Empreendedorismo

Indústria de Igarapé Grande distribui queijo para o Mearim

O paraibano Seifer Medeiros veio para o Maranhão nos anos 1980 e hoje é dono de laticínio com capacidade de processar 10 mil litros de leite diariamente

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45
Linha de produção de produtos derivados do leite no Laticínio Igarapé, onde são processado cerca de 10 mil litros de leite por dia (Produtos)

Igarapé Grande - A história do paraibano, ex-produtor de cana de açúcar, Seifer Medeiros, poderia ser mais uma entre tantas outras histórias contadas de nordestinos do campo que resolvem fugir da seca, em busca de uma vida melhor. Poderia, se não fosse sua trajetória empreendedora, que começou há 25 anos. Hoje, com 83 anos, ele afirma ver sua vida e de sua família tomar rumos nunca imaginados: o empresário está tocando sua segunda queijaria e é referência na produção e comercialização de queijo na Região do Médio Mearim.

Seu Seifer, como todos o conhecem na região, começou a trabalhar muito cedo. Ainda adolescente ele já ajudava os pais no cuidado diário com a lavoura. Até que na década de 1980, viu uma forte estiagem atingir em cheio a região aonde vivia com a família no interior da Paraíba.

Pobre e sem perspectivas de melhoria, Seifer Medeiros viu que era hora de dar um novo rumo para a sua vida. Decidiu então se mudar com a família para o interior do Maranhão, mais precisamente para Igarapé Grande, um município pequeno com pouco mais de 11 mil habitantes e que fica a cerca de 300km da capital, São Luís.

Foi então que em 1992, Medeiros tomou a decisão que mudaria a sua vida e de toda a sua família. Com a ajuda da esposa e dos filhos, decidiu fundar a Casa do Queijo, onde produzia queijo coalho e manteiga, utilizando técnicas aprendidas com a mãe. Tudo muito rudimentar e sem nenhuma orientação, mas que naquele momento garantia o sustento de toda a família.

Seu Seifer foi durante muito tempo um empresário informal, porém preocupado com a qualidade do queijo que produzia, aplicava algumas medidas de higiene que julgava suficientes e necessárias para a produção, mas no ano de 2013, após uma denúncia anônima, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Maranhão (Aged) interditou a Casa do Queijo, alegando que as condições de produção não atendiam os padrões sanitários exigidos por lei.

Nesse dia o mundo de Seifer e de sua família veio abaixo e foi nesse momento que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) entrou na vida da família Medeiros.

Parceria

Desesperados e sem saber a quem recorrer, o filho do comerciante, José Carlos de Medeiros, que hoje é o responsável direto pelo gerenciamento do laticínio, após ser aconselhado por amigo da família, resolveu buscar a ajuda do Sebrae. A partir de então, segundo eles, deixaram de ser uma pequena queijaria de “fundo de quintal” e passaram a ser um verdadeiro laticínio.

Destemido e arrojado, Seu Seifer, com o apoio da família, decidiu unir todas as economias de uma vida inteira e apostar em um projeto ousado e sem precedentes na região. Sob a supervisão e acompanhamento do projeto Cadeia Produtiva do Leite no Médio Mearim, desenvolvido pela Unidade Regional do Sebrae em Bacabal, nasceu o Laticínio Igarapé, que hoje produz e comercializa queijo manteiga, queijo coalho, manteiga de garrafa e doce de leite.

“Eu costumo dizer que se não tivesse sido o apoio dado a nossa família pelo Sebrae, o sonho do meu pai teria morrido ali. E com ele, a garantia de sustento de grande parte da nossa família. Mas, aquele foi o momento de darmos um novo passo na história da família Medeiros”, conta emocionado José Carlos.

O acompanhamento realizado pelo Sebrae foi abrangente, envolveu desde a elaboração da logomarca do produto, passando pela embalagem de comercialização, manual de procedimentos e técnicas de fabricação, cuidados com higiene e limpeza na manipulação dos alimentos e a parte de produção propriamente dita, com consultorias voltadas para a montagem da linha de produção, transporte e comercialização dos produtos.

Desenvolvimento

Para a gerente regional do Sebrae de Bacabal, Graça Fernandes, que acompanha o processo de adequação do laticínio desde o início, é gratificante ver o desenvolvimento que a empresa alcançou.

“O caso do Laticínio Igarapé foi um grande desafio para nós tanto pessoal quanto profissional. Quando chegamos lá, procurados por eles, encontramos uma empresa familiar, que já havia superado muitos desafios e que do dia para a noite viu a sua principal fonte de renda ser interditada. Existem algumas ações em que precisamos ir além do institucional, precisamos ser parte do negócio e nesse caso nós passamos praticamente a ser parte da família Medeiros”, enfatizou Fernandes.

“O caso do Laticínio Igarapé foi um grande desafio para nós tanto pessoal quanto profissional”

Graça Fernandes

Gerente regional do Sebrae de Bacabal

De queijaria improvisada ao laticínio

O acompanhamento constante desenvolvido pelo Sebrae e o espirito empreendedor da família Medeiros, transformou a pequena queijaria, que antes não chegava a beneficiar 4 mil litros de leite por dia, em um gigante com capacidade de processamento de 10 mil litros de leite diários, uma capacidade única na Região do Médio Mearim e das maiores do interior do estado.

Empregando hoje 11 funcionários, na grande maioria membros da família do empresário, o Laticínio Igarapé além de produzir queijo suficiente para abastecer toda a região, ainda ajuda a cadeia produtiva de leite, comprando a matéria prima diretamente de pequenos e médios produtores locais.

Preso as raízes e a sua história, Seu Seifer faz questão de manter aberto, agora apenas como local de venda dos produtos, a antiga Casa do Queijo onde tudo começou. Segundo ele, isso é para que as gerações que estão chegando nunca esqueçam de onde eles vieram e como tudo começou.

Hoje os queijos e produtos do Laticínio Igarapé já tem o Selo de Inspeção Estadual (SIE), o que permite a venda dos produtos em todos os municípios do Maranhão.

Certificação

O próximo passo é garantir a certificação e poder vender para outros estados o queijo que é visto por muitos como um dos melhores do Maranhão. E esse passo já está sendo dado e a certificação, com a outorga do Selo de Inspeção Federal (SIF), que permitirá a comercialização dos produtos do laticínio, além das divisas do estado, está muito próxima de acontecer e consumidores dos estados vizinhos poderão conhecer.

“O principal ingrediente do nosso queijo é o amor. Eu, como todo nordestino, como todo brasileiro, sou apaixonado pelo que faço. Já estou cansado, já estou velho, mas peço todos os dias aos meus filhos que hoje tocam o negócio, que se dediquem a nossa conquista e procurem continuar melhorando a empresa”, comentou Seifer Medeiros.

“O principal ingrediente do nosso queijo é o amor. Eu, como todo nordestino, sou apaixonado pelo que faço”

Seifer Medeiros

Empresário

69% das empresas maranhenses são familiares

No Maranhão, de acordo com a pesquisa “Relatório Especial- Empresa Familiares”, produzido pelo Sebrae Nacional, 69% das empresas de micro e pequeno porte (MPE) são empresas familiares, ou seja, que tem como sócios ou empregados, parentes. Isso equivale a 113 mil empresas familiares atuando no estado. O Laticínio Igarapé é um caso de sucesso dentre as empresas maranhenses com esta característica.

Ainda de acordo com pesquisa do Sebrae, esta é a maior proporção de empresas familiares do país, a frente de Santa Catarina, que ficou em segundo lugar com 68%, e do Espírito Santo, que ficou com o terceiro lugar com 64%.

Para o diretor superintendente do Sebrae no Maranhão, João Martins, há mudanças no cenário global que cria a necessidade de profissionalizar a gestão dos negócios para garantir a sobrevivência a longo prazo.

“No mundo atual, onde o mercado está cada vez mais competitivo, é muito importante que as empresas familiares profissionalizem a gestão. Temos acompanhando várias empresas com este perfil e que já estão atentas a este desafio. Só crescerá quem se preocupar em ter processos estáveis e que possam atender as demandas emergentes do mercado em que atua. O processo de profissionalização deve abarcar todas as práticas e sistemas, desde a área financeira, a gestão de pessoas, de operação até a gestão de riscos”, comentou.

Para o diretor superintendente do Sebrae no Maranhão, João Martins, há mudanças no cenário global que cria a necessidade de profissionalizar a gestão dos negócios para garantir a sobrevivência a longo prazo.

“No mundo atual, onde o mercado está cada vez mais competitivo, é muito importante que as empresas familiares profissionalizem a gestão. Temos acompanhando várias empresas com este perfil e que já estão atentas a este desafio. Só crescerá quem se preocupar em ter processos estáveis e que possam atender as demandas emergentes do mercado em que atua. O processo de profissionalização deve abarcar todas as práticas e sistemas, desde a área financeira, a gestão de pessoas, de operação até a gestão de riscos”, disse Martins.

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