Opinião

A arte de anestesiar

artigo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54

Em 16 de outubro de 1846, o dr. Willian Thomas Green Morton realizou a primeira anestesia com éter no Hospital Geral de Massachusetts. Fato que levou o cirurgião John Collins Warren a proferir as seguintes palavras: “Daqui a muitos séculos, os estudantes virão a este Hospital para conhecer o local onde se demonstrou pela primeira vez a mais gloriosa descoberta da ciência”. Por essa razão, valetranscrever na íntegra o epitáfio daquele que se tornou, pela medicina, um grande benfeitor da humanidade: “Aqui jaz W.T.G. MORTON, o descobridor e inventor da anestesia. Antes dele, a cirurgia era sinônimo de agonia. Por ele foram vencidas e aniquiladas as dores do bisturi. Depois dele a ciência é senhora da dor.”.
A palavra anestesia significa ausência de sensibilidade ou, especificamente, sensibilidade dolorosa. Aliás, a semânticadeste vocábulo de etimologia grega (anaisthesis) abrange também os conceitos de responsabilidade, competência, conhecimento e dedicação. Mesmo assim, muitos pacientes e/ou familiares ainda sofrem de “anestesiofobia” em pleno século XXI. No entanto, vale ressaltar que a anestesiologia é uma especialidade médica extremamente segura. Essa segurança baseia-se sobretudo na eficácia das drogas, dos aparelhos e na formação de profissionais qualificados para enfrentar situações cada vez mais desafiadoras para a medicina. Por isso, bebês, crianças, jovens, adultos e idosos são anestesiados, inclusive em nossa cidade, com a máxima segurança.
Durante a anestesia, aparelhos de alta precisão tecnológica são conectados ao corpo do paciente para transcriar em linguagem numérica e/ou ondulatória as funções fisiológicas/patológicas de diferentes órgãos ou sistemas. Os cardioscópios, por exemplo, registram os batimentos cardíacos, os oxímetros de pulso, o teor de oxigênio no sangue, os capnógrafos, a concentração de gás carbônico expirado, o TOF (Train-of-four), o grau de relaxamento da musculatura esquelética, o BIS (Índice Bi-Spectral), a atividade cerebral do paciente anestesiado... Tais aparelhos lembram os instrumentos da cabine de um Boeing 747, que ao sobrevoar montanhas, florestas, oceanos, mares, rios, campos, cidades transporta centenas de vidas com extrema segurança.
A American Society of Anesthesiology (ASA) e a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) estabelecem protocolos que orientam a atividade do anestesistesiologista. Entretanto, ale­goricamente, cada anestesiologista deveria ter vários olhos incrustados no corpo, ou seja, na testa, na nuca, na ponta dos dedos, no peito, nas costas, nas pernas, nos pés... Todos interligados para possibilitar o imediato diagnóstico e/ou tratamento de quaisquer complicações decorrentes da anestesia ou da cirurgia. A propósito das alegorias, na sala do professor dr Armando Fortuna (a quem a Anestesiologia Brasileira deve muitas homenagens), a imagem de um gigantesco polvo com múltiplos olhos em seus tentáculos demonstra ser o anestesista uma peça indispensável no binômio anestesia-cirurgia. Tais alegorias simbolizam, portanto, a importância desse profissional que tem o privilégio de cuidar do maior patrimônio do ser humano: a vida.
Hoje osanestesiologistas maranhenses estão de parabéns, inclusive os que já estão (anestesiando) em outros patamares: dr. Ferreira Sobrinho, dr. Pires Ferreira, drMochel, dr Rossini, dr Geraldo Lacerda, draLilalea, dra Ana Lurdes, dra. Lícia Maria, dr Paulo Prazeres, dr Moreira. Enfim, o mestre Hipócrates ensina há mais quatro séculos antes de Cristo a seguinte lição: Sedare dolorem opus divinum est, ou seja, a mais fascinante lição da nossa especialidade.

José Rafael de Oliveira
Anestesiologista
E-mail:oliveirajrafael@bol.com.br

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