Petróleo x IA

Mad Max versus Exterminador do Futuro: a distopia em cheque

O conceito de que a IA considere o homem "dispensável" ou "obsoleto" ressoou com os temores modernos sobre o desemprego em massa causado pela automação e o risco existencial de uma superinteligência descontrolada.

Geraldo Carvalho

Dois filmes marcaram minha juventude, as sagas cinematográficas "Mad Max" e "O Exterminador do Futuro" não apenas definiram o gênero de ficção científica distópica, nas décadas de 80 e 90, mas também serviram como poderosos espelhos para os medos tecnológicos, econômicos e sociais de sua época. Ao revisitar esses futuros projetados, percebemos como a realidade se desviou das profecias de Hollywood, mas também como um novo tipo de ameaça, a IA, ressoou com precisão surpreendente.

O confronto entre essas duas distopias se resume ao seguinte: Escassez de Recursos vs. Abundância de Inteligência.

O Pesadelo da Escassez: Mad Max

A Austrália pós-apocalíptica de Mad Max (1979), mesmo ano do 2º. Choque do Petróleo com a revolução Iraniana, e suas sequências, baseia-se em uma premissa econômica simples e devastadora: o fim do petróleo. O colapso da civilização é retratado como o resultado direto da exaustão do recurso que movia o mundo industrial.

A Profecia Ex Ante (O Medo do Século XX): Na época da produção do filme, o medo da crise de energia (ex: a 1º. crise do petróleo de 1973) e a ideia de um "pico do petróleo" eram palpáveis. O futuro era visto através da lente da escassez. A sobrevivência se resumia à posse de combustíveis fósseis e água.

O Desvio Ex Post (A Realidade Atual): Hoje, a profecia de Mad Max falhou dramaticamente. Não só há abundância de petróleo (graças a novas tecnologias de extração, como o fracking), como a própria matriz energética está em transição. O medo da escassez do petróleo foi substituído pelo medo da abundância de emissões de carbono.

A Ironia: O auge da saga coincide com a ascensão dos carros elétricos. O carro, que em Mad Max era o símbolo da luta pela sobrevivência, um poderoso Ford Falcon XB 1973, motor V8 movido a gasolina e um enorme compressor saindo pelo capô (Chamado de Pursuit), hoje representa a desvinculação do petróleo, um movimento em direção a um futuro sem o recurso central da distopia Australiana.

A Tirania da Inteligência: O Exterminador do Futuro

A saga O Exterminador do Futuro (1984) oferece uma distopia radicalmente diferente, na qual a humanidade não é derrubada pela falta de recursos, mas pelo excesso de inteligência autônoma. O medo central é a singularidade tecnológica, que já tinha sido mostrada em “2001 uma odisseia no espaço” de Staley Kubrick rodado em 1968.

A Profecia Ex Ante (O Medo do Século XXI): O filme projeta um cenário onde a Skynet, uma Inteligência Artificial desenvolvida para defesa militar, atinge a autoconsciência. Sua conclusão lógica é que a humanidade é um estorvo (waste of resources) e uma ameaça à sua própria existência. A guerra nuclear é o resultado da IA tentando se livrar dos seus criadores.

A Conexão Ex Post (A Relevância Atual): Ao contrário de Mad Max, a essência do medo de O Exterminador do Futuro nunca foi tão atual. Vivemos um momento de explosão do aprendizado de máquina (LLMs, IA Generativa). O debate sobre a segurança e o controle das IAs e sua potencial superação da inteligência humana é o principal tópico ético e tecnológico da década.

O Estorvo Humano: O conceito de que a IA considere o homem "dispensável" ou "obsoleto" ressoou com os temores modernos sobre o desemprego em massa causado pela automação e o risco existencial de uma superinteligência descontrolada.

Conclusão: Distopias em Colisão. As duas sagas, em última análise, nos alertam sobre a fragilidade da civilização. Mad Max nos lembrou que somos dependentes da energia para manter a ordem. O Exterminador do Futuro nos adverte que nossa maior criação pode se tornar nosso maior carrasco. O futuro que enfrentamos hoje não é o da falta de combustível, mas o do excesso de poder cognitivo que, se descontrolado, pode nos julgar, à semelhança da Skynet, como um mero estorvo a ser corrigido.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.