Ditadura

Partidos reagem à “ameaça militar” em fala de general do Exército

PT e PSOL repudiaram “com veemência as declarações do general” em que viram ameaça velada de o Exército agir, caso Lula não fosse preso; OAB também se manifestou

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Coronel Villas Boas causor pânico com suas declarações de ameaça militar no país (General Vilas Boas)

Até agora, apenas o PT e o PSOL se posicionaram sobre as manifestações do comandante do Exército, general Villas Bôas, pressionando o STF a negar o habeas corpus do ex-presidente Lula e advertindo que a força está atenta “às suas missões institucionais". A OAB também criticou a fala do militar.

Em nota assinada pela presidente Gleisi Hoffman e os líderes Lindberg Farias (Senado) e Paulo Pimenta, o PT começa criticando a Rede Globo de Televisão, pelo destaque dado à postagem do comandante do Exército em rede social, onde apontou para o julgamento de ontem no STF ao dizer que sua força compartilha com os “cidadãos de bem” o repúdio à impunidade.

“Assim como defendeu o general Villas Bôas nas redes sociais, nós do PT sempre combatemos a impunidade e respeitamos a Constituição, inclusive no que tange ao papel das Forças Armadas definido na Constituição democrática de 1988. A defesa da Constituição implica em reconhecer a presunção da inocência, conforme definida no parágrafo 57 do artigo 5o. É o que esperamos que seja ratificado hoje pelo plenário do STF”, diz a nota do PT.

A do PSOL é mais contundente, quando diz: “O PSOL repudia com veemência as declarações do general Vilas Boas, proferidas às vésperas do julgamento do STF. Em tom inaceitável, o comandante das Forças Armadas sugere veladamente que o Exército poderia agir a depender do resultado do julgamento do Habeas Corpus do ex-presidente Lula. Dessa forma, o general age como “indutor” da violência entre os brasileiros, incentivando os mais desequilibrados a se insurgir contra a Constituição brasileira.”

O PSDB não se posicionou oficialmente, mas seu secretário-geral, deputado Marcus Pestana, declarou ao JB que o partido vê nas declarações do general uma legítima manifestação de preocupação com a impunidade.

- O general Vilas Bôas tem primado pelo equilíbrio e a ponderação. Sem dúvida ele não fez aquela postagem de forma irrefletida. Ela traduz esta preocupação das Forças Armadas, que é legítima mas não significa ameaça de intervenção. O ex-ministro da Defesa Raul Jugnmann traduziu recentemente o espírito que governaria as Forças Armadas, e acredito nisso: “Fora da Constituição, nada”. Temos também de reconhecer que o Congresso está fragilizado, que a própria Presidência ficou enfraquecida a partir das duas denúncias e que o STF se desgastou muito, especialmente com a exposição eletrônica de suas decisões, que deviam ser mais reservadas e sóbrias” – disse Pestana. Não haverá nota do PSDB.

No PMDB e no Democratas, assessores das direções também desconhecem qualquer manifestação oficial.

Comandante da Aeronáutica

refuta mensagem de colega do Exército

Tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato ordena os subordinados a respeitar a Constituição

O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, divulgou nesta quarta-feira, 4, boletim interno à Força Aérea Brasileira no qual afirma que o povo está "polarizado" e ordena seus subordinados a respeitar a Constituição e não se "empolgar a ponto de colocar convicções pessoais acima das instituições".

"Tentar impor nossa vontade ou de outrem é o que menos precisamos neste momento", diz o comandante. "Seremos sempre um extremo recurso não apenas para a guarda da nossa soberania, como também para mantermos a paz entre irmãos que somos."

A publicação ocorreu um dia depois de o comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, repudiar a impunidade em suas redes sociais, às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de um recurso contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", questionou o general.

No comunicado, enviado a todos os militares da FAB, Rossato cobra que os poderes constituídos atuem com preceitos "éticos e morais" e prega confiança neles: "Os poderes constituídos sabem de suas responsabilidades perante a nação e devemos acreditar neles".

Ele diz que "o Brasil amanhece hoje prestes a viver um dos momentos mais importantes da sua história", no qual "serão testados valores que nos são muito caros, como a democracia e a integridade de nossas instituições".

"Nestes dias críticos para o País, nosso povo está polarizado, influenciado por diversos fatores. Por isso é muito importante que todos nós, militares da ativa ou da reserva, integrantes das Forças Armadas, sigamos fielmente à Constituição, sem nos empolgarmos a ponto de colocar nossas convicções pessoais acima daquelas das instituições", escreveu o brigadeiro.

No texto, Rossato não faz menção direta às críticas do general Villas Bôas no Twitter, mas afirma que "os ânimos já acirrados intensificam-se ainda mais com a velocidade das mídias sociais, onde cada cidadão encontra espaço para repercutir a sua opinião, em prol do que julga ser o País merecedor".

"O Brasil merece que seus cidadãos se respeitem e sejam respeitados, que os poderes constituídos atuem em consonância com preceitos éticos e morais dos quais possamos nos orgulhar, que os cidadãos possam ir e vir em segurança, além de tantos outros direitos básicos que hoje o Brasil ainda não oferece para uma boa parte de seu povo", escreveu o brigadeiro.

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