Tensão

Presidente Trump ameaça ''destruir totalmente'' a economia da Turquia

Início da retirada das tropas americanas abre caminho para a ofensiva militar turca contra as milícias curdas. ONU afirmou que se prepara para o pior na região

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Veículos do Exército dos Estados Unidos passam por estrada no nordeste da Síria (Reuters)

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou ontem,7, "destruir" a economia da Turquia se o país fizer algo "fora dos limites" em suas operações na Síria.

"Como já afirmei antes, e apenas para reiterar, se a Turquia fizer algo que eu, em minha grande e inigualável sabedoria, considere estar fora dos limites, destruirei e obliterarei totalmente a Economia da Turquia (já fiz isso antes!), disse o americano em seu perfil no Twitter.

"Eles devem, com a Europa e outros, vigiar os combatentes e famílias do Estado Islâmico capturados. Os EUA fizeram muito mais do que se poderia esperar, incluindo a captura de 100% do califado Estado Islâmico. Agora é hora de outros na região, alguns de grande riqueza, protegerem seu próprio território. Os EUA são grandes!", escreveu Trump, na continuação de sua mensagem.

Operação

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou mais cedo,ontem, que o exército de seu país está pronto para iniciar a qualquer momento operações contra milícias curdas no nordeste da Síria. Os Estados Unidos, ao mesmo tempo, começaram a retirar suas tropas perto da fronteira turca, abrindo caminho para uma ofensiva militar e reavivando o temor sobre o retorno do Estado Islâmico à região.

"Há uma frase que sempre usamos: podemos chegar a qualquer noite, sem aviso", disse Erdogan.

Atualmente no controle da região, as Forças Democráticas Sírias (FDS), constituídas por uma aliança de combatentes curdos e árabes, disseram buscar a estabilidade, mas prometeram responder a qualquer ataque.

As FDS, que receberam apoio da coalizão internacional liderada por Washington, lutaram durante anos contra o Estado Islâmico e conquistaram em março seu último reduto na Síria, em Baguz.

A situação reflete uma mudança de estratégia por parte dos Estados Unidos, que abandona os curdos, que foram os principais aliado de Washington na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico. (leia mais abaixo)

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que se prepara para o pior na região norte da Síria. "Não sabemos o que vai acontecer (...) nos preparamos para o pior", declarou o coordenador humanitário da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Panos Moumtzis, em uma entrevista coletiva em Genebra.

'Limpar de terroristas'

A Turquia está decidida a "limpar" o norte da Síria de "terroristas" que ameaçam sua segurança, declarou o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu.

A Turquia classifica como "terroristas" as milícias curdas da Síria, por seus vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização curda que protagoniza uma guerrilha violenta no território turco desde 1984.

Aliados na Otan, Ancara e Washington concordaram em agosto com a criação de uma zona no norte da Síria, ao longo da fronteira turca, na qual a milícia curda YPG seria considerada uma organização terrorista ligada a insurgentes curdos internos. No entanto, a Turquia acusou os EUA de se mobilizarem muito devagar para criar essa zona.

Retirada americana

Na noite de domingo, o governo americano anunciou que a retirada permitirá à Turquia realizar "em breve" uma incursão militar "prevista há algum tempo no norte da Síria". A Casa Branca também informou que suas forças não apoiarão nem se envolverão nesta operação.

"As forças dos Estados Unidos, depois de derrotar o 'califado' territorial dos Estado Islâmico, não estarão mais na área imediata", afirma um comunicado divulgado pela Casa Branca.

Na manhã desta segunda, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança de combatentes curdos e árabes, anunciaram em um comunicado que as "forças americanas se retiravam das zonas de fronteira com a Turquia", ao mesmo tempo que a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) confirmou uma retirada das tropas dos Estados Unidos de posições importantes em Ras al Ain e Tal Abyad.

“É hora de sairmos dessas ridículas guerras sem fim, muitas delas tribais, e levar nossos soldados para casa. Lutaremos onde for para o nosso benefício, e somente lutaremos para vencer”, declarou o presidente Donald Trump nesta segunda em uma rede social.

A medida recebeu críticas mesmo de aliados de Trump. O senador Lindsey Graham, um dos congressistas mais próximos do presidente, chamou a decisão de retirar os militares de "impulsiva". "Abandonar os curdos será uma mancha na honra dos EUA", escreveu no Twitter.

"Estamos mandando o sinal mais perigoso possível – os EUA são um aliado não confiável, e é só uma questão de tempo para que China, Rússia, Irã e Coreia do Norte ajam de maneira perigosa."

Medo da volta do Estado Islâmico

Com a retirada das tropas da fronteira e o apoio à incursão turca, os Estados Unidos abandonam os curdos, que foram os principais aliados de Washington na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico durante a guerra da Síria.

As Forças Democráticas Sírias advertiram que uma operação turca provocaria o ressurgimento do grupo jihadista e acabaria com "anos de exitosos combates" contra os terroristas, uma declaração rejeitada por Ancara.

Alguns líderes do EI poderiam retornar, segundo as FDS, um cenário que também ameaçaria as prisões e os acampamentos que os curdos dirigem e que abrigam vários jihadistas e suas famílias.







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