A mortandade de milhares de sardinhas na cidade de Raposa/MA continua repercutindo e sendo objeto de análise para distintos especialistas. Para alguns, os animais morreram devido ao fato de terem migrado para área poluída nos igarapés da região. Mas, para o professor doutor Antonio Carlos Leal de Castro, do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), os peixes não resistiram, em virtude de um processo natural, ao fugir para os estuários.
Ouvido por O Estado, o professor Antonio Carlos explicou que as sardinhas (pertencentes à família Clupeidae) se deslocam em grandes cardumes para fugirem de predadores ou realizar desovas, dentre outros fatores. Ademais, é uma espécie forrageira, ou seja, serve de alimento para espécies de grande porte. Nesse sentido, de acordo com o docente, que tem doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo, os peixes saem das zonas costeiras para os braços de rios.
Nesse período de lua nova, no qual as marés são altas (enchem e secam rapidamente), as sardinhas acabam ficando presas, nesse processo de fuga natural, aos estuários, que são ambientes aquáticos em que há transição entre rio e mar, com influência das marés. Como migram em grandes cardumes, esses peixes morrem. A falta de oxigênio não é a causa disso, mas sim o efeito, nas palavras do professor doutor. Antonio Carlos Leal não acredita que a poluição das águas tenha provocado a mortandade, uma vez que, se assim fosse, outras espécies também não teriam resistido.
Outras análises
Outros especialistas no assunto também estão discorrendo sobre a questão, como o biólogo Jorge Luiz Silva Nunes, igualmente do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA. Para ele, as sardinhas procuraram um local mais raso para se protegerem de predadores e, nesse processo de fuga, morreram em pontos com bastante poluição, o que deixou os animais sem oxigênio suficiente para sobreviverem.
Ainda segundo o docente, existe uma explicação fisiológica para o fenômeno. Nesse aspecto, as sardinhas ficaram “restritas em um lugar produzindo calor e acabaram morrendo, porque são muito sensíveis”. O professor Jorge Nunes também não descarta a pesca de zangaria – considerada predatória por utilizar redes altas e quilométricas – como um provável fator que pode ter causado a mortandade dos peixes em Raposa.
Visita dos técnicos da Sema
Na manhã do dia 1º, uma equipe do Laboratório de Análises Ambientais (LAA), da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema), esteve em Raposa, após a repercussão do evento e muita reclamação da população. Na ocasião, segundo o órgão, foram feitas coletas e análises da água onde os peixes estavam, para posterior emissão de laudo acerca da situação. Os técnicos retiraram amostras, que foram encaminhadas para análises bacteriológicas e físico-químicas, e também estiveram nos locais para “identificar pontos de possíveis lançamentos irregulares de efluentes”.
Na tarde de ontem, em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) informou que, de acordo com as análises das amostras coletadas in loco pelo Laboratório de Análises Ambientais (LAA), foram constatados valores de Coliformes Termotolerantes em níveis elevados para a primeira amostragem. Os demais parâmetros preliminares, como pH e oxigênio dissolvido, apresentaram-se em níveis aceitáveis, segundo a resolução Conama Nº 357/2005.
A Sema comunicou que os Coliformes Termotolerantes são responsáveis pela biodegradação em ação conjunta com diferentes espécies de microrganismos, além de serem importantes decompositores da matéria orgânica. A elevação da carga microbiana se deu por causa da existência de grande quantidade de matéria orgânica na orla, como consequência da mortandade de sardinhas ocorrida há dois dias da realização da coleta e análises das amostras. A Sema reforçou que o relatório foi encaminhado para os setores responsáveis, para as devidas providências.
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SAIBA MAIS
FAMÍLIAS SOFREM
Diversas famílias estão passando dificuldades em virtude do que aconteceu em Raposa (em pontos como Porto do Braga, Carimã, Vila Laci e Jussara), pois sobrevivem da atividade pesqueira. As sardinhas são utilizadas como iscas para peixes maiores. Sendo assim, o fenômeno, de certa forma, afetou a renda dessas pessoas, que estão cobrando explicações do poder público e também providências, a fim de que a situação não ocorra novamente.
São vários os relatos dos pescadores e pescadoras com relação aos problemas enfrentados em decorrência da morte das sardinhas, algo que, quando foi descoberto, deixou a população de Raposa atônita, embora o fenômeno – que foi registrado no último dia 30 não apenas naquela cidade, como em São José de Ribamar - já tenha acontecido há alguns anos.
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