MUNDO

Ministra renuncia após negar existência de mendigos em Cuba

Declaração causou indignação ao minimizar a pobreza visível nas ruas de Cuba em meio à pior crise econômica em três décadas

Ipolítica

Atualizada em 16/07/2025 às 09h26
Declaração da ex-ministra sobre a ausência de mendigos em Cuba gerou forte reação pública e expôs contradições do regime diante do avanço da pobreza no país. (Reprodução)

HAVANA - O governo de Cuba aceitou, nesta terça-feira (15), a renúncia da ministra do Trabalho e Previdência Social, Marta Elena Feitó, após declarações controversas sobre a população em situação de rua no país. A ex-ministra afirmou, em sessão parlamentar transmitida ao vivo, que “não existem mendigos em Cuba”, mas sim pessoas “disfarçadas de mendigos”.

A fala repercutiu negativamente em um momento de inflação alta, escassez de alimentos e crescimento da desigualdade. Segundo a imprensa oficial, a saída da ministra foi motivada por “falta de sensibilidade e objetividade”, após críticas de parlamentares e da população.

RECONHECIMENTO TARDIO

Durante a sessão, Marta Feitó criticou pessoas que reviram lixo e limpam para-brisas nas ruas, alegando que essas atividades seriam "formas fáceis" de obter dinheiro. A declaração foi feita no mesmo dia em que a ministra apresentou os programas sociais voltados à população vulnerável.

A crise econômica cubana, agravada pelas sanções americanas e por falhas internas de gestão, levou a uma inflação acumulada de 190,7% entre 2018 e 2023, segundo o Centro de Estudos da Economia Cubana. Apesar da insistência do governo em evitar o uso da palavra “pobreza”, os indicadores sociais e a presença crescente de pessoas em situação de rua contrastam com o discurso oficial.

O presidente Miguel Díaz-Canel comentou o episódio durante reunião do Parlamento, sem mencionar diretamente a pobreza. Disse que é “muito questionável” qualquer postura que ignore a vulnerabilidade social e que “ninguém pode agir com soberba ou desconectado da realidade”.

Em 2024, o governo reportou 350 mil pessoas em situação de vulnerabilidade — dado que, embora reconhecido oficialmente, costuma ser acompanhado de eufemismos institucionais e sem menção direta à indigência.

A agência AFP observou, nos últimos dois anos, aumento da presença de pessoas pedindo esmola ou recolhendo restos de comida nas ruas de Havana. Para críticos, o episódio expõe os limites do discurso estatal em admitir os efeitos da crise prolongada em um sistema que se apresenta como garantidor da igualdade social.

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