Tensão

Coreia do Norte alega direito à autodefesa após teste com míssil

Governo norte-coreano afirma ser a ação resultado de política hostil dos EUA e do aumento da corrida nuclear contra o país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h36
Monitor mostra o lançamento de míssil norte-coreano em Tóquio, ontem ( Monitor mostra o lançamento de míssil norte-coreano em Tóquio, ontem)

PYONGYANG - A Coreia do Norte defendeu ontem o direito à autodefesa e afirmou que continuará com a sua política de "dissuasão nuclear", horas após lançar um míssil que passou acima do Japão, em ato que foi rapidamente condenado pela comunidade internacional.

"Temos razão de responder com medidas duras no exercício do nosso direito à autodefesa e os Estados Unidos serão inteiramente responsáveis pelas consequências", disse o embaixador norte-coreano perante a Conferência de Desarmamento, Han Tae-song.

Em resposta à ação norte-coreana, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump sugeriu que não dará tréguas ao país após lançamento de míssil. "Todas as opções estão sobre a mesa", afirmou ontem.

O míssil balístico disparado pela Coreia do Norte sobrevoou a ilha de Hokkaido, no norte do arquipélago japonês, e caiu em águas do Oceano Pacífico, a cerca de 1.180 quilômetros da costa japonesa, segundo informações oficiais proporcionadas de Tóquio.

De acordo com Han Tae-song, a tensão nuclear na Península da Coreia "é o resultado da política hostil dos EUA e do aumento da corrida nuclear contra a Coreia do Norte, que não teve outra alternativa a não ser fortalecer a sua dissuasão nuclear para enfrentar esta ameaça",

O diplomata afirmou que as manobras militares anuais realizadas atualmente por Estados Unidos e Coreia do Sul "são uma preparação para a guerra e para um ataque preventivo contra o país".

Han Tae-song acusou o Conselho de Segurança da ONU de ter ignorado os pedidos do governo norte-coreano para discutir essas manobras e para que ameace os dois países.

O representante da Coreia do Norte insistiu que qualquer ação de seu país será "em defesa própria, da soberania e do direito a existir".

"Os exercícios militares conjuntos de EUA e Coreia do Sul geram tensão na península e fazem caso omisso às advertências da Coreia do Norte, em um ato fanático que põe mais lenha na fogueira", sustentou o representante de Pyongyang.

Estado de alerta

Ontem, milhões de japoneses acordaram com a alarmante mensagem do governo para que procurassem refúgio, porque um míssil norte-coreano sobrevoava o território. Esta foi a ameça mais grave de Pyongyang em muitos anos.

Pouco após o lançamento às 6h (18h de segunda-feira no horário de Brasília), alertas foram enviados por precaução aos smartphones, e as sirenes soaram nas cidades na trajetória do projétil. O artefato passou sobre a ilha de Hokkaido (norte) durante dois longos minutos antes de cair no oceano Pacífico.

"Um míssil aparentemente passou por esta área há pouco tempo. Se você encontrar algum objeto suspeito, não se aproxime e chame imediatamente a Polícia, ou o Corpo de Bombeiros", dizia uma dessas mensagens, também visível na televisão.

"Vá para um local seguro em edifícios seguros, ou subterrâneos", insistia a mensagem. Para aqueles que já estavam nos transportes públicos, os sinais de alerta foram exibidos nos painéis das estações e nas telas públicas, e o trânsito ferroviário foi temporariamente suspenso.

"Todas as linhas foram perturbadas. Motivo: tiro de míssil balístico", era lido em Sapporo, a principal cidade de Hokkaido. Alguns levaram as instruções ao pé da letra. "Passageiros desceram para se abrigar em duas das nossas estações", relatou à AFP um porta-voz do metrô de Sapporo.

Outros não tiveram escolha a não ser rezar para o céu, como os pescadores de 15 embarcações que já haviam deixado a cidade costeira de Erimo (sul de Hokkaido) quando a notícia chegou.

"Fiquei surpreso com o fato de o míssil estar passando sobre nossas cabeças. Isso nunca aconteceu antes", reagiu Hiroyuki Iwafune, funcionário da cooperativa de pesca.

"Fiquei preocupado. Liguei para aqueles que estavam no mar, mas eles me disseram: 'Mesmo com esse aviso, o que podemos fazer?'. O sentimento é o mesmo: devemos nos esconder? Mas onde?", completou.

'Muito perigoso'

Em Tóquio, mais de 700 quilômetros ao sul, a circulação de trens, incluindo o famoso Shinkansen de alta velocidade, também foi temporariamente interrompida, e avisos foram emitidos aos passageiros.

"Um míssil norte-coreano está sobrevoando o Japão. É muito perigoso. Permaneçam nas salas de espera, ou dentro dos trens", dizia o alerta.

Nas ruas, nenhum sinal de pânico particular, mas um sentimento de medo misturado com resignação.

"Tenho medo, mas, ao mesmo tempo, é uma ameaça que parece irreal e distante das nossas vidas diárias", comentou Julia Kotake, de 18 anos, que estuda na Universidade de Tóquio. "Se um míssil cair, acho que não poderemos fazer nada", resigna-se.

Exercícios

A aceleração dos programas nuclear e balístico da Coreia do Norte levou várias regiões do Japão a realizar exercícios de evacuação nos últimos meses.

Na maioria dos casos, tais exercícios consistiram em simplesmente agrupar as populações das aglomerações consideradas vulneráveis em edifícios públicos.Por acaso, no mesmo momento do disparo norte-coreano, as Forças de Autodefesa (nome do Exército japonês) exercitavam a mobilização do sistema antimíssil Patriot Advanced Capability 3 (PAC-3) na base americana de Yokota, a oeste de Tóquio.

"Praticar esse tipo de treinamento nos permite manter nosso sistema de resposta rápida a um lançamento de míssil balístico e reforçar a dissuasão, não apenas do nosso país, mas de toda a aliança nipo-americana", afirmou o comandante da Força Aérea do Japão, Hiroaki Maehara.

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