PARALISAÇÃO SUSPENSA

Funcionários da Caema deliberam por suspender paralisação de atividades

Partes chegaram ao consenso durante reunião na estatal ontem; termo aditivo de 30 dias deve decidir novo Acordo Coletivo de Trabalho; ideia de movimento grevista é cogitada

Igor Linhares

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

SÃO LUÍS – A Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) teve suas atividades paralisadas durante esta segunda-feira (24), em virtude do não cumprimento da diretoria ao Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) vigente. Pela manhã, funcionários que aderiram à paralisação de advertência, representados pelo Sindicato dos Urbanitários do Maranhão (STIU-MA), realizaram assembleia, em frente a sede da companhia na Rua Silva Jardim, no Centro de São Luís, para discutir continuidade do movimento – suspenso frente a posicionamento do Governo do Maranhão em reunião entre as partes ainda ontem.

Após reunião com a diretoria da estatal, representantes encaminhados pelo Governo do Maranhão e membros do sindicato, ficou decidido que os serviços retornariam, normalmente, ainda na tarde de ontem. A decisão foi firmada após os empregados garantirem um prazo de mais 30 dias para que haja uma negociação que estruture um novo ACT – período entre 30/06 a 30/07. Do contrário, a possibilidade de greve não é descartada.

“Devemos permanecer em nossos postos, uma vez que o Governo encaminhou seus representantes para dialogar com a categoria, junto da diretoria da Caema. Temos um prazo de 30 dias para definir um novo acordo que beneficie a todos os empregados, mas se até o fim do mês de julho não chegarmos a nenhum consenso, não ficaremos de braços cruzados. Se for preciso deflagar uma greve, nós iremos deflagrar”, frisou o secretário-geral do STIU-MA, Vaner João Almeida.

“Os trabalhadores deliberaram pelo fim da paralisação hoje [ontem], mas permaneceremos negociando com a empresa e, se nada for acordado nesse período, voltaremos a nos manifestar de tal forma”, complementou o presidente do sindicato, Fernando Pereira.

Motivação

A paralisação por advertência, adotada pelos empregados da companhia nesta segunda-feira, foi resultado das últimas duas contrapropostas apresentadas pelo Governo do Maranhão, o qual alegou não poder cumprir integralmente com o ACT vigente, uma vez que a estatal passa por uma crise financeira, tornando, assim, inviável dar permanência aos direitos trabalhistas, a exemplo mínimo de conceder a correção do salário pelo percentual de inflação atual, previsto em lei. Além deste, a direção da estatal retrocede ao acordo vigorante e propõe extinção do plano de saúde, o que dá manejo da categoria para atendimento no hospital do servidor e corte parcial no tíquete-alimentação.

“Eles querem retirar todo o conquistado em anos, e isso a gente não pode admitir. Retirar o plano de saúde e jogar os empregados para o hospital do servidor, vai ser muito ruim, pois se na rede privada a gente tem dificuldade em conseguir qualquer atendimento que seja, imagina na rede estadual, que tem uma demanda grande demais e nenhuma estrutura para dar o suporte que cada funcionário necessita”, declarou, indignado, o assistente administrativo do setor de obras da Caema, Josiel Ribeiro, de 60 anos. “E o pior, a direção ainda quer que a gente arque com metade do nosso tíquete-alimentação, sendo que nem o salário eles querem reajustar”.

Sangria na estatal

“A diretoria só fala em corte, em crise, assim como o Governo do Estado, mas eles esquecem que além de outros graves problemas que colocam a Caema no buraco em que ela está, existem os gastos desnecessários com os altos salários dos cargos comissionados, que nada mais são que cargos políticos. Ou seja, se o que a empresa desembolsa para pagar esses mais de 100 funcionários fosse poupado, certamente não haveria crise financeira, ou, pelo menos, não seria tão grave como é, e nenhum dos funcionários teria que abandonar um dia de trabalho para vir protestar por uma coisa que é direito nosso”, disse um funcionário que não quis se identificar.

Em consonância, o presidente do STIU-MA, Fernando Pereira, tornou a responsabilizar ao desembolso de mais de um milhão, utilizados para pagar os 108 funcionários comissionados, a crise da companhia. “Atualmente, se gasta mais de 1 milhão de reais com cargos comissionados, o que é um grande desperdício. Nós precisamos estancar essa sangria”, enfatizou. “Precisamos hidrometrar, recadastrar os consumidores e cobrar os municípios em débito com a Caema. Assim, alcançaremos uma receita mensal de, pelo menos, 40 milhões”. No atual momento, a companhia arrecada, mensalmente, cerca de 25 milhões – e opera no vermelho, segundo o sindicato.

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SAIBA MAIS

Realidade de estatal segundo STIU-MA

- Não cobra os poderes municipais: das 143 prefeituras, 101 não pagam a Caema, inclusive a de São Luís que deve R$ 96 milhões

- Não faz hidrometração: tem, nos almoxarifados, mais de 120 mil hidrômetros guardados e não instala, desde o Governo Roseana

- Não faz recadastramento dos consumidores: tem 65% de perdas. Desde junho de 2018, o Sistema Italuís aumentou a sua produção em 30%, mas o faturamento e a receita é a mesma de 2015

- 36 sistemas com faturamento suspenso por ordem judicial: a Caema não consegue reverter as suspensões de faturamento via justiça mesmo tendo 13 advogados e dois escritórios de advocacia externos contratados. Continua fornecendo água para estes municípios, sem ter nenhum retorno financeiro

- 108 cargos comissionados: mesmo tendo gente competente em seu quadro, a Caema não diminui os comissionados externos, o que representa mais ônus aos cofres da empresa, custando cerca de um milhão de reais

- Fornece água sem cobrar para empresa privada: desde o início de 2018 que a Caema não cobra a água que a BRK vende aos consumidores do Cohatrac, deixando de arrecadas quase R$ 300 mil por mês

- Importação de diretores: o Governo “importou” diretores de outros estados como São Paulo (diretoria administrativo-financeiro) e Mato Grosso do Sul (diretoria de operação), em detrimento do pessoal da casa, mas não se vê avanços na gestão

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