Nostalgia e modernidade

“Caminho Grande”: histórias e curiosidades da Rua Grande

Com 800 metros de extensão, a via contempla histórias, já abrigou personagens importantes da sociedade local e hoje padece com a ausência de padronização; atualmente, a principal via do comércio passa por reforma muito esperada

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Foto histórica da Rua Grande, datada de 1950 (Rua Grande)

De “Caminho Grande”, que dava acesso ao interior da Ilha, à sede de moradias de nomes importantes da sociedade ludovicense, passando pelas sucessivas tentativas de revitalização ao longo do século XX, até a atual configuração e novo plano de recuperação arquitetônica original. Esta seria a síntese de quase quatro séculos de história da Rua Grande, que, nos seus 800 metros de extensão, contempla histórias, já abrigou personagens importantes da sociedade local e, atualmente, padece com a ausência de padronização de um espaço que deveria, se bem cuidado, expor grande parte da história da cidade.

Tudo começou em meados do século XVII, quando a via registrava apenas quatro quadras. Era o caminho mais fácil, de acordo com alguns historiadores, de acesso ao interior da Ilha. Pela via, passavam carros de boi com seu fundamental transporte de cargas até o Cutim. Nesse período, apesar do uso essencialmente agrário, um mapa da cidade de São Luís já mostrava a Rua Grande com algumas edificações, no trecho compreendido entre o “Largo do Carmo” e a Rua de São João.

De acordo com o historiador Carlos de Lima, já falecido, o trajeto tomava literalmente o nome de “Caminho Grande”. Em outros tempos, a mesma via também recebeu os nomes - conforme corrobora o poeta, jornalista e professor Paulo Melo Sousa (autor de “Rua Grande: um passeio no tempo”) - de “Estrada Real” e, posteriormente, de “Rua Larga”. “São outros nomes pelos quais a via era conhecida. Ou seja, além de Rua Grande, a via também tem nomes que pouca gente conhece”, confirmou Sousa a O Estado.

A primeira reestruturação recebida pela Rua Grande (ou Rua Oswaldo Cruz) foi em meados de 1852 e durou três anos. Ela foi concebida na administração de Eduardo Olímpio Machado. De acordo com o professor universitário aposentado, advogado e escritor, Benedito Buzar, e referendando informação de Jomar Moraes, o primeiro calçamento da Rua Grande ocorreu em março de 1855. Foi considerado, inclusive, um dos principais marcos históricos da cidade, dada a importância que a Rua Grande já apresentava, à época, para o cenário urbano da cidade.

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Em 1867, foi instalado novo calçamento na via. Dez anos mais tarde, surgiu o chamado “assentamento das pedras com cimento”, sob autorização do então governador Manuel Inácio Belfort Vieira. Neste momento, a via era conhecida por servir de moradias a pessoas ilustres da cidade.

Ilustres moradores
Pessoas como Ana Jansen e Cândido Ribeiro (importante industrial do Maranhão) residiram no local. A Rua Grande também recebeu, de acordo com o historiador e pesquisador Antônio Guimarães, a primeira transmissão de rádio amador do estado em um de seus sobrados. O fato somente foi possível, de acordo com o pesquisador, a partir da iniciativa de Nhozinho Santos.

O sobrado pertencente à família de Ana Jansen, por exemplo, é atualmente ocupada, na Rua Grande, por uma lanchonete. Questionados por O Estado, os funcionários do empreendimento nem sabiam que o imóvel já foi ocupado por tão ilustre personagem da história da cidade. Dos tempos de requinte, o imóvel apresenta visíveis desgastes devido à ação do tempo.

Século XX
Nesse período histórico, a Rua Grande também recebeu muitas intervenções. Uma das principais mudanças foi a demolição - cujo fato histórico é corroborado por Paulo Melo Sousa e pelo historiador Antônio Guimarães - da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Mulatos, em 1939. Em seu lugar, foi erguido o primeiro arranha-céu de São Luís: o Edifício Caiçara. A medida foi tomada durante o projeto de modernização urbanística maranhense, no governo do então interventor Paulo Ramos (1936-1945). Dez anos mais tarde, novas obras de recuperação do calçamento na rua foram realizadas.

Ainda segundo Benedito Buzar, na gestão do então governador José Sarney, há a retirada dos trilhos usados pelos bondes que circulavam pela via. Neste momento, houve a substituição do calçamento tradicional por camadas de asfalto, o que gerou críticas pela perda, segundo especialistas, das características originais do local.

Em 1979, na gestão do então prefeito de São Luís, Mauro Fecury, houve uma mudança importante: a proibição da via para a circulação de veículos motorizados. Nesse momento, a Rua Grande foi transformada em um espaço exclusivamente para pedestres.

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