Eleição presidencial

No Brasil, 2º turno é o cenário mais provável, com disputa entre PSL e PT

Especialistas avaliam presença maior do voto útil, mas mesmo assim consideram vitória em 1º turno do candidato Jair Bolsonaro - que lidera as pesquisas de intenção de voto - uma tarefa difícil de ocorrer, devido ao alto índice de rejeição

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Bolsonaro e Haddad devem ser os candidatos na disputa no segundo turno da disputa presidencial (Bolsonaro Haddad)

Brasília - Nas últimas semanas, por causa da alta rejeição dos dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto - Jair Bolsonaro (PLS) e Fernando Haddad (PT) -, voto útil virou o termo do momento nos discursos dos candidatos, nas redes sociais e na imprensa.
Ele resume a estratégia do eleitor de abandonar o candidato de sua preferência para apostar em alguém com mais chances de vitória. É uma decisão pragmática, que pode ser tomada tanto para não "desperdiçar" o voto em alguém que aparentemente não tem chances de ganhar, quanto para evitar a vitória de um candidato considerado "pior" na avaliação do eleitor.
Segundo especialistas, a lógica que tem norteado esse discurso na eleição deste ano é a de tentar impedir a vitória de Bolsonaro ou de Haddad. Mais importante do que o peso das propostas de cada político, evitar um "mal maior" pode estar norteando o comportamento de parcela dos eleitores.
“Não me lembro de ver um cenário em que os dois candidatos que lideram sejam tão rejeitados. Essa alta rejeição pode estar influenciando o pensamento de voto útil”, diz a professora Maria do Socorro Braga, coordenadora do Núcleo de Estudo dos Partidos Políticos Latino-americanos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Com o crescimento acima da margem de erro de Bolsonaro nas última pesquisas Ibope e Datafolha, especialistas identificam um fortalecimento do discurso de um "voto útil" no ex-capitão do exército, na esperança de "derrotar o PT" no primeiro turno.
"Pode haver um voto útil de um setor mais à direita que, embora não concordando com Bolsonaro em vários pontos, transfere o voto a ele na reta final num esforço por uma vitória no primeiro turno", afirma Maria do Socorro Braga, da UFSCar.
Mas, por causa da alta taxa de rejeição, não será tarefa fácil para o candidato do PSL alcançar o critério de 50% dos votos válidos (que excluem brancos e nulos) para encerrar a disputa com uma vitória no domingo.
Atualmente, segundo a pesquisa Datafolha, Bolsonaro aparece com 39% dos votos válidos e Haddad, com 25%.
"Assumindo que Bolsonaro tenha, de fato, cerca de 30% das intenções de voto, ele precisa subir próximo a 10 pontos percentuais para levar no primeiro turno, o que é uma subida não desprezível", diz a cientista política Lara Mesquita, do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepes) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Isso significaria, por exemplo, esvaziar os votos de Marina Silva, João Amôedo, Henrique Meirelles e Álvaro Dias. "O que os institutos de pesquisa dizem é que os eleitores cada vez mais estão decidindo o seu voto muito tarde. Se isso é verdade, ainda tem espaço para movimentação e alguém vencer no primeiro turno. Eu acho improvável, mas é possível", completa Mesquita.
"É muito difícil que, numa eleição tão fragmentada, alguém consiga aglutinar todos os votos necessários para ganhar no primeiro turno. Seria mais fácil se as taxas de rejeição fossem menores", pondera Andrea Freitas, professora de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Discurso de voto útil não favoreceu terceira via

Embora essa retórica de voto útil em uma "terceira via" tenha sido forte na campanha, a cientista política Lara
Mesquita, da FGV, diz que ela não se refletiu em resultados nas últimas pesquisas de intenção de voto. "Não vejo Bolsonaro e Haddad sendo abandonados por esse tipo de busca por uma terceira via. Até porque a terceira via está muito fragmentada. Não está claro para onde o eleitor deve ir", afirmou.

Ciro tentou apostar em percentuais
de 2º turno para convencer eleitor

No campo dos que querem garantir a derrota de Bolsonaro - ou viabilizar a vitória de um político que não personifique a atual polarização -, o discurso do voto útil tem sido usado, principalmente, para defender a ida de Ciro Gomes (PDT) ao segundo turno.
Com 11% das intenções de voto, o candidato do PDT tem como um dos motes da campanha o argumento de que um voto nele evitaria a "polarização extrema", com uma disputa entre PT e Bolsonaro.
Os defensores de Ciro Gomes também argumentam que o ex-governador do Ceará é o "mais capaz" de derrotar Bolsonaro num segundo turno. Segundo a última pesquisa Datafolha, Ciro venceria no segundo turno com 48% dos votos, contra 42% do candidato do PSL.
Bolsonaro aparece, no Datafolha, em empate técnico num segundo turno com Haddad ou com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.
Aliás, o tucano vinha tentando atrair o "voto útil" com um argumento semelhante ao de Ciro, mas focando em dizer que seria mais capaz do que Bolsonaro de derrotar o PT nas urnas.
Em um segundo turno com Haddad, Alckmin venceria com 42% dos votos, contra 38% do petista. No entanto, o candidato do PSDB está estacionado em quarto lugar nas pesquisas para o primeiro turno, com 8% das intenções de voto.

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