Dezenas de peixes são encontrados mortos na praia de São Marcos
Segundo estudiosos da área, os animais podem ter morrido por consequência de stress à turbidez da água; poluição é principal causa para que a água do mar seja cada vez mais escura e sem oxigênio
SÃO LUÍS - Dezenas de peixes foram encontrados mortos na orla da praia de São Marcos, em São Luís. O registro feito por um leitor de O Estado mostra diversas espécies do animal mortas, espalhadas na área de uma das praias mais populares da capital.
O caso chamou a atenção de quem passou pela praia neste final de semana. “Contei mais de 30 peixes mortos em uma área”, disse uma internauta. Os peixes foram recolhidos da areia apenas na manhã de ontem (17).
Os motivos exatos para saber a causa da morte em grande escala dos animais ainda é incerta. Segundo Antônio Carlos Castro, professor do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e ex-chefe do LABOHIDRO, para a resposta ser exata é necessário que seja feito uma análise detalhada no tecido muscular, brânquias e outros órgãos internos dos animais.
“Por serem peixes de espécies diferentes, estamos trabalhando com a hipótese de que a causa da morte desses animais tenha sido stress devido ao aumento de turbidez da água, decorrente da drenagem continental”, explica o professor.
A turbidez pode ser entendida como a medida do espalhamento de luz dentro d’água, sendo um dos parâmetros de qualidade para avaliação das características físicas da água bruta e da água tratada. Uma consequência da turbidez excessiva em ambientes aquáticos é a diminuição da penetração da luz na água e, com isso, a redução da fotossíntese dos organismos vivos no mar.
“Os rios Anil, Bacanga e Paciência também podem ter corroborado para a morte desses animais, mas como nos falta a análise isso se trata apenas de uma hipótese”, destaca o professor Antônio Carlos. A poluição dos rios que deságuam no mar que cerca a Ilha de São Luís, acompanhado da já poluição diária das redes de esgoto e falta de conscientização pública podem ser fatores para o aumento da turbidez dos mares da região.
Praias impróprias
O mergulho no mar não é aconselhável nas praias da capital, pois todas seguem impróprias para banho, de acordo com dados da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). Em seu último relatório, a secretaria apontou que nos pontos monitorados, nenhum está liberado para o banho.
O monitoramento realizada no período de 13 de maio a 10 de junho de 2019, integrando a série de acompanhamento semanal das condições de balneabilidade das praias da Ilha do Maranhão. Para o laudo, foram coletadas e analisadas amostras de água de 21 pontos distribuídos nas praias da Ponta d’Areia, São Marcos, Calhau, Olho d’Água, Praia do Meio e Araçagy. O monitoramento obedece aos padrões fixados na Resolução CONAMA nº 274/00.
Além da sujeira da água constada por laudos, é possível observar ainda saídas de esgotos que despejam dejetos nas praias, bem como o descaso com a infraestrutura dos locais. Na Avenida Litorânea, por exemplo, o calçadão da extensão da avenida sofre um violento processo de erosão.
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Turbidez da água
A turbidez da água é consequência direta do arraste dos sedimentos variados, como sólidos em suspensão, matéria orgânica e inorgânica, finamente divididas, organismos microscópicos e algas. A origem desses materiais pode ser o solo, a mineração, as indústrias e o esgoto doméstico lançado no manancial sem tratamento. A turbidez é encontrada em quase todas as águas de superfície, mas está normalmente ausente nas águas subterrâneas.
Ela é a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar uma certa quantidade de água. Os valores são expressos em Unidades Nefelométricas de Turbidez (UNT). A cor da água e as partículas de carbono interferem na medida da turbidez devido às suas propriedades de absorverem a luz e as amostras devem ser analisadas logo após a coleta, pois a turbidez pode mudar se a amostra for armazenada por um certo tempo.
As águas de lagos, lagoas, açudes e represas apresentam, em geral, baixa turbidez, porém variável em função dos ventos e das ondas que, nas rasas, podem revolver os sedimentos do fundo. Após uma chuva forte, as águas dos mananciais de superfície ficam turvas, graças ao carregamento dos sedimentos das margens pela enxurrada. Assim, os solos argilosos e as águas em movimentação ocasionam turbidez.
SAIBA MAIS
Lixo nos mares
O lixo que termina nos oceanos segue um caminho conhecido: sem o descarte adequado, vai para lixões, muitos deles à beira de corpos d'água, de onde seguem para o mar. Foi com essa premissa que a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (Iswa) fez um levantamento e revisão da literatura sobre poluição marinha e estimou que 25 milhões de toneladas de resíduos são despejados nos oceanos por ano. Segundo os dados, 80% desse volume é fruto da má gestão dos resíduos sólidos nas cidades.
A Iswa usou uma estimativa de que, em todo o mundo, algo entre 500 milhões e 900 milhões de toneladas de resíduos não tem um descarte adequado e cruzou esse dado com o mapeamento de pontos de descarte irregular em cidades perto do mar ou de corpos hídricos.
Os dados do levantamento indicam que cerca de metade desse lixo que vai para os oceanos, ou seja, cerca de 12,5 milhões de toneladas, é plástico. Cada tonelada de resíduo não coletada em áreas ribeirinhas, destaca a Iswa, representa o equivalente a mais de 1500 garrafas plásticas que terminam seu ciclo de vida no mar e acabam virando microplástico.
O lixo oceânico se tornou um problema tão sério quanto as mudanças climáticas e traz impactos diretos nos gastos com saúde e tratamento de corpos d'água. Só no Brasil, são gastos cerca de R$ 5,5 bilhões por ano para tratar a saúde das pessoas, os cursos d'água e recuperar o ambiente em virtude da degradação dos resíduos sólidos.
O país colabora com pelo menos 2 milhões de toneladas do volume total de lixo oceânico. É o equivalente à área de 7 mil campos de futebol. As previsões foram conservadoras no sentido de excluir lixões irregulares em áreas muito afastadas do mar, como o Pantanal e a Amazônia. O volume poderia chegar a 5 milhões de toneladas se essas regiões fossem incluídas. No caso brasileiro, não foi possível estimar quanto desse volume de lixo seja plástico, mas sabe-se que 15% do resíduo sólido aqui gerado tem essa origem.
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