Ademar de Barros amou dr. Rui!

José Louzeiro Escritor, jornalista e membro da Academia Maranhense de Letras

Atualizada em 11/10/2022 às 13h42

Outro dia chegou-me às mãos um pequeno, grande e curioso livro, de autoria do colega jornalista Tom Cardoso, com passagens pelas redações do Jornal da Tarde, O Estado de S.Paulo e Valor Econômico. O singelo e curioso título da obra: "O Cofre do Dr. Rui" relembra de maneira surpreendente os amores do então governador Ademar de Barros, de São Paulo, pelo querido do dr. Rui que, na verdade, era o apelido que o esperto amante resolveu dar à sua amada Ana, a fim de que sua mulher verdadeira, dona Leonor, jamais soubesse que a "outra", no Rio, em vez de um político, era a dondoca Ana Gilmol Capriglione.

E como foi que o esperto repórter Tom Cardoso chegou a essa história, bem brasileira, do Romeu & Julieta paulista? Através da revolucionária organização de esquerda VAR-Palmares, fundada pelo ex-sargento do exército Onofre Pinto, para fazer frente, embora mal armados, aos golpistas militares de 1964.

Acontece que a organização guerrilheira tinha problemas de caixa e alguém, bem informado, lembrou da amante do Ademar. No palacete onde morava, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, havia um cofre cheio de dólares. Foi aí que alguém disse saber que, de verdade, havia o tal cofre, mas era impossível calcular a fortuna que guardava. Surpresos, os participantes da reunião, inclusive a menina Dilma Rousseff, entreolharam-se. Seria verdade aquela história ou tratava-se de tremenda patuscada?

Partiram para apuração detalhada e era verdade: no palacete, em Santa Teresa, morava a carioca Ana Capriglione e sujeitava-se a ser tratada como dr. Rui, porque amava o governador paulista e, mais que isso, eram bem recebidos os dinheiros que ele lhe dava, pois tinham um plano no melhor estilo Romeu e Julieta: quando ele deixasse o cargo político, cheio de saúde, arranjaria um meio de afastar-se de sua mulher verdadeira, dona Leonor, e viajar com Ana para Paris, onde viveriam por muitos anos como se fossem milionários. O que Ademar desconhecia: sua existência neste nosso maravilhoso mundinho, com tantos anjos e capetas, já estava com os dias contados!

Outro detalhe que Ana e seu amado ignoravam: a VAR, organização dos chamados terroristas, tinha um objetivo e este seria alcançado a ferro e fogo: entrar no tal palacete da apaixonada Ana e tirar o dinheiro do misterioso cofre ou, se possível, levá-lo para abri-lo onde fosse mais tranqüilo e seguro, provavelmente em algum sítio, em Jacarepaguá.

Jesus Paredes e João Marques, ambos da VAR, descobriram o cofre, bem grande, debaixo de uma escada em caracol, dentro do palacete. Foram necessários quatro guerrilheiros, munidos de cordas, para afastá-lo do lugar, enquanto outros ativistas cuidavam de fazer uma rampa com tábuas que conseguiram, arrancando várias portas, pois havia uma escada por onde o cofre deveria descer ou escorregar para chegar à rua. Acontece que ele pesava mais do que o previsto por Paredes. Seja como for, com muito sacrifício, conseguiram colocá-lo na rampa e a descida se iniciou, embora algumas portas se tenham arrebentado. Descendo sem controle o pesado cofre quebrou alguns degraus da escada, que eram de mármore, foi parar junto de alguns arbustos, próximo de onde estava a C-14 estacionada.

Vale lembrar que, enquanto eles se movimentavam pelo casarão, com mais de dez quartos, todas as pessoas da casa foram colocadas em três quartos, de mãos atadas, nas costas, além de amordaçadas. Outra luta foi colocar o pesado cofre dentro da camionete, mas terminaram conseguindo. Por testemunhas desse roubo, apenas três garotos, que empinavam papagaios e trataram de fugir, assustados.

No sítio com muitas árvores e apenas um casebre abandonado os guerrilheiros se prepararam para abrir o cofre, utilizando-se da própria ferramenta que havia na C-14. Enquanto dois ou três trabalhavam, os outros acompanhavam os menores movimentos dos que, a marteladas, suavam para quebrar as fechaduras. A menina Dilma torcia as mãos, desejando que houvesse muito dinheiro a embolsar, enquanto outros eram descrentes: achavam que deveria haver era muita papelada. Coisa sigilosa de político, pois Ademar desejava ter condições de armar sua caminhada para chegar à presidência da República.

Mas, a esperança de Dilma e de Onofre é que houvesse muitos dólares pois a VAR estava praticamente falida e se o cofre tivesse bastante dinheiro, evitaria que tivessem de assaltar alguns bancos no Rio e em São Paulo para fazer caixa.

Por fim a tampa do cofre abriu e o que eles viram foi muito papel que, na verdade, protegia a dinheirama que logo foi aparecendo e, para surpresa dos terroristas, não era pouco. Alegria. Instantes de perplexidade. Eles todos se abraçaram. A organização estava salva. Enquanto isso, por perto do cofre, as boladas de notas, em dólares iam aumentando. Num primeiro cálculo, feito por Dilma e Onofre, havia pelo menos 2 milhões de dólares.

No dia seguinte, passada a onda de alegria, entraram em ritmo de trabalho para saber como e melhor aplicar o dinheiro. A compra de armamento aparecia em primeiro lugar. Tempos depois, quando os dólares já estavam quase todos aplicados e Dilma presa, teve muito que explicar, debaixo de pancadas dos torturadores, o uso da fortuna acumulada por Ademar.

O delegado de polícia Sérgio Paranhos Fleury, o mais temido comandante da repressão, entrou em cena para recuperar a dinheirama, o que não aconteceu. Dilma foi presa, apanhou muito mas se manteve de boca fechada. Não sabia de nada. Ela havia sido enviada a São Paulo, por Carlos Araújo, para tentar reorganizar a VAR na cidade e reforçar o caixa da organização. A maleta de dólares levada por ela foi usada na compra de armas e, principalmente, para sustentar os militantes que, a essa altura, viviam em condições precárias.

Foi aí que Dilma caiu nas mãos do capitão do Exército Benoni de Arruda Albernaz, torturador dos mais competentes. Durante 22 dias recebeu choques elétricos, além de ser submetida, diversas vezes, ao temido pau- de-arara. Hoje, Dilma Rousseff é a presidenta de todos nós e, também, dos bandidos que tentaram matá-la. Dizem seus velhos companheiros de lutas que ela é "mulher de aço." Nem macumba de encruzilhada (o que não há em Brasília) conseguirá derrubá-la.

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