TEERÃ E DUBAI — O presidente iraniano, Hassan Rouhani, rejeitou ontem,15, a proposta de um novo acordo nuclear para substituir o atual, que foi assinado em 2015 e abandonado pelos Estados Unidos em 2018. Rouhani disse que a oferta é "estranha" e criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por sempre quebrar promessas.
Rouhani disse que Washington deve retornar ao acordo nuclear, sob o qual o Irã concordou em restringir suas atividades atômicas em troca da suspensão de todas as sanções internacionais contra o país.
Ao rechaçar a ideia de um novo acordo, Rouhani referia-se ao comentário feito pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, na terça-feira. Johnson sugeriu que o acordo nuclear iraniano de 2015 deveria ser substituído por outro proposto por Donald Trump, para garantir que Teerã, de fato, não obtenha uma arma atômica.
"Esse primeiro-ministro de Londres, eu não sei come ele pensa. Ele diz para deixarmos de lado o acordo nuclear e pôr em ação um plano de Trump", disse Rouhani ao abrir uma reunião ministerial, transmitida pela TV estatal. "Escolha o caminho certo, e o caminho certo é retornar ao acordo nuclear".
O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, também comentou o tema quando participava de uma conferência em Nova Délhi, na Índia. Zarif disse que o acordo de 2015 ainda está valendo, apesar dos anúncios iranianos de que reduzirá seu cumprimento, em represália às posições americanas. Segundo ele, a saída de Trump do pacto torna inúteis novas negociações com Washington: "Eu tive um acordo com os EUA e os EUA romperam esse acordo. Se eu tiver um acordo proposto por Trump, quanto tempo irá durar?"
Em sua conta no Twitter, o presidente americano repercutiu a sugestão de Boris Johnson, mas limitou-se a dizer que concordava com a ideia.
"Pressão máxima"
Desde que deixou o acordo nuclear, Washington voltou a impor sanções para sufocar as exportações de petróleo do Irã, como parte de uma política de "pressão máxima" sobre o país persa. Os Estados Unidos dizem que seu objeto é forçar Teerã a concordar com um pacto mais amplo, que estabeleça limites mais rigorosos para a atividade nuclear, restrinja o programa de mísseis balísticos e encerre as ditas guerras regionais "por procuração" — nas quais grupos aliados de Teerã agem contra os Estados Unidos.
O Irã diz que não negociará enquanto as sanções forem mantidas e, como resposta, tomou algumas medidas para reduzir o cumprimento do acordo. Em seu movimento mais incisivo, anunciou em 5 de janeiro que irá abandonar todas as limitações ao enriquecimento de urânio.
Reino Unido, França e Alemanha acusaram o Irã formalmente, na terça-feira, de violar os termos do pacto e reagiram ativando um mecanismo de disputa, o que poderia levar à reimposição de sanções da ONU contra Teerã. O Irã chamou esse movimento de "erro estratégico".
O Irã censurou as potências europeias por não resistir à pressão de Trump, nega qualquer intenção de construir armas nucleares e diz que o acordo voltará a vigorar plenamente se Washington suspender as sanções.
" Todas as nossas atividades estão sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)", disse o presidente iraniano.
Avião derrubado
No mesmo pronunciamento, Rouhani também reivindicou das Forças Armadas que "peçam desculpas" pela derrubada acidental do avião de passageiros ucraniano em 8 de janeiro e que "expliquem ao povo o que aconteceu" para que as pessoas entendam que "não querem esconder nada". Rouhani lançou ainda um apelo pela "unidade nacional" e por uma mudança radical na forma de governo do país após a tragédia, que deixou 176 mortos. A maioria é de origem iraniana e canadense.
Em um primeiro momento, as autoridades iranianas não reconheceram a responsabilidade no episódio. Após dois dias de desmentidos oficiais, as Forças Armadas iranianas reconheceram, no sábado, terem derrubado por "erro humano" o Boeing 737 da Ukraine International Airlines poucos minutos depois de sua decolagem de Teerã. O governo de Rouhani alega que foi informado do ocorrido apenas na sexta-feira, dia 10. A demora em admitir a culpa provocou protestos, liderados por estudantes universitários.
Referindo-se a uma série de acontecimentos "trágicos" ocorridos desde o início de janeiro no país — do assassinato do general Quassem Soleimani pelos EUA à catástrofe "inaceitável" do voo da Ukrainian Airlines —, Rouhani declarou que esse quadro deve levar a uma "grande decisão" dentro do sistema político iraniano. " E esta decisão importante é a reconciliação nacional", frisou.
Previstas para 21 de fevereiro, as eleições legislativas "devem ser a primeira etapa", declarou o presidente. Segundo Rouhani, as pessoas querem a garantia de que as autoridades as tratam com sinceridade, integridade e confiança.
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