Brasil parado

Ilha sofre reflexos de cinco dias de paralisação de caminhoneiros

Caminhoneiros continuam parados nas rodovias do Maranhão; diversos setores têm serviços abalados, em consequência das manifestações

Monalisa Benavenuto / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

Mesmo com a divulgação de acordo entre o Governo Federal e os caminhoneiros, manifestantes continuaram parados em 14 pontos de rodovias do Maranhão, nesta sexta-feira, 25. Supermercados atendem com abastecimento mínimo de frutas e legumes, que poderiam se esgotar até sábado, 26. Serviços públicos foram reduzidos ou suspensos. Postos de combustíveis ficaram com filas quilométricas, alguns cobrando preços abusivos, outros já sem combustível. O presidente da República, Michel Temer, acionou forças federais para desbloquear estradas.

Os protestos de caminhoneiros pelo aumento nos preços dos combustíveis atingiram o 5º dia na sexta-feira, 15, em todo o país. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, 14 trechos de rodovias maranhenses seguiram interditada pelos manifestantes.
O Governo Federal divulgou, na noite de quinta-feira, 24, que um acordo foi fechado entre nove das 11 entidades que representam os caminhoneiros, mas, de acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, os protestos continuam. “Este final de semana vai ser para montarmos as estratégias que adotaremos a partir de segunda-feira, 28. Na minha visão, não vamos encerrar o movimento tão cedo”, declarou à Agência Brasil.

Um motorista, que preferiu não ser identificado, contou que, além dos planos de continuar com os protestos durante o fim de semana, os caminhoneiros não estão permitindo que motoristas sigam adiante nem retornem com veículos. Ele frisou que tentou levar o caminhão da empresa onde trabalha para a garagem, mas os demais manifestantes não autorizaram.

No Maranhão, os reflexos atingiram diversos setores. Segundo o presidente da Associação Maranhense de Supermercados (Amap) e do Grupo Mateus, Ilson Mateus, diversas lojas registraram esgotamento de produtos. "Aquilo que já está faltando, a gente não tem muito o que fazer, a não ser esperar. O que falta primeiro é hortifruti, porque é produto que é abastecido a cada dois dias, duas ou três vezes por semana, no máximo", informou.

No Supermercado Mateus localizado na Avenida Daniel de La Touche, na Cohama, pães e algumas verduras, como batata, cebola e tomate, acabaram na tarde de sexta-feira. Frutas e legumes não havia mais no estoque da rede e, segundo o presidente, devem acabar ainda hoje, caso não haja liberação das estradas.

O grupo possui um depósito de frios localizado na BR-135, mas que também está inacessível devido às manifestações. Por isso, até os funcionários foram liberados. "A gente até tem estoque na Central de Distribuição, mas, assim como a linha seca, está impossibilitado de sair. A gente até deu folga para os funcionários, porque não tem como trabalhar, não tem como passar. Demos folga para a equipe de transporte e separação", informou.

Aqueles consumidores que precisaram fazer compras ontem, não ficaram satisfeitos com o que encontraram nas gôndolas, principalmente de cebola e tomate. A aposentada Zilda Barbosa reclamou. "Eu sempre levo laranja, mas hoje ela está muito feia, está cara, o tomate também eu sempre encontrava mais em conta e agora está mais caro. Era três, três e pouco, agora está R$ 5,99. A qualidade está meio baixa. Toda semana a gente faz essa compra, só que essa semana vou ficar sem [alguns produtos]. Quem sabe na próxima semana os caminhoneiros comecem a sair e tragam umas frutas mais frescas", relatou.

Além dos supermercados, muitos postos de combustíveis da cidade esgotaram o produto, devido a intensa procura. Em postos em que ainda havia gasolina e diesel, filas quilométricas se formaram durante a madrugada de quinta-feira, 24.

Com o desespero de consumidores, por medo de ficar sem combustível, muitos donos de postos se aproveitaram da situação para subir os preços dos produtos. Os preços variavam entre R$ 3,90 e R$ 5,00. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Instituto de Promoção e Defesa do Cidadão e Consumidor do Maranhão (Procon-MA), orientam que consumidores que identificarem valores abusivos, devem denunciar os postos para que sejam notificados pelos órgãos.

Buscando amenizar os impactos da paralisação, a ANP decidiu rever alguns pontos impostos sobre postos e revendas, liberando os postos a comprar combustível de qualquer distribuidor, grandes fornecedores de diesel foram autorizados a vender combustível para postos comuns, entre outros benefícios.

A Companhia Energética do Maranhão (Cemar), também teve serviços alterados devido aos protestos e informou, por meio de nota, que adotou um plano emergencial de atendimento devido à falta de combustíveis. A ação é necessária, uma vez que a crise tem afetado a operação da frota de veículos de campo da Cemar, bem como o recebimento de materiais em nossos almoxarifados.

As equipes operacionais priorizarão o atendimento aos serviços emergenciais para o restabelecimento de falta de energia elétrica e ocorrências que possam comprometer a segurança da população. A Companhia reforçou ainda que se trata de uma situação atípica e que está mobilizando todos os seus recursos para minimizar os impactos aos seus clientes.

O transporte público segue com a frota reduzida em 50%. Motoristas de aplicativos de transporte fizeram protesto na Avenida Guajajaras, próximo ao aeroporto e o serviço esteve suspenso durante as manifestações. No Ferry-boat, o combustível armazenado deve acabar ainda hoje, caso não haja resolução. No Aeroporto Marechal Cunha Machado e no Terminal Rodoviário de São Luís, o transporte de passageiros não foi suspenso até o momento. Há relatos de que outros serviços públicos também tenham sido afetados.

A Prefeitura de São Luís informou, em nota, que tem feito todos os esforços para assegurar a regularidade dos serviços municipais neste momento de greve dos caminhoneiros, com impacto em todo o país. No que diz respeito ao transporte público, mais de 80% da frota do sistema urbano está em circulação. O abastecimento dos ônibus está sendo garantido com o apoio do Governo do Estado, por meio da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap).

Em relação à limpeza pública, os serviços de capina, roçagem e varrição estão sendo executados normalmente. Quanto à coleta domiciliar, toda a frota está nas ruas fazendo o recolhimento conforme o cronograma nos bairros. Entretanto, em razão dos pontos de interdição na BR-135, devido à greve dos caminhoneiros, o transbordo para a Central de Tratamento de Resíduos Titara, no município de Rosário, segue lento.

A Prefeitura frisou ainda que não houve interrupção de atendimento nos equipamentos municipais da rede pública de saúde, incluindo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que segue atendendo a todas as demandas de urgência recebidas em sua central de atendimento.
As aulas na rede municipal de ensino estão garantidas, bem como o transporte escolar seguem sendo realizados com regularidade ainda os serviços de manutenção da iluminação pública, fiscalização de trânsito, Guarda Municipal, Defesa Civil, entre outros.

Nota do Governo do Estado:

Os serviços essenciais, tais como policiamento, ambulâncias, transportes coletivos, terrestre e hidroviário, estão assegurados. Em um esforço conjunto, os órgãos públicos estaduais estão trabalhando para manter a normalidade no atendimento. O Governo do Maranhão informa, ainda, que:

1- Nenhum aumento de preço abusivo e injustificado, se comprovado, será tolerado. Conforme o Código de Defesa do Consumidor, configuram-se como práticas abusivas a exigência de vantagem manifestamente excessiva e a elevação de preços de produtos e serviços sem justa causa. Para evitar qualquer tipo de abuso, equipes de fiscalização do Instituto de Promoção e Defesa do Cidadão e Consumidor (Procon-MA) estão nas ruas fazendo vistorias nos postos de combustíveis. Denúncias podem ser feitas pelo número 151, pelo aplicativo ou nas redes sociais do órgão;

2- Até o momento, a greve dos caminhoneiros não prejudicou o abastecimento e o atendimento das unidades da rede estadual de saúde;

3- O recebimento de combustíveis pelo Porto do Itaqui não é afetado pela paralisação, uma vez que a operação é feita por via marítima. Todos os tanques de armazenamento localizados no Itaqui estão abastecidos;

4- As atividades escolares na rede estadual funcionaram normalmente nesta sexta-feira (25). A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informa que avaliará até a próxima segunda-feira (28), a possibilidade de suspensão das aulas;

5- A Agência Estadual de Mobilidade Urbana e Serviços Públicos (MOB) está promovendo reuniões com o Sindicato das Empresas de Transporte (SET) e as empresas que realizam a travessia do ferry boat, entre os terminais Ponta da Espera e Cujupe. O objetivo é a manutenção da logística necessária para que o abastecimento de combustível seja preservado e a população não tenha o direito de ir e vir prejudicado. Também reitera que realizará as ações necessárias para que o transporte público seja garantido até que a normalidade no fornecimento de combustíveis seja restabelecida;

6- A Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) esclarece que não haverá perdas ou interrupções em relação aos trabalhos prestados pelas Polícias Militar e Civil, além do Corpo de Bombeiros. A Secretaria dispõe de um plano logístico para o abastecimento das viaturas, de modo a garantir que os trabalhos das Forças de Segurança não sejam prejudicados.

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