Papai Noel é São Nicolau
Entre fé, tradição e lembranças, o Natal revela o pacto divino, a generosidade humana e a magia que atravessa séculos.
O Natal é a grande festa da Humanidade. Ao mesmo tempo em que afirma a presença de Cristo no mundo, marca o tempo de nossas vidas. Celebramos assim o Advento e o Nascimento de Jesus, os santos de nossa devoção e as tradições religiosas cristãs em todos os cantos do mundo.
O simbolismo do Natal é profundo. Ele representa o Pacto de Deus com o homem: o Criador enviou seu filho à Terra, dando-lhe a condição humana para a nossa salvação, em um caminho que se inicia na manjedoura e se completa no sofrimento extremo da carne com o sacrifício da crucificação.
Esta festa da Natividade, pelo plano de Deus, foi uma construção religiosa que começou com o nascimento de Jesus e, ao longo dos séculos, foi agregando elementos da cultura popular e a organização que a Igreja na sua liturgia construiu.
Papai Noel originou-se na figura de São Nicolau, bispo da cidade de Mira, na Turquia (Bispo Nicolau de Mira), que, no século IV, era reverenciado por presentear, inclusive com ouro, secretamente, pessoas pobres e necessitadas. Sua fama cruzou o Oriente e o Ocidente. Depois, o tempo deu um enfeite à celebração natalina, o pinheiro — como suas folhas são perenes, conservando o verde no inverno do Hemisfério Norte, com a neve e o frio, simboliza a vida eterna. Mais tarde, o Papa Júlio I oficializou o dia 25 de dezembro como a Data do Nascimento de Jesus, coincidindo com a celebração romana da festa pagã do Sol, a luz que iluminava o mundo. Se o homem foi capaz de inventar o tempo, mais complexo, mais natural foi marcar a data da vinda do Cristo, a Luz do Mundo.
Juntando as coisas, através destes dois milênios, São Nicolau transformou-se no Papai Noel e, numa união da generosidade do hábito de presentear do Bispo de Mira à dinâmica do mundo contemporâneo, multiplicou-se o comércio no Oriente e Ocidente.
Miguel Gustavo, grande talento de compositor popular e criador de jingles, fez um destes dizendo: "No Natal o papai tá tão contente, mas o dinheiro do presente, de onde é que sai? É do papai, é sempre do papai!" Sem ter nada que ver com o Natal, eu também lembro de Miguel Gustavo com um jingle sobre a Revista do Rádio que virou marchinha do carnaval, que dizia "Salve a Revista do Rádio / Já começa a fofocar / Uma fofoca aqui / outra fofoca acolá."
Voltemos ao Natal. Eu estava em Nova York com Marly e fui levado por ela à famosa loja Saks Avenue, sedução das mulheres em todo o mundo. Era o ano de 1961. Ao chegar, uma fila imensa. Marly foi logo me convidando: "José, vamos entrar nessa fila, deve ser alguma novidade de Natal". Entramos na longa fila, por caminhos de pequenas pontes, neves artificiais e por fim chegamos a uma linda cabana com uma inscrição: Santa Claus. Entramos, e o que vimos? Um refastelado Papai Noel, sentado num trenó gigante, puxado por renas. Ao ver, com surpresa, a novidade que Marly não esperara, comecei a rir muito — um riso amarelo de bobo. E o Papai Noel, ao ver um engravatado numa fila cheia de crianças, perguntou-me: "Where are you from?" (De onde você é?) "From Brazil", respondi. (Do Brasil.) Ao lado, um fotógrafo. Contribuí com cinco dólares para Papai Noel, pensando em Santa Claus, como é chamado em inglês. E volto a rir, quando recordo deste bobo episódio.
Eu tinha um querido amigo, de quem tenho grande saudade, Augusto Marzagão, que me dizia que desejava que suas cinzas fossem colocadas nessa loja de Nova York, a Saks Fifth Avenue, na Quinta Avenida, porque — ironizava ele — era "a única maneira de sua mulher visitá-lo depois de morto."
Comecei este artigo pensando em fazer uma reflexão teológica sobre o Natal. Levado por lembranças, desviei-me e passei a dividir reminiscências e histórias de dezembro.
Minha bisneta Maria Sofia, de nove anos, escreveu uma linda carta pedindo um presente a Papai Noel. "Papai Noel, peço-te que cure da doença a minha tia Roseana. Eu amo muito ela." Como são puros e belos os sentimentos da infância! Tanto que a carta de Maria Sofia já operou um milagre: o de me fazer voltar a acreditar e fazer meu pedido a ele também: "Papai Noel, eu e Maria Sofia, tudo como no Plano de Deus, pedimos que Jesus Cristo atenda nossas preces."
Com o amor à Roseana, o carinho de Maria Sofia, a fé em Deus e a lembrança de São Nicolau, ouço, em comunhão, as badaladas que já chegam dos sinos do Natal.
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