Casos de mortes de blogueiros ainda não foram elucidados

Após dois meses da morte do blogueiro Ítalo Diniz Barros, de 30 anos (morto na cidade maranhense de Governador Nunes Freire, no dia 13 de outubro deste ano) e 54 dias do crime que vitimou o também blogueiro Orislândio Timóteo Araújo, o Roberto Lano, assassinado no município de Buriticupu no dia 21 de outubro, até o momento, a polícia não apresentou os autores dos crimes. De acordo com a Superintendência de Homicídios do Maranhão (SHPP), equipes da polícia permanecem apurando o caso, com equipes nas cidades onde aconteceram as mortes.

Segundo o delegado titular da SHPP e que está à frente das investigações, Leonardo Diniz, como se tratam de crimes definidos “como complexos”, por enquanto ainda não há previsão para a elucidação dos casos. De acordo com o representante da Polícia Civil do Estado, conforme garantido em lei, o inquérito que apura o caso ainda não tem prazo para conclusões. Até o momento, nenhuma prisão preventiva foi decretada.

O delegado titular da SHPP confirmou ainda ontem a O Estado que as equipes da SHPP, com o apoio da Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI), permanecem nas cidades de Governador Nunes Freire e Buriticupu. No entanto, apesar da permanência da polícia nestas localidades, para o colhimento de informações, não está descartada a possibilidade de que os autores dos crimes tenham ligações com cidades vizinhas e de outros estados.

Caso Ítalo Diniz – O delegado titular da Delegacia de Homicídios, Guilherme Sousa Filho, que está sob a responsabilidade direta da apuração do caso da morte de Ítalo Diniz, confirmou que o blogueiro já havia registrado denúncia à polícia por ameaças sofridas por políticos da região. “Estes documentos estão sob a responsabilidade do Instituto de Criminalística”, disse. O delegado confirmou ainda que há uma distância temporal considerável entre o registro das ocorrências de ameaças e a data da morte do crime. “Mesmo assim, são documentos importantes na investigação”, afirmou.

Repercussão - A diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Irina Bokova, condenou esta semana a morte do blogueiro Ítalo Eduardo Diniz Barros. Segundo a direção da entidade mundial, “ são condenáveis os casos de mortes de profissionais de mídia, em todas as partes do mundo”

De acordo com a diretora da UNESCO, é necessária pronta investigação do caso. “Eu apelo às autoridades para que investiguem esse crime e levem os perpetradores rapidamente à justiça. A liberdade de expressão é um direito humano básico e temos que fazer tudo para aprimorar a segurança dos jornalistas”, afirmou.

Relembre – De acordo com as primeiras informações da polícia, Roberto Lano foi atingido por disparos por um suspeito em uma motocicleta e morreu ainda no local do crime, em Buriticupu. Ainda segundo testemunhas, o autor fugiu logo em seguida. A polícia confirmou ainda que, no momento do crime, Roberto Lano estava em uma motocicleta com a esposa dele quando foi interceptado pelo suspeito.

No dia do crime, a Polícia Militar do Maranhão esteve no local do crime e realizou buscas pelo suspeito, no entanto, ninguém foi encontrado. Além de blogueiro, Roberto Lano era conhecido na cidade de Buriticupu por trabalhar em campanhas políticas locais e promover eventos, especialmente na Região Tocantina do estado.

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As características do assassinato de Roberto Lano se assemelham às de Ítalo Diniz que foi morto por dois homens que estavam em uma moto, efetuaram os disparos e fugiram. Mesmo tendo sido levado para o hospital da região, o blogueiro Ítalo Diniz morreu logo em seguida.

No perfil de seu blog, Ítalo Diniz – além de destacar o início de sua página (que teria sido ativado a partir do dia 3 de julho de 2011) – também afirmou (sem citar diretamente nomes) que a página serviria para “desvendar muitos desmandos da atual administração” da cidade de Governador Nunes Freire.

Correlata

Casos de mortes de blogueiros repercutiram nacional e internacionalmente

Os casos das mortes dos blogueiros Ítalo Diniz e Roberto Lano repercutiram nacionalmente, dada à preocupação de entidades de defesa dos direitos humanos e sociais com a liberdade de imprensa e ameaças contra a vida. Além de associações ligadas a jornais, organizações não-governamentais e outras entidades.

A organização com ramificações internacionais, Article 19, que realiza atividades de acesso à informação no Brasil desde 2005 definiu os assassinatos como os de um “cenário hostil à liberdade de expressão”. De acordo com a organização, essa seria a situação atual do Maranhão que apresentou, ao Brasil e ao mundo, a morte de dois profissionais da informação em um intervalo de oito dias. Outra entidade que se pronunciou sobre os casos foi a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) que defende a liberdade de expressão, de pensamento e propaganda. Representantes da ANJ buscaram, há algumas semanas, contato com a redação de O Estado, no intuito de saber outras informações sobre os assassinatos dos blogueiros.

Ainda segundo a direção da ANJ, devido ao caso, um relatório sobre a liberdade de imprensa no país está em fase de elaboração, para chamar a atenção sobre, de acordo com o documento, a falta de proteção ao exercício do trabalho dos jornalistas e demais profissionais de imprensa no país.

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