Valor: Estamos vivendo um aumento nos índices de desmatamento e de queimadas, com grande repercussão internacional. Como chegamos até aqui?
Sarney Filho: Desde que o novo governo começou a dar declarações que fragilizaram a política de comando e controle ambiental, eu já previa que o desmatamento iria ficar desenfreado, como de fato está. A relação entre queimadas e desmatamento é muito clara na Amazônia: dificilmente os incêndios são espontâneos; a grande maioria é criminosa. O fato de os dez maiores municípios desmatadores também terem focos de incêndio dá conta desta vinculação direta. Quando o governo questiona o próprio Ibama, sinaliza que multas podem ser revistas, minimiza as unidades de conservação e prega a mineração e o plantio de soja em terras indígenas, ele fragiliza todo o pilar da política ambiental. Além disso, diminuiu recursos.
Valor: O que é necessário fazer, de pronto, para conter esse cenário?
Sarney Filho: Para começo de conversa, retomar os recursos. O orçamento do Ibama é minúsculo. É um órgão que precisa retomar seu respeito. E o governo ainda descartou o investimento milionário da Alemanha e da Noruega no Fundo Amazônia. Lógico que, com tudo isso, não poderia se esperar outra coisa. Tem que ter monitoramento eficiente, servidores bem remunerados, órgãos preparados, com recursos. Devem ser feitas parcerias com governos estaduais e com a Polícia Federal, cuja atuação está aquém do esperado no combate ao desmatamento ilegal.
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Valor: Se todos os órgãos ambientais funcionassem a contento, a situação seria outra?
Sarney Filho: Já é difícil conter o desmatamento com todos os órgãos funcionando adequadamente. À medida que o presidente fragiliza esses órgãos, ele fortalece o grileiro, o pecuarista ilegal, dando sinal verde para que tudo isso possa acontecer. Bolsonaro prejudica mais a política ambiental pelas suas falas do que pelas ações. As ações são ruins, mas as falas são piores. Os sinais, na questão do combate ao desmatamento são muito importantes. Se o próprio presidente dá sinais de desconstrução da política ambiental, ele incentiva o desmatamento, com todas as suas consequências.
Valor: Como o sr. avalia a competência das pessoas que hoje chefiam órgãos ambientais no governo?
Sarney Filho: Não gosto de citar nomes, mas Bolsonaro está cercado de conselheiros atrasados, ignorantes e, alguns deles, com interesse na ilegalidade. Ele ouve opiniões e reproduz uma série de ideias malucas, colocando o Brasil em situação vexaminosa. São pessoas que não têm tradição na área ambiental. Querem tirar proveito imediato de tudo. Estão chefiando postos-chave. São pessoas que não representam ninguém, não têm conhecimento técnico, mas feeling de negociante do século passado.
Valor: Que conselho o sr. daria ao governo sobre a política ambiental?
Sarney Filho: Ter vontade política. É importante que o ministro do Meio Ambiente [Ricardo Salles] e o presidente Bolsonaro tenham determinação política de conter o desmatamento da Amazônia. A maioria das queimadas é ilegal, é tirar madeira nobre, tocar fogo e colocar pasto para a atividade pecuária. É isso que está ocorrendo agora. Quem vai comprar carne proveniente de desmatamento ilegal na Amazônia? Vai prejudicar a economia. É uma percepção pública que até o agronegócio já sentiu.
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