Itevaldo Júnior
Da equipe de O Estado
O xote "De Teresina a São Luís", composto por João do Vale, marcou a vida juvenil do desembargador Militão Vasconcelos Gomes, atual presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão. Após as seguidas travessias de canoa no rio Parnaíba para estudar as primeira letras em Teresina, foi num trem comendo lenha e soltando brasa que ele deixou a casa dos pais em Timon, para vir estudar o antigo industrial (na época equivalente ao ginásio), na Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje Centro Federal de Ensino Tecnológico.
A viagem no trem, assim como cantou João do Vale, o deixava com dor no coração. "Quando eu entrava no trem, dava uma saudade grande dos pais, de casa. O coração doía, eu chorava. Mas tinha que vir estudar na Escola Técnica, onde eu era aluno interno. Nesse trajeto, as coisas ocorriam iguais ao que diz a letra da música", conta Militão Gomes.
Iguais também foram o ofício do avô materno Militão Rodrigues Vasconcelos – de quem o desembargador herdou o nome – e do seu pai, Manoel Felismino Gomes, o Nezinho, que foram escrivães do cartório do 2º Ofício da antiga comarca Flores, hoje Timon, e que balizaria a vida profissional do desembargador Militão Gomes.
"Familiarizei-me desde criança com a vida forense. Meu pai era escrivão do cartório, depois de substituir o sogro dele. O cartório era na casa onde eu morava. Então, desde pequeno convivi com o Direito. O juiz nesse período não tinha fórum. Ele trabalhava no cartório. Eu sempre acompanhava. Era curioso. Aí, nasceu o interesse de fazer Direito e não tive dúvidas de que seguiria a carreira jurídica", afirma o presidente do TJ.
Quarto dos 10 filhos – seis homens e quatro mulheres - do casal Constança Vasconcelos Gomes e Manoel Felismino Gomes (Nezinho), o presidente do TJ deixaria a Escola Técnica e as viagens de trem na Teresina-São Luís, para fazer o curso científico no Liceu Piauiense e concluí-lo no colégio Demóstenes Paulino e retomar a travessia de canoa pelas águas do Parnaíba para ir à escola na capital piauiense.
A travessia no rio Parnaíba duraria até a conclusão do curso Direito na Faculdade de Direito do Piauí. Antes de ir para a faculdade, Militão Gomes foi soldado do Exército do 25º Batalhão de Caçadores em Teresina e escriturário da Prefeitura de Timon. "No cargo de escriturário, fui ser auxiliar da CR do Exército na Junta de Alistamento Militar. Era eu quem fazia o alistamento dos jovens. Esse foi meu primeiro emprego", recorda o desembargador.
Vereador
Também antes de iniciar o curso de Direito, Militão Gomes elegeu-se vereador pelo PSD, em Timon. O mandato foi iniciado em 1959 e encerrado em 1963. Nesse período, o desembargador passou no concurso para escriturário do extinto Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriais (IAPI), em 1960.
"Foi o meu padrinho Padre Delfino que me levou para a política. E, com o incentivo de alguns amigos, fui candidato e me elegi. Nessa época, não havia remuneração para o cargo. Foi uma boa experiência. Tanto é que me elegi para um segundo mandato e nessa legislatura fui eleito presidente da Câmara Municipal", declara Gomes.
Já casado com Evangelina Gedeon Gomes, o desembargador Militão Gomes concluiu a faculdade de Direito em 1965. Por um período, atuou como advogado em Teresina (PI) e em Timon e manteve o emprego no IAPI. Após três anos de advocacia, foi aprovado para o cargo de promotor de Justiça no Piauí, mas não exerce.
"Nessa época, somente poderia prestar concurso depois de três anos de prática forense comprovada. Passei no concurso de promotor e não exerci. Eu ganhava mais sendo funcionário público no IAPI do que sendo promotor ou juiz. E eu já havia decidido que queria ir para a magistratura", diz o desembargador.
O presidente do TJ, Militão Gomes, ingressou na magistratura maranhense em 1970 – antes, foi juiz no Piauí – e, promovido por merecimento, tornou-se desembargador em agosto de 1996. No biênio 2002/2003, foi vice-presidente do Tribunal. Em 5 de dezembro deste ano, foi eleito presidente do TJ.
Reuniões e festas unem família
Para o desembargador Militão Gomes, a sua família formada pela esposa Evangelina Gedeon Gomes, a Vanginha, e os cinco filhos, quatro homens e uma mulher: Milevan, Milvan, Milina, Militão Filho e Mivan, foi muito importante na sua bem-sucedida trajetória no judiciário maranhense. "A minha família é fundamental em tudo isso. Temos um relacionamento ótimo, é uma família muito boa", acrescenta Gomes.
O namoro com a Vanginha começou em 1955 e ele conta que estava doido para casar, o que aconteceu quando cursava o terceiro ano de faculdade. "Ela contribuiu muito para que eu enfrentasse e vencesse todos os percalços", conta o desembargador presidente.
Longe do trabalho, reuniões e festas com a família são as principais atividades sociais de Militão Gomes. "A família é grande e sempre tem uma festa", afirma Gomes.
Na hora do lazer as viagens – quando está de férias – surgem em primeiro lugar disparado. Se não pode viajar, o cinema ou passeio de carro pela cidade estão entre as preferências.
"Rodo muito na cidade, gosto de passear de carro. Também volto ao cinema, gosto de cinema. Assisto a tudo, não tenho preferências por gênero não. Chego no cinema e entro para ver o filme", conta o presidente do TJ.
Era dono de um time de futebol em Timon – o time juvenil Renner – Militão Gomes disse que a caminhada é hoje sua atividade física predileta. Caminha quase que diariamente e em qualquer horário.
"Eu não jogava muito bem não, ficava lá na banheira e fazia meus golzinhos. Era o dono do time. Agora, eu gosto de andar, estou sempre andando e alio as minhas caminhadas com os horários do trabalho", garante Militão Gomes.
Atuação em várias comarcas do MA
Uma medida do então presidente da República Jânio Quadros, alterando o horário do funcionamento do serviço público no país, fez o desembargador Militão Gomes trancar a faculdade de Direito em 1963, em seu terceiro ano de curso. Já casado e com filhos, o presidente do TJ não conseguiu aliar a atividade no IAPI com a de estudante.
"Eu acabei com o trabalho sábado de manhã e dividi essas horas nos outros dias da semana. Era de 7h às 14h, sem direito a intervalo para a merenda. Como as aulas na faculdade iniciavam-se às 15h, não tinha como ir em casa em Timon almoçar. Além do que, o IAPI e a Faculdade de Direito eram distantes. Além de atravessar o rio de canoa, fazia todo o trajeto a pé. Suspendi esse ano para, junto da família, encontrar uma solução", conta Militão Gomes.
Ainda como estudante, Militão Gomes inscreveu-se na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional do Piauí, como solicitador. "A figura do solicitador funcionava como advogado, com limitações nas suas ações. Ele não podia assinar a petição, mas podia acompanhar o processo. E eu atuei em algumas dessas ações no cível", diz o desembargador, acrescentando que um dos advogados que assinava as petições do solicitador era o advogado Tomaz Gomes Campelo, que chegou a ser desembargador no Piauí.
Militão Gomes foi aprovado no concurso para juiz no Piauí, mas só entraria para a magistratura depois que foi ao presidente do TJ piauiense, desembargador Edgar Nogueira, indagar por que, mesmo tendo sido aprovado em terceiro lugar, não foi nomeado.
desafio
"O desembargador Edgar Nogueira havia sido meu professor e era amigo. Todo mundo era nomeado e eu não. Então fui perguntar a ele porque eu não havia sido nomeado. E ele perguntou: e tu que ser juiz? Respondi que sim e ele me garantiu que na próxima lista eu estaria nomeado. Mas, você irá trabalhar numa comarca que ninguém que ir para lá", diz o presidente do TJ.
A comarca para onde Militão Gomes iniciaria a carreira na magistratura, era a de Piracuruca, nas proximidades de Sete Cidades (PI). "Nessa comarca, tinham espancado o promotor e ameaçado o juiz de morte. Por isso, ninguém queria ir para lá. Quando fui designado, o desembargador Edgar Nogueira mandou que eu comprasse um livro de protocolo para receber o processo referente ao caso do promotor. Passei nessa comarca cinco meses e foi tudo tranqüilo ninguém mexeu comigo", assegura Militão Gomes.
"Deixei a magistratura no Piauí para ser promotor em São Domingos do Maranhão. Eu queria ficar mais perto da família, e o salário de promotor aqui era maior do que o do Piauí e já equiparado ao de juiz, então decidi voltar para cá. Ainda que o salário fosse menor do que o de contínuo do Banco do Brasil", afirma o desembargador.
No ano seguinte, o presidente do TJ trocaria o Ministério Público pela magistratura em terras maranhenses. Foi ser juiz em São João dos Patos e a partir daí, tinha que levar a família. Passou cinco meses em São João dos Patos, depois foi promovido para Balsas.
Em Balsas, o então juiz Militão Gomes chegou a responder, além dos três municípios que compunham a comarca, Balsas, Fortaleza dos Nogueiras e Riachão, por Loreto, Alto Parnaíba, Carolina e Porto Franco. Chegou a um ponto que respondia pelas comarcas localizadas da margem do rio Tocantins até a margem do rio Parnaíba – de Porto Franco a Benedito Leite.
Antes de chegar a São Luís em abril de 1986, Militão Gomes trabalhou em Imperatriz durante cinco anos, entre janeiro de 1981 e agosto de 1986. Dez anos após ter chegado a juiz da capital, o atual presidente do TJ foi indicado por merecimento ao cargo de desembargador.
AUTO-RETRATO
NOME
Militão Vasconcelos
Gomes
IDADE
69 anos
NASCIMENTO
07/07/1936
NATURALIDADE
Timon (MA)
FILIAÇÃO
Constança Vasconcelos Gomes
Manoel Felismino Gomes (Nezinho)
CASAMENTO
Evangelina Gedeon Gomes (Vanginha)
FILHOS
Milevan, Milvan, Milina, Militão Filho e Mivan.
QUALIDADE
Ser determinado
DEFEITO
Ser às vezes precipitado
TRISTEZA
Mortes dos pais
ALEGRIA
Aprovação no vestibular
PLANOS
Boa administração do Tribunal
de Justiça
Saiba Mais
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.