Sem ônibus

Mesmo com troca de empresas, transporte de Cajupary é ineficiente

Além de contar só com um ônibus, a linha que presta serviço a mais de cinco bairros registra constantes atrasos; em vez de melhorar, problemas se agravaram com a substituição do Consórcio Via SL pelo Upaon-Açu

Monalisa Benavenuto / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

A população do bairro Cajupary, localizado na zona rural de São Luís, próximo ao bairro São Raimundo, tem enfrentado uma longa maratona – seja de espera, seja de caminhada – para ter acesso ao transporte público. De acordo com os moradores, desde a substituição do Consórcio Via SL pelo Upaon-Açu – ocorrida no fim do mês de março –, os problemas só aumentaram e, além das condições dos veículos, os atrasos têm sido constantes e prejudicam a rotina de trabalhadores e estudantes, que dependem do serviço para chegar aos seus compromissos. A linha que atualmente assiste ao bairro conta apenas com um ônibus, que circula, ainda, pelos bairros Santa Bárbara, Vila Cascavel, Mato Grosso e Tajaçoaba, até o Terminal de Integração do São Cristóvão.

A linha A681/Cajupary, hoje sob responsabilidade do Consórcio Upaon-Açu, deveria proporcionar melhorias à comunidade. No entanto, tem causado ainda mais transtornos. Para os moradores, os problemas referentes à mobilidade têm sido cada vez maiores e, além de contar com apenas um ônibus que faz rota até o Terminal do São Cristóvão, a população precisa lidar com as péssimas condições de veículos, causadas pela ação do tempo, e, ainda, com os constantes atrasos, que geram prejuízos àqueles que dependem exclusivamente do serviço, como o estudante Gabriel Cruz.

“Nós sempre tivemos este problema com as condições de conservação dos ônibus, mas antes pelo menos os horários eram corretos. De uns dias para cá, tem sido impossível, para mim, chegar no horário na escola porque sempre atrasa. Quem tem pressa precisa andar até o São Raimundo em busca de alternativa, mas esta é uma opção para quem mora no Cajupary, mas o pessoal do Mato Grosso e Tajaçoaba, por exemplo, nem isso pode fazer, porque são bairros mais distantes”, contou Cruz.

Situação confirmada pela aposentada Bárbara Vieira, que mora em frente ao ponto final dos ônibus, no Cajupary. Segundo ela, poucos moradores do bairro aguardam no local devido à demora. Apesar dos obstáculos, a melhor opção é, como destacado por Gabriel Cruz, seguir a pé até o bairro São Raimundo.

“Agora que mudou, piorou. Só mudou a empresa, porque os ônibus continuam a mesma porcaria. Ônibus velho, quebrado, e ainda atrasa. Criança perde hora de escola se não subir para pegar ônibus no São Raimundo. Eu mesma não espero mais, porque perco meus compromissos. Quando chove, tem de escolher se pega chuva ou não sai de casa, porque a gente anda cerca de três quilômetros e ainda pega ônibus lotado, no São Raimundo, porque, se ficar aqui, leva quase uma hora de relógio só circulando de bairro em bairro. Eu nasci e me criei aqui, estou com 60 anos e só vejo esta situação piorar”, lamentou.

Mudanças
Desde o dia 30 de março, o Consórcio Upaon-Açu está atuando em sete linhas antes sob responsabilidade do Consórcio Via SL, formadas pelas empresas São Miguel e Rei de França, que abrangem, principalmente, a zona rural de São Luís e têm como destino o Terminal do São Cristóvão, entre elas a linha A6581 – Cajupary. As mudanças se deram após a rescisão de contrato determinada pela Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) com as outras empresas que atuavam, também em consórcio, na região.

As empresas perderam todas as linhas que integravam o Sistema Integrado de Transporte (SIT) de São Luís por não terem renovado a frota de ônibus, prevista no contrato da concorrência pública em vigor desde setembro de 2016. A exclusão do consórcio foi determinada pela Portaria 58/2019, baixada pela SMTT. A situação virou caso de Justiça, quando as empresas afetadas recorreram da decisão, alegando que havia uma divergência quanto ao período exato em que os coletivos deveriam ser substituídos. Enquanto o consórcio alegava que a troca dos veículos só deveria ocorrer ao fim do 10º ano, ou seja, em 2020, o Município exigiu que os ônibus novos fossem introduzidos na data exata em que os antigos completassem uma década de encarroçamento.

A juíza responsável pelo caso, Alexandra Ferraz Lopez, da 7ª Vara da Fazenda Pública da capital, deu ganho de causa à Prefeitura de São Luís. “Quanto ao argumento de que não houve tempo hábil para renovação, este não merece guarida, pois o contrato foi claro ao estipular o prazo de 10 anos para renovação da frota. Logo, a empresa impetrante sempre teve ciência de que a frota de veículos deveria ser renovada tão logo os ônibus atingissem o período disposto na legislação e no edital. Dessa forma, por não entender presente os requisitos autorizadores, indefiro a tutela antecipada pretendida”, decidiu a magistrada, quanto ao recurso.

Para questionar as reivindicações de moradores dos bairros atendidos pela linha afetada pelas mudanças, O Estado manteve contato com o Sindicato das Empresas de Transportes (SET), mas não recebeu resposta sobre o assunto. A SMTT também foi questionada sobre as possíveis medidas que possam solucionar o problema enfrentado pela população dos bairros citados na reportagem, mas até o fechamento desta edição não deu retorno.

SAIBA MAIS

Via SL

O Consórcio Via SL operava em 39 rotas e 1.177 paradas de ônibus na capital e deveria ter renovado 67 veículos de sua frota em fevereiro deste ano, quando os veículos completaram 10 anos de utilização. A idade-limite para circulação no sistema de transporte público da capital está estabelecida no contrato da licitação realizada pela Prefeitura de São Luís, do qual foram vencedores, além do Consórcio Via SL, os consórcios Viação Primor, Central e Upaon-Açu. Este último, vem substituindo os serviços prestados pelas empresas suspensas em alguns bairros.

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