Sem Cristo, Igreja vira uma ONG piedosa, alerta o papa Francisco

O pontífice Francisco reuniu os cardeais que o elegeram e celebrou uma missa na Capela Sistina, ontem, no Vaticano.

Atualizada em 11/10/2022 às 13h28
(T)

Vaticano - O papa Francisco realizou ontem a sua primeira homilia e disse que "não adianta nada sermos bispos, cardeais ou papa se não formos discípulos do Senhor".

"Se nós não professarmos Jesus Cristo, nos converteremos em uma ONG piedosa, não em uma esposa do Senhor", afirmou. O novo pontífice, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, falou na Capela Sistina, no Vaticano, aos 114 cardeais que participaram do conclave que o elegeu.

Com uma simples vestimenta dourada e mitra, o novo papa celebrou a missa em latim, mas pronunciou a homilia, com o tema "caminhar, edificar, confessar", em italiano, a língua de seu pai. "Nossa vida é um caminho, quando paramos, não vamos para frente."

Francisco já havia citado o tema do caminho em seu primeiro discurso ante a multidão de fiéis na Praça São Pedro, o que foi interpretado pelos vaticanistas como uma vontade de encarar os problemas da Igreja.

"Isso foi o que primeiro disse Deus a Abraão: 'Caminhe na minha presença, e seja irrepreensível'", afirmou o recém-empossado pontífice. "Nossa vida é um caminho. Quando paramos, não vamos para frente. Devemos caminhar sempre, à luz do Senhor, viver com essa irrepreensibilidade com que vivia Abraão."

O religioso disse que a tarefa é difícil, mas que se deve "seguir contra as possibilidades". "No caminhar, no construir, no confessar, às vezes há problemas, movimentos que não são propriamente os movimentos do caminho, movimentos que nos levam para trás."

"Que todos nós, depois desses dias de graça, tenhamos a coragem de caminhar na presença do Senhor, com a cruz do Senhor, de edificar a Igreja com o sangue que o Senhor derramou sobre a cruz. Assim, a igreja poderá prosseguir", afirmou, ao final do discurso.

Durante a celebração, houve uma oração ao papa emérito Bento XVI, a quem se desejou que sirva a Deus "no recolhimento", dedicado "à meditação".

Visita - A primeira atividade do papa Francisco em seu primeiro dia de pontificado foi uma visita à basílica de Santa Maria Maior, em Roma, na manhã de ontem. O templo é um dos lugares que o cardeal Bergoglio sempre ia quando viajava ao Vaticano.

O cardeal dispensou a limusine papal e chegou ao local em um veículo sedan escoltado por batedores, por volta das 8h10 (4h10 em Brasília). Curiosos e jornalistas que estavam na porta da igreja tiveram dificuldades para vê-lo por causa dos vidros escuros.

Durante os 20 minutos que ficou no templo, fez orações em frente à imagem de Nossa Senhora, junto com o prefeito do Vaticano, George Gaenswein, e o vice-prefeito, Leonardo Sapienza. Aos confessores, disse: "Sejam misericordiosos, as almas precisam de sua misericórdia".

Francisco anunciou que faria a visita em sua primeira saudação aos católicos, a "Urbi et Orbi", do balcão da Basílica de São Pedro. Ele disse que pediria à Madonna (imagem de Maria, mãe de Jesus) que abençoasse "toda Roma", sendo festejado pelos fiéis.

Devoção - Como a maioria dos católicos latino-americanos, o papa Francisco tem uma particular devoção a Virgem Maria, e sua visita à basílica é um reflexo disso. Ele rezou diante de um íncone bizantino de Maria e do menino Jesus, protetor do povo romano.

Hoje, ele deverá encontrar todos os cardeais, inclusive aqueles com mais de 80 anos e que, por isso, não participaram do conclave. No sábado, o papa fará uma audiência especial à mídia. Também está programada uma visita ao papa emérito Bento 16, que faz seu retiro em Castel Gandolfo, ao sul de Roma. Entretanto, o encontro entre os dois não deve ocorrer nos próximos dias.

Simplicidade - Depois da visita, Francisco foi ao hotel da Casa do Vaticano para buscar as malas que deixou antes do conclave que o elegeu. Segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, o pontífice pagou a conta, "como forma de deixar um bom exemplo".

Lombardi ainda afirmou que o cardeal Bergoglio deu outras mostras de humildade. O papa dispensou uma plataforma e a cadeira preparada para fazer sua primeira mensagem e preferiu ficar de pé e no mesmo nível dos colegas cardeais.

Depois do jantar de comemoração, voltou ao hotel de ônibus, junto com os outros prelados. O porta-voz do Vaticano ainda informou que o papa escolheu o nome Francisco, não Francisco I, como havia sido dito inicialmente.

Questionado sobre uma possível visita de Francisco ao papa emérito Bento XVI, Lombardi disse que ela deve acontecer em breve, mas ainda não há data para o encontro, que acontecerá na residência de verão no Vaticano, em Castel Gandolfo.

O cardeal argentino e arcebispo de Buenos Aires Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa na noite de quarta (13), no segundo dia do conclave, após pelo menos três votações. Ele escolheu Francisco como nome.

Tempo bom - Depois de vários dias de chuva e tempo nublado em Roma, o sol voltou a dar as caras na tarde de ontem, primeiro dia do pontificado do papa Francisco. Ainda na noite de quarta-feira (13), após um dia inteiro de chuva quase ininterrupta, o céu abriu na região da Praça São Pedro e, quando o Papa apareceu pela primeira vez aos fieis, já não chovia mais.

Durante a tarde, muitos jovens estavam sentados ao sol pela Praça São Pedro, aproveitando a temperatura um pouco mais agradável.

Retirada de parte de pulmão não deve prejudicar papa, dizem médicos

Cirurgia ocorreu há muito tempo; porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou ontem que Francisco "está com boa saúde".

São Paulo - O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, eleito sucessor de Bento XVI na quarta-feira (13), no Vaticano, não deve enfrentar limitações nem problemas de saúde por conta da retirada de parte de um pulmão quando jovem, segundo médicos pneumologistas. Ontem, o Vaticano confirmou que o papa Francisco passou por cirurgia para a retirada de parte do órgão em consequência de uma doença respiratória.

O problema, ocorrido há "muitos e muitos anos", conforme o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, não impediu que Bergoglio se dedicasse ao sacerdócio. Ele garantiu que o novo pontífice "está com boa saúde".

Segundo informação da imprensa argentina, papa Francisco passou por uma cirurgia de retirada de parte do pulmão há mais de 50 anos. Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, o pontífice atualmente tem 76 anos.

"Se ele operou há tanto tempo, deve ter retirado apenas um pedaço do pulmão e se adaptou muito bem", afirma José Eduardo Afonso Junior, pneumologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. "Acho pouco provável que ele estivesse bem se tivesse retirado o pulmão inteiro", completa.

O médico explica que a capacidade pulmonar dos humanos vai além do que é necessário para sobreviver. "Com 50% da sua capacidade, você vive tranquilamente", diz. "Talvez não com o vigor físico que teria se tivesse os dois pulmões. Depende muito da condição do outro pulmão e do motivo pelo qual ocorreu a retirada."

Cirurgias de retirada de parte ou de todo o pulmão podem acontecer em caso de tumor, de trauma (por exemplo, um acidente de trânsito em que o pulmão seja perfurado), de infecção, de pneumonia ou de tuberculose, explica Rafael Stelmach, professor de pneumologia da Faculdade de Medicina da USP.

O mais comum atualmente é fazer a cirurgia por conta de câncer ou de trauma, dizem os especialistas. "Antigamente era comum tirar uma parte do pulmão por conta de tuberculose. Hoje, trata-se com antibiótico", enfatiza Junior.

Recuperação - O tempo de recuperação depois de uma cirurgia de retirada do pulmão é em média de um ano, afirma Paulo Nascimento Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP e especialista em fisiopatologia pulmonar.

"Não há dúvida de que o pulmão dele se adaptou, os pulmões em geral se adaptam depois de um ano da cirurgia", avalia. Como o Papa já superou a expectativa de vida média da humanidade ao atingir 76 anos, a cirurgia não deve ter fragilizado sua saúde, mesmo tendo retirado uma parte ou todo o pulmão, reflete Saldiva.

Saldiva diz haver muitas pessoas vivendo no mundo sobrevivendo com uma parte a menos do pulmão. "O organismo se adapta. Não faz falta para respirar", diz. O médico cita doadores de rim como exemplos similares. "Assim como há quem viva só com um um rim, é possível viver com só um pulmão. Não é incomum isso acontecer."

A retirada completa de um pulmão pode ter consequências a longo prazo, como deformação do tórax, ressalta o pneumologista Junior. "Quando você retira o pulmão, desloca o coração para o lado do pulmão retirado e o outro acaba se enchendo mais de ar", explica. Outra consequência que pode surgir é a limitação à atividade física.

Papa Francisco deve ter quatro eventos na Jornada Mundial no Rio

Entre os compromissos, estão pronunciamento e encontro com jovens na praia de Copacabana.

Rio - O papa Francisco deve ter pelo menos quatro compromissos oficiais no Rio de Janeiro durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em julho, de acordo com o vice-presidente do comitê organizador local do evento, dom Antonio Augusto Duarte.

O evento, que reunirá milhares de católicos de todo o mundo na cidade, deve marcar a primeira visita do papa argentino à América Latina após sua eleição como pontífice .

O cardeal Jorge Bergoglio foi escolhido papa na quarta, no segundo dia do conclave , tornando-se o primeiro líder da Igreja oriundo das Américas, onde vive quase metade dos cerca de 1,2 bilhão de católicos do mundo.

A presença do papa na JMJ já estava prevista antes da renúncia do agora papa emérito Bento XVI, no mês passado. "Ele [Franciso] virá à Jornada Mundial da Juventude porque era um compromisso do papa Bento XVI", disse dom Antônio Augusto, que também é bispo auxiliar do Rio.

"Ele pode participar de outros eventos no Rio de Janeiro, e a agenda definitiva só será conhecida após um encontro de dom Orani Tempesta [arcebispo do Rio de Janeiro], que pretende estar com ele o mais breve possível para acertar as datas, ouvi-lo, ver qual o desejo dele, projetos", acrescentou.

Segundo dom Antonio Augusto, o papa Francisco deve fazer um pronunciamento na praia de Copacabana logo no início de sua visita ao Brasil, em 25 de julho.

O papa deve ter mais três eventos oficiais na passagem pelo país durante a JMJ. Em 26 de julho, deve falar para jovens também na praia de Copacabana, durante a encenação da Via Sacra pela orla.

No dia seguinte, o papa Francisco deve participar de uma vigília na região de Guaratiba, na zona oeste da capital, e depois participar de uma conversas com jovens da JMJ. No domingo, está prevista um missa campal no mesmo local.

"Faz parte de todas as jornadas que o papa esteja nesses quatro momentos... é uma tradição dos papas anteriores abrir e fechar as jornadas", acrescentou.

Fontes do governo estadual e da Prefeitura disseram que a agenda do papa pode ser estendida na cidade por conta do apelo de Francisco ser o primeiro pontífice latino-americano. As informações, no entanto, não foram confirmadas pela arquidiocese. A Jornada Mundial da Juventude acontece entre 23 e 28 de julho.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.