Dois trotes violentos ocorridos nos cursos de Direito e de Ciências da Computação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) assustaram a comunidade universitária na quarta-feira última. No curso de Ciências da Computação, os alunos foram trancados em uma sala de aula e chegaram a ser agredidos; no curso de Direito, os veteranos obrigaram um professor a interromper uma aula para fazer a "brincadeira" com os calouros.
A direção da universidade, por sua vez, admitiu a existência dos trotes, mas não soube informar se houve agressão ou atos similares. Apesar disso, prometeu abrir procedimento administrativo para investigar o caso.
O trote envolvendo os alunos do 1º período do curso de Ciências da Computação aconteceu por volta das 15h40 de quarta-feira. Neste horário, eles estavam esperando professor da disciplina de Metodologia Científica, quando um grupo de veteranos ordenou que os discentes entrassem na sala 203, do bloco 3, do Centro de Ciências Tecnológicas (CCET) e, logo em seguida, fecharam a porta.
Os veteranos fizeram uma espécie de 'paredão' e começaram a jogar ovos, tinta, resto de café, maisena, entre outros produtos, nos calouros. Alguns pediram para deixar a sala, mas não foram atendidos.
O Estado conversou por telefone com um aluno vítima do trote, que confirmou todos os detalhes da ação dos veteranos. "Foi uma situação degradante. Teve gente que tentou se esconder atrás das carteiras, mas foi tirada a força durante o trote. Nunca pensei que eu teria que me esforçar tanto para passar no vestibular e passar por uma situação como essa", disse o estudante, que preferiu não se identificar com medo de retaliações. "Se a gente denuncia publicamente esse ato de humilhação, vai ficar quatro anos marcado dentro da universidade", justificou.
Um outro aluno, que também pediu para não ser identificado, confirmou a ação e foi além: "O pesadelo somente terminou no momento em que houve intervenção dos guardas e de um representante da UFMA", relatou.
CAOS
Ontem pela manhã, a sujeira ainda permanecia na sala de aula onde ocorreu o trote. Cadeiras reviradas, restos de maisena e ovos quebrados ainda podiam ser vistos também nos corredores do segundo andar do bloco 3 do CCET.
Alunos do curso de Engenharia Química que teriam aula ontem pela manhã onde ocorreu o trote, foram transferidos para um outro local por causa da sujeira, da bagunça e do mau cheiro.
O aluno do 2º período do curso de Engenharia Química, Najeey Dias da Silva, ficou assustado com o cenário e pontuou: "Infelizmente, por causa de uma brincadeira sem graça, outros alunos estão sendo prejudicados", assinalou. "Eu concordo com o trote, mas não de forma violenta como esse. Trote é para socializar, não para discriminar alunos", emendou o também aluno do curso de Engenharia Química, Thiago da Silva.
O diretor do Centro de Ciências Tecnológicas, Antônio Carlos Pereira, confirmou, por meio da Assessoria de Imprensa da UFMA, que, de fato, o trote existiu. No entanto, Pereira não confirmou as informações relacionadas às agressões e ao trancamento dos alunos na sala de aula. Segundo ele, os calouros não quiseram denunciar os possíveis agressores ou autores do trote.
DIREITO
Já no período noturno, os alunos do 1º período do curso de Direito da UFMA também passaram por um trote considerado violento. Por volta das 19h50, um grupo de 30 pessoas (entre alunos e comunidade em geral), esteve nos corredores do Centro de Ciências Sociais (CCso) e pediu ao professor Mário Macieira que interrompesse sua primeira aula da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito para aplicar um trote nos calouros. O professor não concordou com a idéia.
Diante disso, os veteranos passaram a gritar e a bater na porta para interromper a aula. O professor chamou a segurança na UFMA mas, até por volta das 20h, nenhum guarda havia chegado ao local. Por conta disso, exatamente às 20h02, ele deixou a sala de aula e os veteranos invadiram o local. "Não havia condições de dar aula", disse. Nesse momento, os veteranos também atiraram ovos, maisena e pó de café nos calouros. Houve agressão aos calouros que não concordaram em participar do trote.
O caso chamou a atenção do professor Mário Macieira, que promete entrar com uma representação contra a UFMA pedindo que os autores do trote sejam punidos. "Eu, desde quando participei do DCE (Diretório Central dos Estudantes), nunca vi um trote como esse. Esse tipo de absurdo nunca aconteceu. E a representação visa acabar com essa prática antes de que aconteça algo pior", declarou Macieira.
O pró-reitor de ensino da UFMA, Aldir Araújo Carvalho Filho, disse, por meio da Ascom da UFMA, que irá apurar o caso. Na tarde de ontem, houve uma reunião entre a Pró-reitoria de Ensino, a direção do CCET, o Diretório Central dos Estudantes (DCE), entre outras instâncias da UFMA, visando investigar a aplicação do trote em calouros e tomar as providências cabíveis caso sejam constatados excessos praticados por veteranos da instituição.
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