Violência

Facção ocupa Altos do Calhau e altera dinâmica do crime na Grande Ilha

Recentemente, uma facção ludovicense ocupou o Altos do Calhau, em São Luís, que era dominado por outra que se originou em São Paulo

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Pichação em residência na Portelinha com marca da nova facção (Pichação)

SÃO LUÍS - A dinâmica do crime organizado no Maranhão sofreu nova alteração. O ponto de tensão ocorreu no Altos do Calhau, bairro localizado na região metropolitana de São Luís/MA. A área era, até poucos dias, “fortaleza” de uma facção criminosa originária de São Paulo. No entanto, uma organização que surgiu na capital maranhense conseguiu, recentemente, ocupar a localidade, sem a necessidade de confrontos. Nos muros da Vila Conceição e Portelinha, novas pichações já foram colocadas em substituição às antigas.

Um policial militar ouvido pelo Jornal O Estado disse o que de fato aconteceu. De acordo com ele, ocorreu algo semelhante ao que foi registrado no início do ano passado, quando a facção paulista pediu ajuda do grupo local para retomar o Altos do Calhau, que havia sido perdido para o “Família do Altos”, projeto de um faccionado que fracassou. A ideia dele era reunir antigos membros da primeira organização criminosa do Maranhão, mas, inicialmente, sem nenhuma bandeira, que seria escolhida somente depois de um tempo.

Houve, então, a retomada do Altos do Calhau, em uma ofensiva de duas facções criminosas, sendo que muitos membros da paulista se exilaram na Ilhinha, na região do São Francisco. Como sabemos, o faccionado do projeto “Família do Altos” não suportou a pressão e fugiu da Grande Ilha. Ele foi preso em Zé Doca/MA pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) no segundo semestre de 2019. Devido às tensões que estavam ocorrendo na Vila Conceição e Portelinha, as forças policiais fizeram uma operação, que resultou na morte de oito faccionados, fato amplamente divulgado pela imprensa maranhense.

De lá para cá, as relações entre a facção ludovicense e a paulista estremeceram, culminando no fim da aliança entre os grupos, no final do ano passado. Até então, os da capital não tentaram invadir o Altos do Calhau, que começou a ser ocupado por criminosos de outros bairros, mas integrantes da organização que surgiu em São Paulo. Esses bandidos eram oriundos de comunidades como Vila Magril, Coroadinho, Vila Collier e Cidade Olímpica. A presença desses faccionados incomodou os que já eram “da área”, como informou o policial.

“Esses bandidos foram para lá após as perdas territoriais em outros locais da ilha e também para ‘fortalecer’ o Altos do Calhau”, pontuou o militar. De acordo com ele, os antigos membros do PCC perceberam que estavam perdendo terreno para os novatos. Esses que já estavam lá pretendiam manter uma “facção pura”, ou seja, sem influências externas. Com a chegada dos criminosos de outros bairros, esse projeto ficou comprometido.

Guerra entre subgrupos

A guerra entre os dois subgrupos parecia inevitável. Para agravar a situação, houve uma invasão na casa de um desses “puros”, que foi expulso pelos novatos e se refugiou junto à facção local. Esse conflito aconteceu na Portelinha, segundo observado pelo policial. Nesse intervalo, um membro da organização paulista foi até a Portelinha, para tomar satisfação com os mais novos, que tentaram matá-lo. Nessa confusão, ele foi baleado na perna. Quando o criminoso saiu de lá, teria feito uma ligação para um ex-comparsa, que estava na Ilhinha.

Porém, esse faccionado que estava na área do São Francisco impôs suas condições para resolver os conflitos: poderia até ajudar, mas somente se todos os bandidos do Altos do Calhau aderissem ao seu grupo, que iria “gerenciar” o local. Os antigos membros da facção paulista aceitaram a proposta, de acordo com o militar. Então, um comboio de bandidos saiu da Ilhinha e, durante a madrugada, chegou à Vila Conceição. “Nessa noite, invadiram a Portelinha e deram muitos tiros. Os novatos do grupo paulista fugiram. Mas, antes, foi dado um prazo para que se retirassem do local, como fizeram na Camboa. Com a saída do pessoal, houve uma reunião entre as facções, onde ficou estabelecido que a área iria ser, a partir de agora, da outra organização”, declarou o policial.

Segundo o PM, os veteranos do grupo paulista aceitaram a proposta porque preferiram aderir à facção ludovicense do que ficar no local e se submeterem às ordens dos novatos que vieram dos outros bairros. Ademais, havia uma desconfiança de que o subgrupo da Portelinha estaria conspirando junto com uma organização carioca. “O reflexo foi imenso na mancha criminal da Grande Ilha, pois os poucos faccionados que resistiam na Jota Lima, em São José de Ribamar, também aderiram ao grupo de São Luís”, assinalou ele.

O fato é que já há várias pichações novas nas paredes do Altos do Calhau. Com essa alteração na dinâmica do crime organizado, posso afirmar que o grupo paulista praticamente desapareceu na região metropolitana de São Luís. O termo“praticamente” significa que não é um processo completo, uma vez que a facção ainda é forte nos presídios, especialmente, no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, na capital maranhense. Se uma organização criminosa continua existindo no intramuros, isso representa a continuidade das atividades ilícitas.

A guerra urbana no Maranhão ainda está longe para terminar. O fim pode ser o início de um novo problema, pois a destruição de uma facção representa a origem de outra.

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