Um sinal de contradição!
O Natal chega de novo e com ele a voz dos anjos que cantam os louvores de Deus pela encarnação do seu Filho, Jesus de Nazaré, nascido naquela noite fria de dias comuns na pequena Belém.
O Natal chega de novo e com ele a voz dos anjos que cantam os louvores de Deus pela encarnação do seu Filho, Jesus de Nazaré, nascido naquela noite fria de dias comuns na pequena Belém.
O cenário do nascimento, uma estrebaria, lugar dos animais, abrigo dos pobres de ontem que, como os de hoje, carecem de lugar e de um olhar compassivo, atento e generoso.
Seus primeiros visitantes, pastores de ovelhas, atraídos pela mensagem dos anjos que anunciaram a boa nova, encontram uma família vinda de Nazaré, sua terra natal, para cumprir uma obrigação civil, o recenseamento imposto por César Augusto. Aquela criança, envolta em faixas e deitada na humilde manjedoura, recebia o aconchego dos pais, somado ao urro de animais, dos ventos frios de uma madrugada que já prenunciava o despontar de um novo dia.
Até aqui, todos sabemos. Tanto sabemos que, em muitos lares e espaços, esta cena é repetida com presépios de todas as formas, dando enredo e destaque a esse acontecimento, como celebração ao Nascimento do Cristo!
A gruta, a manjedoura, a estrela e os reis magos vindos do Oriente são personagens conhecidos do nosso imaginário, ainda que pese cada vez mais os apelos do mercado em substituí-los por renas, carruagens coloridas, pelo Bom Velhinho por duendes e mais uma centena de gente de barba e rosto esquisito que habita no gelo em algum lugar do planeta. Essa investida não é a toa, nem tão inofensiva quanto se faz parecer. Ela nos rouba o essencial, ilude e desvia o nosso olhar do movimento na direção para a qual aquela estrela indicava, guiando-nos.
Ao nos propor carruagens que voam e personagens que habitam o cosmo imaginário, introjetam sutilmente uma lógica inversa do que se deu em Belém.
Que foram olhar os pastores? Que encontram aqueles reis? Encontram um menino. Nele, a imagem de um Deus que desce, que vem ao encontro dos nossos passos, que assume nossa forma e nossas dores, nossos sonhos e limites, nosso estranho modo de amar e nossas contradições. Numa carruagem de fogo? Num balão ou num foguete? - Não! No ventre de uma jovem camponesa, no coração de uma família da periferia, no seio de uma comunidade de amor. Inserido, portanto, em nossa realidade.
Longe do templo e dos palácios, do outro lado da margem dos poderes, num lugar escolhido por faltar lugar, cercado de gente simples e marginalizada. Um sinal de contradição tanto quanto gesto de amor do Deus que nos oferece o Filho, feito homem, para ensinar sobre amor e partilha, caridade pura e tolerância!
Paz naquela noite feliz, fuga nos dias que se seguem. Aquele menino traz consigo uma novidade perigosa, sua fragilidade de recém-nascido esconde a força de uma missão gigante! Fogem apressadamente para o Egito, desbravando, pelo medo e ao mesmo tempo pela esperança, as montanhas de obstáculos e perigos que, desde os primeiros dias, apresentaram-se como companheiros da jornada daquele menino, daquela família. Essa fuga, longe de representar algum distanciamento de sua missão, apressa seu cumprimento, ameaçando as estruturas de poder que teimavam - e teimam - em ceifar qualquer centelha de esperança, por menor que seja.
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Aquela imigração forçada é repetida ainda hoje por centenas de milhares de famílias todos os dias que, em busca de pão e de teto, fogem da fome e da guerra, eternizando a saga de Maria e José pelos caminhos e mares da história.
É verdade que o Natal é a festa do encontro. Que encontro grandioso celebramos! O encontro do céu com nosso humano coração. Do divino que, num movimento de amor, vem até nós para permanecer conosco tecendo o fio de nossa existência.
De encontro também com o mistério da dor. Sim! Aquela noite feliz de Natal, antes da luz e da sinfonia celeste, foi uma noite de dor. De dor física para Maria, de dor de alma para José. Não era aquele o lugar preparado para receber seu filho, não era por eles esperado que não houvesse algum lugar na cidade, nas hospedarias. A dor do desprezo que de todas as que já se pode sentir é a que mais dói.
Talvez dessa dor é que fale Simeão ao encontrar Maria no templo, tomando nos braços o menino, a promessa.
Essa espada de dor tem seu ápice no Calvário, mas se inicia do anúncio do anjo do Gabriel, se materializa em Belém e a acompanha até outra madrugada, aquela da ressurreição, nos legando a certeza de que nenhuma dor é para sempre.
Seja como for a ordem dos acontecimentos, seja qual a for a narrativa mais próxima dos fatos que se deram naqueles dias, só podemos concluir que nesse movimento de encontro e aproximação, Deus se deixou tocar. E quanta responsabilidade carregam aqueles em que Deus pode tocar!
Se neste Natal, a curva de nossa existência for em direção dos que mais precisam. Se no centro de nossas preocupações estiverem os sedentos de pão e de paz. Se entre os convidados de nossas mesas estiver o fugitivo menino de Belém, talvez tenhamos, ainda que timidamente, encontrado o sentido para melhor celebrar essa Noite Feliz!
Feliz Natal, com pão e alegria em todas as mesas! Que na dor, nas dificuldades, haja sempre Amor, Respeito, Fraternidade, Tolerância e Paz!
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