...E A gente pensa que é macho!

Estava conversando com escritores amigos, quando o assunto enveredou para livros que, presentemente, estávamos lendo.

De minha parte, citei A primeira viagem ao redor do Mundo, um diário da épica jornada da expedição de Fernão de Magalhães, escrito por Antonio Picafetta, um dos 18 sobreviventes entre 237 homens que compunham a esquadra de 5 navios dos quais um só retornou, após três anos, inclusive sem seu grande comandante.

Comentava sobre os acontecimentos narrados e seus ingredientes: imprevisibilidade, incerteza de rumo, forças hostis da natureza etc. até chegarmos à conclusão de que para se aventurar em uma viagem dessas era preciso coragem, muita coragem, bastante coragem. 

Foi então que o amigo complementou:

“...E a gente pensa que é macho! ”

De fato, tive de concordar com a ironia acachapante, mas verdadeira. Como eram valentes e intrépidos esses caras! 

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Lembrei que me tornei fã de relatos de viagens náuticas desde que li a versão real do clássico Moby Dick, no livro O Coração do Mar, que depois vi, nas telas. Mais tarde, à força de colher subsídios para compor A última viagem de Gonçalves Dias e outros contos (edições AML, 2024, à venda nas livrarias) ao ler mais livros sobre o assunto, pude vislumbrar a magnitude da coragem humana em tempos sombrios e ausência total de referências. 

Não dá para comparar, por exemplo, em termos de intrepidez e ousadia as aventuras desses marinheiros, rudes, ignorantes e supersticiosos com as protagonizadas em tempos atuais por Amir Klink, corajoso e empreendedor sim, mas amparado por avançados mecanismos da tecnologia moderna. 

Adquiri o volume lido num sebo movido, além da sedução pelo tema, por uma frase de Gabriel Garcia Marques na capa: “Um dos livros mais importantes da minha vida! ”

Fico tentando entender porque a leitura de livros como esse, em que a realidade vivida supera quaisquer rasgos de imaginação mais fantasiosa não são direcionados para jovens estudantes em sua avidez e preferência atual por conteúdos de aventura e mistério.

Pois são “mares nunca dantes navegados” do passado ou do futuro, os imaginários capazes de povoar o melhor da coragem e da intrepidez humana em sua sina de desvendar o que há de desconhecido e impalpável no Universo que, a despeito dos avanços da Ciência, segue cada vez mais incognoscível, infinito e misterioso.

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