Arraial, a praia de pescadores que encanta seus visitantes

Tranquilidade e belezas naturais; riquezas que os turistas vão poder encontrar na Praia do Arraial.

Atualizada em 11/10/2022 às 13h04
Biné Morais (T)

Dona Duca chegou ao Arraial há nove anos para comprar um peixe e nunca mais voltou para casa. Seu Reis, pescador experimentado da vida, também foi na praia há uns 19 anos, e também nunca mais retornou para sua terra de origem, do outro lado da baía, em Icatu. Já dona Nilde, essa ainda consegue ir e vir de sua casa, na Vila Maranhão, mas diz que está apaixonada pelos encantos da pequena vila, localizada a sudeste da Ilha de São Luís, a meio caminho de quem vai para a comunidade do Quebra-Pote, na zona rural da capital maranhense.

Segundo os moradores mais antigos do local, a praia era um antigo assentamento federal, que acabou não dando certo por causa da distância para as regiões mais centrais da cidade. Acabou se tornando um polo de pescas e receptação de pescados, além da Baía do Arraial, que banha a vila e separa a Ilha de São Luís das cidades de Rosário, Icatu, Axixá, entre outras.

Seu Reis, ou Manoel Felício Costa, nasceu em Icatu, mas fez nome e carreira de pescador em Axixá. Chegou ao local na época do assentamento e, por ser pescador, ganhou um pedacinho de terra para construir sua casa. Hoje, aos 61 anos, já está aposentado de ter que ir atrás do peixe todos os dias. Mas montou seu pequeno comércio, à beira-mar, onde vende de tudo, desde caneta, até a farinha crocante e amarela que comercializa aos montes. Também vende pescado, muito pescado. Ele compra os mariscos dos pescadores que aportam na vila e revende em diversos bairros de São Luís.

Mas o pescado está ficando pouco, isso porque, além da queda na quantidade de animais capturados, o pessoal do arraial não anda mais querendo saber de entrar em barco, mas de se empregar para conseguir o sustento. De acordo com Reis, são poucas as pessoas que ainda têm barcos e vão para o mar. Fora isso, a vida que Reis leva na vila é tranquila, sem os problemas da cidade grande. "Aqui eu não brigo com ninguém e ninguém briga comigo", afirma o homem.

Encantamento - Quem também se encantou pela tranquilidade do local à primeira vista foi Maria dos Remédios Lima, a dona Duca, hoje com 57 anos. Como a filha estava grávida, Duca e o genro foram até a Praia do Arraial comprar um peixe. Entre risos, a mulher conta que achou o peixe, mas comeu tudo na hora, de tão bom que era. Esperou outra remessa chegar, mas também comeu. E foi assim por vários e vários anos.

Hoje seu neto tem 9 anos e a senhora conta que praticamente não volta mais à sua casa, no Tibiri, pois comprou outra em Arraial e vive lá, esse tempo todo com o filho mais novo. "Eu nem gosto mais de voltar na minha casa. Aqui eu tenho tranquilidade, paz e peixe à vontade", frisa.

E fome ela não passa mesmo. Em casa, Duca tem redes, tarrafas e todos os utensílios de pesca. Quando dá vontade, ela mesma corre até a praia e pega o almoço do dia, que pode ser um camarão, um sarnambi, ou mesmo peixe. Tem de tudo nas águas da Baía do Arraial, inclusive as enormes arraias que batizam o local.

Os pescadores Wellison e Douglas enfrentam uma hora, ou até mais, de barco de Guaramiranga, em São José de Ribamar, para chegar ao Arraial em busca dos peixes, principalmente as arraias, cuja maior eles pegaram na última quinta-feira. A bicha pesava 50 kg e precisou de um carro de mão para ser transportada. Quase toda a pesca eles conseguem vender para seu Reis, o restante eles levam para casa.

Vontade de morar - A praia do Arraial não tem os atrativos das outras. Nada de areia branca, nem de ondas, ou águas mornas. O que ela oferece é aventura e tranquilidade. Os manguezais tomam conta de praticamente toda a orla. Quando a maré está cheia, é impossível andar pela areia sem se atolar na lama. Na seca, surgem os currais de criação de camarão, que estão o tempo todo lotados de garças e guarás, em busca de alimento fácil. Na areia, os pequenos caranguejos e siris percorrem todo o litoral, e quando aparece um humano ou uma ave predatória, eles correm a se esconder em tocas cavadas no chão.

Nilde Gomes vai para o Arraial em busca de tranquilidade. Moradora da Vila Maranhão, ela toda semana está na praia para dar uma acalmada na correria da vida e tomar uma cerveja tranquilamente no bar da dona Maria do Rosário. Ela diz que em São Luís não tem condições de fazer isso, pois o medo e a insegurança falam mais alto. O resultado é que Nilde já está em negociação para comprar um terreno no local e construir sua casa. "Eu vou é sair de lá e vir para cá que é muito mais tranquilo", afirmou.

Dona Maria do Rosário, a dona do bar, também tem casa em São Luís, no Sacavém, mas dificilmente a visita. Ela e o marido contam que resolveram abrir o bar, à beira do mar, para vender cerveja e bater um papo com os visitantes, que aparecem mais aos fins de semana. No resto dos dias, o barulho é somente das águas do mar e das aves, incluindo urubus, que são atraídos pelos peixes trazidos pelos pescadores.

Quebra-Pote não consegue mais viver de pescados

Um pouco antes de chegar no Arraial, na foz do Rio Tibiri, existe a comunidade do Quebra-Pote. A princípio, uma comunidade pesqueira, hoje o local não sobrevive mais da pesca, por vários motivos. José Barbosa, pescador há 35 anos, diz que o peixe é pouco e são poucas as pessoas que ainda querem ir para o mar em sua busca.

João Dias Ferreira, o Amarelo, ressalta que fica até mesmo difícil ensinar o ofício para os mais novos, já que não pode levar os filhos com ele para a pesca, porque o Conselho Tutelar bate em cima e os acusa de exploração do trabalho infantil.

Ele, que aprendeu a pescar com o pai, conta que a vida de muitos adolescentes que se perdem no mundo hoje seria diferente se eles pudessem aprender alguma coisa com os pais. Mas ressalta que o mais importante mesmo é ir para a escola. "Meus pais me educaram trabalhando, mas nunca me obrigaram a trabalhar. Levo meus filhos para a pescaria, mas digo a eles que o serviço deles é estudar", afirma o homem.

Amarelo ganha a vida como pescador, ele diz que não sabe fazer outra coisa além disso, e que enquanto tiver dando para comer e pagar as contas vai seguir nessa vida. Só não sabe até quando, pois, como afirmam os pescadores, o peixe está escasseando na região.

Leia mais notícias em OEstadoMA.com e siga nossas páginas no Facebook, no Twitter e no Instagram. Envie informações à Redação do Jornal de O Estado por WhatsApp pelo telefone (98) 99209 2564.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.