COLUNA
Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Natal correndo solto

Ninguém deu atenção quando aquele velhinho de bota furada e barba branca bateu à porta...

José Ewerton Neto

 

Ninguém deu atenção quando aquele velhinho de bota furada e barba branca bateu à porta daquela mansão do Calhau. Aconteceu no Natal do ano passado, já eram duas da matina e o uísque corria solto.

- A paz esteja convosco! - disse.

Claro que ninguém o escutou. Todo mundo já estava muito legal. Resolveu gritar.

- A paz esteja nesta casa!

Desta vez alguém ouviu. Um rapaz de uns 15 anos que coincidentemente estava saindo e deixou a porta aberta

- Gente, tem um mendigo aqui, querendo dar uma de Papai Noel. 

Foi um alvoroço. O dono resolveu botar ordem na casa. “ Não é possível, até aqui essa corja vem aporrinhar. Tô de saco cheio!”

O velhinho entendeu mal.

- O saco do papai Noel já está meio vazio, mas ainda tem para esta casa. Cadê as crianças?

- Vocês viram? – Bradou o indignado homem. E ainda por cima é pedófilo!

- Vamos chamar a polícia maridão – Falou a mulher      - Você já se deu conta do que está aprontando, seu velho escroto? Por que essa fantasia ridícula de Papai Noel?

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Aturdido, o velhinho teve dúvidas se estava na hora e local exatos. Sentia-se muito cansado. São Luís era a última visita de sua longa jornada.

- Escuta gente, ´por   acaso vocês não estão festejando o Natal: o dia em que Jesus Cristo nasceu?

- Jesus? Que conversa esquisita…Tá afim de tomar refrigerante Jesus? Aqui só tem Coca. 

- Mas, hoje não é noite de Natal?

- Se não fosse Natal o que estaríamos comemorando? É Natal, sim. Por que tenta nos confundir

O velhinho não aguentou. Definitivamente, havia alguma coisa errada e devia ser com ele. Já havia falado com Deus que não dava mais, o Alzheimer  já estava rondando.  

- Pessoal, devo ter cometido algum engano. Desculpem por interrompê-los. Vou indo.

- Já vai tarde – gritou alguém da cozinha.  Vá encher o saco em outro lugar.                               

Por alguns segundos, nem se sabe por que, fez-se silêncio naquela mansão. Se alguém tivesse levantado a cabeça para o céu teria visto um velhinho puxado por um conjunto de renas. Mas, quem ia querer olhar pro céu? Nem era ainda o réveillon. 

- Pessoal, não vamos deixar esse mendigo metido a engraçado acabar com nossa festa, Bota um sertanejo aí, e deixa a alegria rolar – ordenou alguém. 

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