Polêmica

Maranhenses publicam "nudes" e discutem liberdade feminina

Duas mulheres que usaram as redes sociais para mostrar o seu corpo contam como acabaram por encarar a opressão nas redes sociais

Thamirys D'Eça / O ESTADO ONLINE

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50
Nathalia Ferro com o produtor e personal stylist Jojô Lobato

"País tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas que beleza! Em fevereiro tem carnaval". O Brasil é conhecido como um lugar tal qual o descrito por Jorge Ben Jor na icônica música “País Tropical”. Cheio de belas paisagens e mulheres que exibem corpos invejáveis durante os dias de folia momesca, o país serve a ideia de um lugar, sobretudo, de liberdade sexual. A prática, porém, não é bem assim, como contam duas maranhenses que usaram as redes sociais para mostrar a nudez, mas que acabaram por encarar a opressão.

O "nude", que em português significa "nu" e hoje é bastante usado como uma espécie de gíria, tem corrido a web com diversas conotações. Em algumas delas, como estímulo à liberdade de expressão e da desmistificação do corpo feminino. A cantora Nathalia Ferro, de 31 anos, por exemplo, publicou na sua página pessoal de uma rede social fotos em que aparece nua.

"Todas as vezes que postei sempre foi com uma intenção de provocação, mais para abrir para uma consciência e fazer com que se pare e pense o que de fato significa esse corpo, principalmente o corpo feminino, que é tão sexualizado, contestado e ‘objetificado’ e que, no entanto, é tão banal", analisa.

Para a artista, o corpo é uma forma de comunicação e que deve ser usado para tal, mas muitas vezes acaba sendo demonizado ou usado apenas dentro do âmbito da perversão e da luxúria. "Eu tenho um corpo para me comunicar e me deixa muito satisfeita conseguir dizer alguma coisa através dele. Me incomoda a gente não poder dispor dele para passar algumas mensagens, pois a gente pode ser mal interpretada ou violentada", considera.

Críticas

Mesmo com a proposta de mostrar a liberdade feminina e até ganhar apoio entre vários internautas, as críticas também fervilharam nos comentários. Outra maranhense, que preferiu não se identificar, afirma que fazia publicações do tipo, mas hoje em dia prefere não postar mais os "nudes" por causa das críticas ferrenhas que recebeu na época.

"Eu fazia porque eu queria me sentir bem com meu corpo, para chocar a sociedade e para mostrar que o corpo é meu, mas as pessoas te enxergam como uma vadia. Além disso, eu sou gorda e fora dos 'padrões' e isso acaba chocando", diz.

As críticas quanto às postagens vinham até mesmo da família das duas maranhenses. Nathalia Ferro, porém, não se intimidou e usou o posicionamento dos parentes para analisar o impacto das publicações. "Eu acho interessante o questionamento. É também uma forma de entender como essa mensagem chega e, a partir disso, começar a trabalhar melhor e mais sabiamente essa mensagem para que ela possa de fato chegar nas pessoas em vez de simplesmente confrontá-las ou agredi-las", comenta.

As postagens, porém, não provocaram apenas discussões. Internautas que se sentiram incomodados com as fotos denunciaram a postagem e as duas mulheres acabaram sendo banidas da rede por mais de uma vez. Elas tiveram fotos removidas, o que também incomodou e até de certa forma desestimulou as duas.

Avanços e interferências

Mesmo com as críticas, Nathalia Ferro percebe avanços quanto à liberdade e enxerga as redes sociais como uma ferramenta para isso, mas também se preocupa como vem sendo usada. Para ela, as mídias digitais permitem que as pessoas expressem suas opiniões das mais diversas formas, mas muitas vezes sem aprofundamento.

"Essa discussão sobre esse espaço que a mulher vem ganhando e a igualdade que a gente almeja não pode ser empoderado de uma maneira irresponsável, só para causar confusão, só para causar furor, pois a gente acaba se perdendo dentro do nosso discurso. Preocupa observar algumas discussões sendo feitas nas mídias sociais de maneira completamente irresponsável", expressa.

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