Cocô de cachorro! (em 3 tempos)
“Sua praça não é depósito de fezes de animais. Zele por ela!”. Será que desta vez vai?
Cerca de quinze anos atrás escrevi no jornal O Estado do Maranhão uma crônica intitulada “De volta ao cocô de cachorro”. No texto eu lamentava que logo após a recuperação da Praça Padre Jocy Rodrigues, no Renascença, as fezes dos cachorros voltassem a frequentar o espaço reservado para caminhantes como eu.
Nessa época, de dias melhores economicamente, vislumbrava-se um futuro promissor para a nossa Nação. Sugeri, no texto, que, enquanto a consciência popular não fosse suficiente para zelar pelo espaço público o país demoraria a chegar ao seu pretendido estágio de nação líder e exemplar o que motivou cartas de solidariedade de leitores, em especial, de moradores do bairro.
Por volta de 5 anos atrás estou na mesma Praça, caminhando. A praça já não tem o apelo e a atração daquele período. Os brinquedos foram danificados, assim como os equipamentos de ginástica, mas ainda merece a atenção da Prefeitura com sua rotina de limpeza e adequação.
Eis que, em meio a caminhada, percebo uma equipe de trabalhadores iniciando um serviço de colocação de placas com os dizeres “Sua praça não é depósito de fezes de animais. Zele por ela!” Um amigo passa por mim, observa os trabalhos, faz um sinal de positivo e diz:
Continuo o exercício. Distingo é o líder da equipe, aproximo-me e ele esclarece: “A iniciativa de colocação das placas não partiu da Prefeitura, mas dela consegui o aval para executar este serviço. Minha firma confeccionou as placas, gratuitamente e, depois desta, várias outras praças terão o privilégio desta placa preventiva. ”.
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Sigo meu caminho lembrando uma frase do escritor Graham Greene “Existe uma casca de banana, por trás de toda grande tragédia”.
Pondero que deve existir um povo capaz de limpar a própria sujeira, por trás de toda grande Nação.
Semana passada, sigo na mesma praça caminhando quando, distraidamente esbarro meu tênis num volume de cocô de cachorro. Prossigo minha atividade, mas, agora, os versos do poema de Carlos Drummond de Andrade é que não saem da minha cabeça. “ No meio do caminho tinha uma pedra. Jamais esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas fatigadas: havia uma pedra no meio do caminho. ”
Desesperançado sinto que pouca coisa mudou. “Entra presidente, sai presidente, haja cocô de cachorro no meio do caminho do Brasileiro!”
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