Democracia e vingança

Há alguns anos assisto com preocupação às ações do judiciário, especialmente da corte mais relevante. Mas, sem nenhuma surpresa, conhecendo a trajetória dos seus magistrados e suas relações com os outros poderes, era de se esperar que agissem assim. A preocupação vem do apoio, ou melhor, da justificativa que parte da população e muitas lideranças dão às tais ações, como o caso recente de “defesa da Democracia”.

Se dissesse que uma casa é composta por paredes, telhados e portas, não estaria errado, porém, vive-se em um local só com isso? Uma Democracia razoável não depende somente de eleições, mas de ritos, normas e processos transparentes, estáveis e seguros para os eleitores e os representantes. E não é o que está acontecendo. Ninguém precisa ser doutor em Direito para saber que inquéritos e processos fora da sua instância, sem ampla defesa e conduzidos pela vítima, produzem tudo, menos justiça.

Vejo no apoio a estes absurdos–vindo de adversários e ex-aliados —, mais que a ingenuidade de quem toma tudo por valor de face, mas o tentador e perigoso desejo de vingança. O perigo está na cegueira que esse sentimento carrega e que nos faz ignorar as consequências indesejadas. Nesse caso, a destruição do devido processo legal e a criação de um aparato persecutório implacável.

Os embates políticos nunca cessam, sejam entre partidos rivais ou entre setores de um mesmo partido, por isso, precisamos garantir que haja um mínimo de razoabilidade, e o que temos hoje está bem longe disso. Que garantias temos de que vá parar por aí? Que garantias temos de que amanhã não será utilizado contra os que hoje apoiam? Não temos.

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