Ruy Palhano

SAF, um problema emergente

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é uma condição grave que resulta da exposição do feto ao álcool durante a gravidez.

Ruy Palhano

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é uma condição grave que resulta da exposição do feto ao álcool durante a gravidez. Esta síndrome é a manifestação mais grave dos Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (FASD) e envolve uma série de complicações físicas, cognitivas e comportamentais que podem afetar o indivíduo por toda a vida. A SAF é totalmente evitável, mas continua a ser uma preocupação significativa de saúde pública em várias partes do mundo, incluindo o Brasil.

Globalmente, estima-se que cerca de 119.000 crianças nasçam com SAF a cada ano. Esta condição é mais prevalente em regiões onde o consumo de álcool durante a gravidez é mais comum. Na Europa, por exemplo, países como Rússia, Reino Unido, Dinamarca, Belarus e Irlanda apresentam algumas das maiores taxas de consumo de álcool entre gestantes. No Brasil, aproximadamente 15% das gestantes consomem álcool durante a gravidez, um índice alarmante comparado à média global de 9,8%. Em uma pesquisa realizada em uma maternidade de periferia da cidade de São Paulo, identificou-se que, entre 1.964 gestantes, 33,3% ingeriam alguma quantidade de álcool durante a gestação e 21,4% continuavam a consumir álcool até o final do período gestacional.

A prevalência de FASD pode ser até 10 vezes maior que a de SAF, abrangendo uma ampla gama de dificuldades que podem afetar a vida das pessoas de maneiras diversas. Estima-se que 1 em cada 67 mulheres que consumiram álcool durante a gravidez dará à luz um filho com SAF, o que representa uma significativa carga de saúde pública. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a prevalência de FASD em países desenvolvidos pode variar entre 2% a 5% das crianças em idade escolar. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 10% das mulheres grávidas consomem álcool, resultando em uma prevalência considerável de crianças afetadas por FASD.

A principal causa da SAF é a exposição ao álcool durante a gestação. O álcool consumido pela mãe atravessa a placenta e entra na corrente sanguínea do feto, onde pode interferir em vários processos de desenvolvimento. A quantidade de álcool, a frequência do consumo e o momento da gravidez em que a exposição ocorre são fatores determinantes na gravidade dos efeitos no feto. Além disso, fatores genéticos e a saúde geral da mãe também podem influenciar a vulnerabilidade do feto aos efeitos do álcool. Estudos indicam que até mesmo pequenas quantidades de álcool podem ser prejudiciais, e o consumo em binge é particularmente danoso.

As consequências da SAF são diversas e podem variar em gravidade. As crianças com SAF geralmente apresentam características faciais distintas, como fendas palpebrais estreitas, filtro nasal liso e lábio superior fino. Além dessas características, podem ocorrer deficiências de crescimento e problemas no sistema nervoso central, resultando em deficiência intelectual, dificuldades de aprendizado e problemas comportamentais. Outros problemas físicos associados à SAF incluem defeitos cardíacos, renais e ósseos, bem como problemas de visão e audição. As dificuldades comportamentais podem se manifestar como hiperatividade, impulsividade e dificuldades em interações sociais. Além disso, essas crianças frequentemente enfrentam desafios acadêmicos devido à dificuldade de concentração e problemas de memória.

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Estudos mostram que indivíduos com SAF também são mais propensos a desenvolver problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtornos de personalidade. A exposição pré-natal ao álcool pode levar a alterações permanentes na estrutura e função do cérebro, resultando em dificuldades persistentes na vida adulta. Esses indivíduos podem ter problemas com o emprego, moradia e relacionamentos, o que pode levar a um ciclo de desvantagens sociais e econômicas.

Várias razões podem levar uma mulher a consumir álcool durante a gravidez, apesar dos riscos conhecidos. Entre os fatores que contribuem para esse comportamento estão a falta de conscientização, o consumo de álcool antes da gravidez, a pressão social e cultural, problemas de saúde mental, ambiente familiar e social e histórico de abuso de substâncias.

Muitas mulheres podem não estar cientes dos riscos associados ao consumo de álcool durante a gravidez. A falta de informação precisa e acessível pode levar à subestimação dos perigos que o álcool representa para o desenvolvimento fetal. Além disso, mulheres que já têm um padrão de consumo regular de álcool antes de engravidar podem continuar bebendo sem perceber que estão grávidas, especialmente nas primeiras semanas de gestação, período crítico para o desenvolvimento do feto.

Não existe cura para a SAF, mas intervenções precoces podem melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas afetadas. O tratamento da SAF envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo terapias comportamentais, educação especial e suporte social. O tratamento medicamentoso pode ser utilizado para tratar sintomas específicos, como o déficit de atenção e a hiperatividade. Além disso, a implementação de programas de reabilitação e apoio psicológico pode ajudar as famílias a lidar com os desafios associados à SAF.

Os esforços para reduzir a prevalência de SAF e FASD devem incluir a formação de profissionais de saúde para identificar e tratar essas condições precocemente, além de campanhas educativas que promovam a abstinência de álcool durante a gravidez. A colaboração entre governos, organizações de saúde e comunidades é essencial para desenvolver e implementar estratégias eficazes de prevenção e intervenção. Somente através de um esforço coordenado e contínuo será possível diminuir a incidência dessas condições devastadoras e melhorar a saúde e o bem-estar das futuras gerações.

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