Oziel Filho, músico “Minha inspiração vem de Deus”

Ozielzinho apaixonou-se pelos acordes ainda na infância e tornou-se uma referência como guitarrista após participar de concursos pela internet.

Jock Dean Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 13h06
Paulo Soares (T)

Quando O Estado chegou à casa de Oziel Filho, ele imediatamente apontou o caminho do seu estúdio de gravação, onde falou por mais de uma hora sobre sua carreira como guitarrista. Pouco tempo, levando em consideração que ele mesmo afirma que passa o dia inteiro gravando e praticando, apesar dos protestos que ouve vez ou outra da esposa. E por ser guitarrista, pode-se imaginar que ele tenha o cabelão, vista preto da cabeça aos pés e seja um fã ardoroso do heavy metal. Mas Ozielzinho, como é mais conhecido, até tem o cabelo comprido, mas nem tanto, e tem total predileção pelo rock, mas, por ser presbiteriano, costuma ouvir mais o rock evangélico.

Bacabalense, Ozielzinho morou a maior parte da vida em Santa Inês. Caçula de três irmãos, ele deveria ser santa-inesense, mas no dia do seu nascimento não havia médicos na cidade e seu pai foi com sua mãe para Bacabal, voltando com a esposa e filho para Santa Inês logo após seu nascimento. Diferente dos outros meninos, ele não era tão fã assim de futebol, preferindo passar o tempo com jogos como fliperama.

Aos 9 anos, quando descobriu a música, sua rotina diferenciou-se ainda mais da das outras crianças da cidade. "Eu tinha meu lazer de qualquer criança, mas era muito focado na música. Tanto que na quarta série reprovei porque passava as aulas fazendo partitura", lembra. A reprovação motivou um castigo dado pelos pais, mas nunca a proibição de continuar o aprendizado de música. "Minha família é de músicos tanto do lado do meu pai, quanto do lado da minha mãe. Então, sempre me incentivaram, mas, claro, cobravam os estudos também", conta.

Foi o irmão mais velho, Elielson, quem lhe ensinou os primeiros fundamentos musicais com um violão. Ao mesmo tempo, aprendeu a tocar instrumentos de sopro na igreja. Depois das primeiras lições, passou a pesquisar em revistas e na internet e foi aprendendo autodidaticamente. "Naquela época, não havia tanta informação em Santa Inês e nem uma internet tão rápida. Então, eu fui aprendendo sozinho a parte mais técnica", comenta.

Dedilhando - Pouco tempo depois, ele já tocava violão em cultos da igreja com o pai, que deixava que ele tocasse algumas músicas mais fáceis. Sua primeira apresentação de fato, pelo menos a que ele lembra como tal, foi aos 14 anos, quando fez o solo de uma música com a banda da igreja. "Foi da música Viverei, viverás, do grupo Nova Dimensão. Eu estava muito nervoso, mas fui lá e fiz o solo", diz.

Ainda na igreja, tocou diversos instrumentos de sopro - como saxofone, clarinete e trompete. Depois, formou sua primeira banda, a Metanóia, que tinha um som um pouco mais pesado, já aos 23 anos. Antes, tocou em outras bandas, como Conexão Celestial, Segape e outros grupos de Santa Inês. Mas seria a vinda para São Luís, em 2003, que marcaria o início da carreira solo de Ozielzinho. "Naquela época, eu tocava muito mais por diversão que por pretensões de ser músico profissional", admite.

Morando na capital à convite do Mateus Supermercados, para quem fazia a produção musical de jingles, e já fora da Metanóia, começou a participar de disputas on-line no site Guitarbeta. Para competir, o músico tinha que enviar vídeos de suas músicas, que teriam que ser composições próprias, e submetê-las a uma votação dos internautas, que por três anos deixaram Ozielzinho no top do ranking do site. "Não tinha uma premiação para os melhores, mas isso foi o que me deu visibilidade e ajudou as pessoas a conhecerem meu trabalho como instrumentista", lembra.

Repercussão - Destacando-se no site, logo seus vídeos começaram a ser postados no YouTube pelos seus primeiros fãs. Quando o próprio Ozielzinho resolveu usar o site já tinha um número grande de visualizações - hoje, seu canal (Oziel Filho) tem mais de 52 mil assinantes e mais de 6,5 milhões de visualizações. "Por causa do Guitarbeta e das visualizações dos meus vídeos no YouTube, comecei a ser incentivado a gravar um disco, o que só ocorreu dois anos atrás", lembra.

Esse foi o incentivo que faltava para Oziel Filho investir na sua carreira como instrumentista. E com o destaque dos seus vídeos, conseguiu o primeiro patrocínio, dado pela NIG, maior fabricante de cordas do Brasil, e se apresentou na Expomusic, em São Paulo. "Lá conheci muita gente que já sabia quem era eu por causa da internet, já curtia meu trabalho, e isso foi muito legal", conta. No mesmo ano, foi destaque na revista Seleções, sendo eleito o melhor guitarrista do ano.

A popularidade como guitarrista ganhou ainda mais incentivo em 2009, quando foi um dos finalistas do Guitar Idol, disputa que reúne guitarristas de todo o mundo na Inglaterra. A seleção ocorre pela internet por meio de um vídeo. "Eu já fui sabendo que não ia ganhar, mas só o fato de eu, um comedor de tapioca saído de Santa Inês, que aprendeu a tocar praticamente sozinho, participar desse evento já foi top demais", diz. E lá conheceu outro dos seus fãs da internet, que foi quem lhe ajudou na cidade, já que o inglês de Oziel era quase nenhum.

Inspiração - Nesse mesmo ano, montou, em São Luís, a banda de rock cristão Alltar, da qual fez parte durante cinco anos, chegando a gravar um disco, Novos céus (2011). "Mas deixei a banda porque estava de mudança para São Paulo. Só que acabei ficando apenas três meses porque minha esposa não conseguiu transferência para lá e como eu já estava com saudades de casa, dela e dos meus filhos, voltei, mas achei melhor não continuar na banda", afirma.

Desde que veio morar em São Luís e investiu em sua carreira como instrumentista, Oziel já compôs pelo menos 30 músicas - das quais 11 fazem parte do seu disco, A procura, lançado em 2013 - e tem outras tantas esperando para serem finalizadas no seu computador. Quando perguntado de onde tira suas inspirações, ele é bem direto. "Minha inspiração vem de Deus. Nunca acontece de eu decidir que vou compor uma música, até porque quando faço isso a música não costuma ficar boa. Minhas músicas vêm de forma espontânea. Vem uma melodia na minha cabeça e eu já gravo de qualquer jeito e depois concluo", conta.

Chegou a fazer jams - participações avulsas - com grandes nomes da guitarra nacional como Kiko Loureiro, Frank Solari, Joe Moghrabi, Sydnei Carvalho e Marcelo Barbosa. "Tocar com esses caras é interessante, porque dá repercussão para o trabalho da gente", diz. Kiko Loureiro, guitarrista do Angra, é uma das suas referências, assim como Edu Ardanuy, Juninho Afram, Matthias Jabs, Andy Timmons, Marco Sfogli e Yngwie Malmsteen.

Mas muito antes de começar a investir na sua carreira solo, Oziel já trabalhava como produtor musical em seu estúdio na cidade de Santa Inês. Trabalho que continua hoje em São Luís. Desde 1998, já gravou mais de 300 cantores, todos evangélicos. "Só teve uma vez em que eu gravei um cantor de música brega. Foi logo que abri meu estúdio e, como eu precisava da grana, aceitei. Mas durante as gravações o cara cantando aquelas letras sobre caras abandonados, bebidas e mulheres nuas e meus pais em casa ouvindo tudo, decidi que seria o primeiro e último", explica.

Música foi composta em homenagem à esposa

A guitarra e a música são verdadeiras paixões de Oziel Filho e foi por meio delas que ele declarou outra paixão, por sua esposa Isabela, para quem compôs uma música quando ainda eram namorados. Casados há sete anos, Isabela ainda reclama das longas horas que Ozielzinho passa em estúdio, mas nada que de fato abale a relação dos dois. É só o jeito dela demonstrar que sente saudades, mesmo o estúdio sendo nos fundos da casa.

Oziel e Isabela namoravam há cerca de um ano, quando ele teve inspiração de uma melodia. Foi o suficiente para ele passar o dia trancado no estúdio trabalhando na canção que ganharia o nome da sua futura esposa. No fim do dia, enquanto ele finalizava a música, ela ligou para ele convidando-o para sair e ouviu de Oziel que não poderia porque ele estava trabalhando em uma canção. Mas logo a reclamação se transformou em elogios. "Ela brigou porque eu não podia sair, mas quando eu mostrei a música a ela, só a ouvi dizer que me ama", conta aos risos.

Para Oziel, Isabela é sua obra-prima, tanto que faz parte do seu primeiro disco, assim como a canção Argos, com a qual se apresentou no Guittar Idol. "Eu nunca vou fazer uma nova Isabela. É minha melhor música. Uma balada que agrada a quem é roqueiro e quem não é. Tanto que eu preciso tocar em todas as minhas apresentações", diz. Roqueiro e cristão, Oziel Filho prefere ouvir música evangélica, sobretudo as antigas, pois lembram sua infância e adolescência. Suas bandas preferidas são o Angra, Oficina G3, Doctor Sim e Jesus Culture, mas sua playlist é formada mesmo por guitarristas instrumentais.

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