Talento

Um “Pavarotti” na portaria

Porteiro há três anos em um condomínio no bairro Calhau, o maranhense Sérgio Pacheco surpreende com o talento para o canto erudito; o tenor alimenta o sonho de se apresentar no Domingão do Faustão

Evandro Júnior - Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39

SÃO LUÍS - No labor diário no condomínio Punta Del Este, Sérgio Pacheco dos Santos, como porteiro, é um ótimo tenor. A frase, sem a mínima pretensão de tirar a nota azul do maranhense de 37 anos no ofício de sua digna profissão, é verdadeira em sua plenitude. Ex-segurança no campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ele há três anos ganha a vida gerenciando o entra e sai de pessoas em um prédio de apartamentos no bairro Calhau. No entanto, entre um bom dia e outro, solta a voz para entoar peças líricas de sua preferência.

Foi um presente que Deus me deu. As pessoas ficam encantadas e até eu fico, sendo pouco modesto”
Casado com a dona de casa Débora Penha e pai de Sabrina (11) e Davi (2), Sérgio Pacheco não desqualifica a profissão dos guardas de patrimônios, mas se vê muito além, envolto em uma atmosfera de luzes e cantando para o mundo. O tenor, que reside em Paço do Lumiar, vive e sente a delicadeza da música erudita do chuveiro aos palcos para os quais é convidado, em São Luís e interior do estado. Já embalou inclusive os passos de algumas noivas até o altar.

O geminiano, tímido no falar e apaixonado pelas notas musicais, é um Pavarotti para os amigos. Muitos classificam sua voz como um “violino europeu”. Para a família, é apenas um pássaro que aguarda a oportunidade certeira para sair da gaiola e conquistar o seu espaço. É que a paixão pelo canto lírico vem de muito cedo, mas se acentuou durante curso com o professor, regente e cantor lírico barítono Simão Pedro Amaral, na Escola de Música Lila Lisboa de Araújo, que ele não concluiu.

Não tenho palavras para explicar o que eu sinto quando canto”
Elogios

O talento de Pacheco rende elogios constantes ao simples porteiro, tanto de profissionais quanto de leigos. No Punta Del Este, moradores já perguntaram se ele esconde algum aparelho de som.

“É que, vira e mexe, estou praticando e treinando. Inclusive, já levei grupos de canto coral para eventos no condomínio e recebo muitos elogios dos moradores. Acredito que isto faz de mim um porteiro diferenciado”, conta o tenor, que já se apresentou em eventos de altos empresários em São Luís e chamou a atenção do colunista Pergentino Holanda, acostumado a assistir concertos na Europa.

Geralmente fazendo peças em italiano, Sérgio tem predileção por Andrea Bocelli, mas aprecia também o trabalho de Plácido Domingo, Josep Carreras e Luciano Pavarotti. E como todo mundo alimenta um sonho, independentemente da profissão, o dele é se apresentar no programa Domingão do Faustão, da Rede Globo.

“Sei que este meu sonho é algo quase impossível de ser realizado, mas mesmo assim eu não deixo de sonhar. Já cantei fora do Maranhão e por alguns momentos cheguei a pensar que teria alguma oportunidade, mas até agora ela não chegou. Tenho fé em Deus que um dia vou trabalhar com o que realmente gosto, que é cantar”, diz.

De alguns olheiros de música erudita, Sérgio Pacheco já recebeu propostas para seguir uma carreira profissional, inclusive para ir morar na Europa, mas declinou pensando na família. “Já recebi uma proposta cujo pré-requisito era deixar tudo para trás, inclusive a minha família. Mas só irei se eles forem comigo”, afirma.

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