O “Fla-Flu” Infinito: Quando o Debate Vira Batalha Pessoal
As redes sociais transformaram as pessoas em torcedores eternos, sempre "vestindo a camisa" de suas ideias e sem sair do "campo de batalha".
Lembro com carinho da época em que as discussões acaloradas no Brasil giravam em torno de times de futebol. Era comum chamar um debate intenso de "Fla-Flu", em referência à rivalidade entre Flamengo e Fluminense, cujos jogos eram sempre muito disputados. No entanto, esses "Fla-Flus" eram pontuais, não a regra.
Hoje, a realidade é diferente. As redes sociais transformaram as pessoas em torcedores eternos, sempre "vestindo a camisa" de suas ideias e sem sair do "campo de batalha". É um "Fla-Flu" sem fim, e isso é cansativo. Parece que o mundo se resume às cores de um time ou de outro, e quem pensa diferente é atacado.
Deixo claro que não sou contra a divergência de ideias. As pessoas têm todo o direito de discordar e defender suas opiniões em qualquer área – econômica, política, cultural ou outras. Elas têm o direito natural e constitucional de expressar suas opiniões, mesmo que sejam contra figuras públicas ou que pareçam absurdas para quem ouve.
Meu desconforto com o atual “Fla-Flu” metafórico está na intolerância. Muitos se escondem atrás de telas de computador ou celular para atacar com raiva quem pensa diferente.
Sinceramente, não me lembro de um período tão polarizado. Tenho saudades dos tempos de faculdade, quando, apesar das visões de mundo opostas, a camaradagem e a convivência eram sempre saudáveis e amistosas.
Diante desse cenário, aproveito para convidar você a participar do "Ciclo Dialético", um projeto da Escola Superior da Magistratura do Maranhão. Nosso objetivo é promover o debate respeitoso de ideias diferentes. Já fizemos cinco edições e a sexta será no dia 28 de agosto, às 9h, no auditório da Associação dos Magistrados. Vamos discutir se há ou não superencarceramento no Brasil, com um debatedor defendendo que sim e outro que não.
Precisamos dialogar, e para que esse diálogo seja construtivo, temos que ouvir o outro. Em todas as edições dos Ciclos Dialéticos, entrei com uma forma de pensar e, mesmo que minha essência não tenha mudado, percebi que o outro me enriqueceu e que minhas ideias iniciais ganharam novos contornos.
Lembro do romance “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann. Nele, o jovem engenheiro Hans Castorp visita o primo em um sanatório nos Alpes Suíços. A intenção era ficar apenas três semanas, mas ele acaba ficando sete anos, impactado pelo “tempo mágico” do lugar. Lá, Hans se envolve em longas discussões filosóficas e ideológicas, principalmente entre dois personagens: Settembrini, um humanista italiano, e Naphta, um jesuíta intelectual.
O autor nos mostra que Hans se sente pressionado por essas duas visões extremas e opostas, que ele considera irreconciliáveis – uma sendo um “humanismo vazio” e a outra uma “barbárie ignorante”. Além disso, Hans se recusa a ser forçado a escolher um lado. Ele acredita que o ser humano deve se posicionar no meio-termo, e não em uma escolha binária imposta.
Eu concordo com Hans: os extremos não trazem equilíbrio, mas sim rigidez ideológica.
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