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Para enfrentar o aumento dos sem-teto, Nova York amplia uso de hotéis

A cidade planeja expandir seu portfólio de hotéis para famílias desabrigadas em até 436 quartos, sendo 225 deles reservados para famílias sem filhos menores de idade

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
( Sem-teto observa desfile em rua de Nova York)

Nova York - Frente a um aumento contínuo na população em situação de rua, as autoridades da cidade de Nova York estão expandindo de forma agressiva a prática cara e altamente criticada de usar hotéis para tapar buracos no esgotado sistema de abrigos da cidade.

O aumento foi grande: cerca de 12% da população sem-teto total está sendo alojada agora em quartos de hotel, em comparação com apenas 4% em janeiro.

Em 1º de janeiro, a cidade usava 508 quartos de hotel para famílias desabrigadas com crianças, em um total de 1.237 pessoas, de acordo com o Departamento de Serviços para Sem-Teto. Em 30 de novembro, foram alugados 2.418 quartos para famílias com crianças, em um total de 5.798 pessoas.

Agora, a cidade planeja expandir seu portfólio de hotéis para famílias desabrigadas em até 436 quartos, sendo 225 deles reservados para famílias sem filhos menores de idade –a primeira vez que a cidade reserva quartos de hotel para essas famílias, de acordo com autoridades. A cidade também planeja adicionar cem ou mais quartos de hotel para pessoas desabrigadas.

A expansão acontece em meio à luta da cidade para alojar uma população sem-teto recorde –problema que poderia se tornar um obstáculo na campanha do prefeito Bill de Blasio à reeleição no próximo ano.

"Olha, eu admito isso", disse Blasio na rádio WNYC na quarta-feira,7, referindo-se ao aumento da população em situação de rua. "Estamos contendo esse crescimento e começando a revertê-lo, e acho que vamos poder mostrar progressos reais em breve."

Ele enumerou algumas iniciativas que foram implantadas pela sua administração, incluindo assistência jurídica para ajudar os inquilinos a lutar contra o despejo. "Vamos chegar a uma visão muito mais abrangente sobre a falta de moradia nos próximos meses, mas posso dizer que muitas dessas iniciativas estão sendo bem sucedidas."

Mas a crescente dependência de hotéis vai contra a promessa de Blasio de reduzir a prática. Em fevereiro, uma mulher sem teto e dois de seus filhos foram fatalmente esfaqueados em um hotel de Staten Island, onde a cidade os havia alojado por não ter vagas em um abrigo.

"O objetivo é usar os hotéis cada vez menos, até parar de utilizá-los", disse o prefeito no dia das mortes, reconhecendo que poderia haver momentos em que a cidade, que precisa fornecer abrigo para os sem-teto, teria de recorrer a hotéis como solução temporária. "Mas o que estou dizendo é que o objetivo a curto prazo é reduzir o uso de hotéis de forma intensa."

Problemas

O uso de quartos de hotel é muito mais caro do que outras alternativas, e os defensores dos sem-teto dizem que eles servem pouco às necessidades das famílias: normalmente não há cozinhas e a privacidade é pouca; os hotéis podem não ficar perto de escolas; e pode ser mais difícil fornecer às pessoas os serviços de que precisam.

A adoção de hotéis de baixo custo, pela cidade, para abrigar os sem-teto se transformou em um fator crítico este ano; grupos da sociedade civil no Queens recorreram a ações judiciais e protestos violentos –incluindo um na frente da casa de Steven Banks, o comissário de serviços para os sem-teto– para combater o plano da cidade de converter um hotel em um abrigo para pessoas em situação de rua, em Maspeth. A cidade abandonou o plano, mas depois alugou quartos lá para abrigar 30 homens desabrigados pela tarifa padrão de US$ 160 (cerca de R$ 541) por noite.

A cidade declarou sua intenção de aumentar o uso de hotéis em uma série de cartas em busca de aprovação de despesas de emergência, enviadas ao controlador da cidade, Scott M. Stringer, e ao promotor Zachary W. Carter, cujos gabinetes supervisionam os contratos.

Em uma resposta esta semana, Stringer aprovou o pedido, mas disse que tinha "profunda apreensão" em relação à abordagem que está sendo usada pela cidade, citando exemplos de como os hotéis são considerados substitutos inadequados de outras formas de abrigo.

"Eles querem um aumento dramático do alojamento de pessoas em hotéis comerciais, e disseram que não iriam fazer isso", disse Stringer. "É preocupante a falta de transparência nesse processo."

A cidade informou nesta semana um número recorde de pessoas em abrigos para sem-teto, com 60.686 em vários tipos de abrigos, incluindo hotéis. Quase 40% delas são crianças.

Quando De Blasio se tornou prefeito, em janeiro de 2014, a população em abrigos era de 51.470 pessoas.

Com o sistema de abrigos no limite, a cidade começou a utilizar hotéis de baixo custo.

Quartos de hotel

De acordo com David Neustadt, porta-voz dos serviços para os sem-teto, o número de quartos de hotel aumentou em parte quando a cidade tentou eliminar outro tipo de moradia para a população em situação de rua, conhecida como agrupamento. Nesse tipo de habitação, grupos sem fins lucrativos, sob contrato com a cidade, alugam apartamentos, muitas vezes vários deles em um edifício, como abrigo temporário para famílias desabrigadas.

O agrupamento é considerado problemático porque tira do mercado apartamentos acessíveis e, como os apartamentos estão espalhados, pode ser difícil obter serviços adequados para as famílias. Na quarta-feira, duas meninas cuja família foi alojada pela cidade em um desses apartamentos morreram, aparentemente depois de serem queimadas pelo vapor de um radiador.

Neustadt disse que a cidade buscava autorização para usar mais quartos de hotel à medida que o inverno se aproximava, uma época em que mais pessoas normalmente procuram abrigo. Ele acrescentou que o problema deixou em evidência a necessidade de construir mais abrigos.

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