Uma adaptação do texto Rimbaudemônio: traições, colagens e iluminações no inferno, escrito pelo poeta Celso Borges em 2007, quando ainda morava em São Paulo, estreará, hoje, às 21h, na Sala Sated (Rua da Estrela). A peça Rimbaudemônio, uma montagem da Companhia Direto da Fonte, tem direção de Charles Melo e atuação de Raimundo Reis (como o demônio) e Ruan do Vale (como Rimbaud). As apresentações acontecerão até o fim do ano, todas as sextas-feiras.
O texto é inspirado em cinco tradutores do poeta francês, que alimentaram a construção do texto. São eles: Augusto de Campos, Ivo Barroso, Lêdo Ivo, Maurício Arruda Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes, além de ensaios de Wallace Fowlie, Henry Miller, Edmund Wilson e Peter Stanford. As inspirações libertárias são do Gênesis, de Roberto Piva, de Charles Baudelaire, e a música Simpathy for the Devil, da dupla Mick Jagger e Keith Richards, da banda de rock Rolling Stones.
"Depois de beber inspiração no cálice satânico para escrever alguns dos versos mais belos de sua época, Rimbaud abandona a poesia. Antes, porém, sente-se no dever de comunicar isso ao seu grande mestre e para isso vai visitar o diabo no inferno, que se revolta contra ele", disse o poeta Celso Borges, autor do texto original.
De acordo com Charles Melo, o texto é incomum, exatamente por ser uma proposta lírica e que mistura cinema e teatro. No início, no fim e em algumas partes do desenvolvimento, são feitas projeções de filmes na parede e algumas cenas servem de cenário para o espetáculo, ou seja, são intervenções plásticas que incrementam a apresentação.
Melo destaca a atuação do estreante Ruan do Vale, que encarou um personagem de muita responsabilidade e que até o meio do espetáculo atua completamente nu. "É uma performance muito delicada e que exige muita concentração dele", contou.
Desafio – Melo explicou que o texto de Celso Borges era um desafio em estado bruto e que apesar dos méritos literários dava poucas indicações de ações cênicas. "O que fizemos parece muito com o que ele fez com o Rimbaud: traições, colagens e iluminações 'no palco'. A poética da palavra foi complementada pela poética do gesto, da imagem, dos sons e da própria existência das personagens. Nosso demônio é um misto de Verlaine, alterego do próprio Rimbaud, e senso comum questionado. Nosso Rimbaud é um menino sensível e confuso e a peça como um todo parece dizer que, com a partida de Rimbaud para a África, o romantismo do século XIX está definitivamente morto e enterrado. Ele deu o seu recado: é preciso ser absolutamente moderno", explicou Melo.
A Companhia Direto da Fonte existe desde 1992, quando tinha o nome de H3ASO4 Produções. Com essa designação, montou diversos espetáculos, entre eles Terceira Canção de Muito Longe, roteiro de Charles Melo e poemas de Mario Quintana, tendo se apresentado em São Luís, Rio de Janeiro, Teresina, Imperatriz e Belém; O Sótão, de Ivan Sarney, com direção de Tácito Borralho; O moço que casou com mulher braba, de D. Afonso Manoel, com direção de Charles Melo; e As aventuras do super-espantalho contra o Dr. Corvo, de Ivo Bender, com direção de Geraldo Iensen.
Segundo Celso Borges, Rimbaudemônio é um grito e um exercício de imaginação contra os fugitivos da literatura, além de uma afirmação da poesia. É um texto de raiva e revolta contra Rimbaud, ainda que dê a ele chances de se defender. Narra um encontro imaginário entre o poeta e o demônio.
"Sem Lêdo Ivo, o primeiro tradutor de Rimbaud no Brasil, não haveria Rimbaudemônio. Devo muito deste trabalho à sua tradução de Uma Temporada no Inferno & Iluminações, que me trouxe de volta à rebeldia do poeta. Li esse livro há mais de 20 anos e confesso que somente na releitura, no início de 2007, percebi com mais lucidez o impacto de seus versos sobre a poesia moderna", assinalou Celso Borges.
Serviço
• O que
Rimbaudemônio
• Quando
Hoje, às 21h
• Onde
Sala Sated (Rua da Estrela)
• Ingressos:
R$30,00 (meia para estudantes), à venda
no local e no Sated (à tarde)
Saiba Mais
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