Homenagem

Aldo Leite e o Teatro Maranhense

Teatrólogo maranhense é um dos principais representantes do teatro no Estado

Arlete Nogueira da Cruz/ Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
Aldo Leite, Jorge Tadeu e Reynaldo Faray com figurino de espetáculo (Aldo Leite)

O Maranhão, nestes últimos três anos, perdeu vultos cuja importância em nada fica a dever ao que de melhor existe na cultura brasileira. Com exceção de Papete, que vivia em São Paulo, todos eles, a partir da segunda metade do século XX, criaram marcas em São Luís, acabando por deixá-las indeléveis na cultura do estado. Quem pode negar o valor dos poetas José Chagas e Nauro Machado, dos músicos/compositores Papete e Humberto do Maracanã, do pesquisador/historiador Jomar Moraes, dos filósofos José Maria de Jesus e Silva e José Maria Ramos Martins e, finalmente, dos teatrólogos Ubiratan Teixeira e Aldo Leite? Nomes que, fazendo parte de uma superlativa e importante geração, inscreveram seus nomes, pelo conhecimento, pela dedicação e pelo talento, na mais alta expressão cultural do Maranhão.

Aldo Leite, o criador de Tempo de Espera, faleceu no último sábado. Não foi apenas um autor de peças teatrais, foi também ator e diretor de teatro, deixando-nos um livro, “Memória do Teatro Maranhense”, livro que preencheu uma lacuna, pois o que tínhamos sobre o tema, até então, era a notável pesquisa de José Jansen, intitulada” Teatro no Maranhão: até o final do século XIX”.

Aldo pediu-me que fizesse as orelhas do seu livro talvez pelo fato de eu ter dirigido o Teatro Arthur Azevedo durante aqueles longos, dolorosos, mas férteis anos – de 1973 a 1979 – não só na área teatral, mas também na área musical do Maranhão, quando vivíamos sob a forte censura do regime militar e quando o palco do TAA se constituiu no único espaço, em São Luís, de resistência ao golpe de 1964.

Em que pese no livro de Aldo Leite uma pouca informação sobre o teatro maranhense durante os primeiros 50 anos do século XX, temos, no seu livro, justiça seja feita, no longo artigo de Nauro Machado (publicado anteriormente em jornal) e numa entrevista com Ubiratan Teixeira, ricas informações sobre o teatro local nos anos 1950 e 1960, com ações de artistas que contribuíram para projetar a significativa atuação teatral dos anos seguintes, anos que Aldo privilegia.

Não posso falar nos diretores de teatro no Maranhão a partir dos anos 1970, sem me referir às figuras proeminentes de Reynaldo Faray, Tácito Borralho e Aldo Leite, este que teve a ideia de reunir no citado livro um rico material com depoimentos e uma farta iconografia, constituindo-se “Memória do Teatro Maranhense” em importante documento sobre o teatro do Maranhão dos últimos anos e quando Aldo coloca em destaque a luta para obter uma organização e uma teatral conscientização de classe, enfatizando inclusive a necessária preferência por um tipo de teatro popular, desejando eu, sinceramente, que isto não viesse a tornar-se uma redutora expressão da arte teatral entre nós.

Em Aldo Leite temos um artista que soube, com Tempo de Espera, realizar a arte no seu sentido mais próprio, mais contundente, mais desejável e mais peculiar. E não foi por outra razão que ele ganhou com este seu belíssimo espetáculo teatral, de uma só vez, os três melhores e mais altos prêmios que temos de teatro no Brasil: o Molière, o Mambembe e o da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Elizabeth Lesseur disse que “uma alma que se eleva, eleva o mundo”. Aldo com seu Tempo de Espera soube elevar-se, elevando consigo o mundo maranhense de teatro.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.