centelhas de luz nas fogueiras dos arraiais

Olha lá o miolo bailando

E Pai Francisco vestindo seu terno remendado

Olhali Mãe Catirina

Com seu vestido largo de chita

Lá vem as índias puxando o cortejo

Com suas penas e saias tão lindas

Lá vem o som dos maracás

E das matracas sagradas

E o coro do batalhão

Terreiro em transe

Ê, boi, te batizo jóia do povo

Te corôo rei do terreiro

Tu e teus pretos vindos de longe

Êta Boi danado!

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Socando o chão do Maracanã, Ribamar, Forquilha,

Floresta, Ivar Saldanha, Paço do Lumiar,

Fé em Deus, Coroadinho, Anjo da Guarda, Vila Embratel

Êta Boi bailando

Na Estrada da Vitória, Panaquatira

João Paulo, Bairro de Fátima, Caratatiua,

Vila Passos, Liberdade

Êta Boi da Maioba

que vagueia à beira do Rio São João,

há mais de 100 anos

Viva todos os bois da Ilha grande

atravessando o coração da cidade

com seus brincantes de penas, enfeites e penachos

rastros de fita, chocalhos, tambores-onça,

pandeirões, sotaques e guarnicês

Os Bois guerreiros e suas cantigas de pique

enfrentando contrário nas esquinas de São Marçal

Com seus amos de chapéus de palha recobertos de cetim

E um manto de nobreza bordado com guirlandas e flores

Salve os espíritos das florestas e dos quintais!

Lá vem João Câncio, Humberto, Mané Onça, Apolônio

Chagas, Sabiá, Zió, Chiador

Lá vem Leonardo, Lauro, Laurentino

Zé Alberto, Naiva, Donato, Zé Olhinho

Ê São João dos bois eternos, rogai por nós

Ô São Pedro, abre os portais do céu

para as águas de nossa alegria

Sopra, sopra e embala a manhã de teus molhados,

Sopra a barra do boi que se arrasta pelo chão

E ouve, então, o som de pés e mãos

Que faz a cidade tremer para sempre.

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