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José Sarney é ex-presidente da República.
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Cultura e inovação

Na semana passada, quando fiz um programa de entrevista de televisão, tive a oportunidade de dizer que atravessamos no Brasil um período que chamei de “pálido” no que se refere à cultura.

José Sarney

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Na semana passada, quando fiz um programa de entrevista de televisão, tive a oportunidade de dizer que atravessamos no Brasil um período que chamei de “pálido” no que se refere à cultura. Podemos constatar esta afirmação, estamos com certa fome e expectativa de que surjam na atualidade artistas da dimensão de Portinari e Guimarães Rosa. 

Temos saudade também dos movimentos que mexeram com a música, como a Bossa Nova, de onde saíram Tom Jobim, João Gilberto; a Jovem Guarda, mesclando música, comportamento e moda; os grandes da MPB, Gil, Caetano e, sobretudo, Chico, o maior de todos, os mineiros do Clube da Esquina, e tantos outros.

Lembro que em meados da década de 1960 surgiu o Festival Internacional da Canção, organizado por Augusto Marzagão, inspirado no Festival de Sanremo, e o Festival de Música Popular Brasileira, estimulados com músicas de protesto contra o regime militar, como a de Geraldo Vandré, que se tornou símbolo dessa atitude com sua canção “Pra não dizer que não falei das flores”: morrer pela pátria e viver sem razão

Sempre me preocupou o que hoje se tornou um refrão dos administradores: modernidade e inovação. Nesse sentido, quando era governador do Maranhão, em 1964, diante da imensa carência de professores, fui pioneiro no Brasil com o ensino a distância. Implantei um circuito fechado em dois colégios, que serviram de exemplo, em que a aula era transmitida em todas as salas. Depois consegui para o Estado uma concessão de televisão aberta, que chamei de “televisão didática”, com a transmissão de aulas já então ganhando o interior com o meu programa de ginásios, a que dei o título de “Ginásios Bandeirantes” — eram 64 unidades, em mais da metade dos Municípios do interior. O Maranhão tinha até então apenas um ginásio, na capital do Estado, o Liceu Maranhense, em que estudei.

Para esse programa, mandara dois educadores, irmãos Maristas, para, durante seis meses, aprenderem o que os japoneses já faziam, o ensino a distância, e escolherem o equipamento que seria necessário implantar no Estado.

Assim foi feito, e os estudiosos do assunto se referem ao fato de o Maranhão ser o pioneiro do ensino a distância no Brasil. E até hoje está funcionando.

Um país para ser uma grande potência não basta ser potência militar, potência econômica, potência política e democrática: é preciso ser primeiro uma potência cultural.

Esse pioneirismo fez com que minha causa parlamentar fosse a cultura. Nesse sentido criei o Ministério da Cultura e, durante o exercício dos meus mandatos parlamentares, propus e foram aprovados o projeto Fundo Nacional Pró-Leitura, a Política Nacional do Livro e, ainda deputado, apresentei o primeiro projeto de incentivos fiscais à cultura, importantes na formação dos jovens e para o conhecimento dos adultos.

É lendo que se abrem portas, os horizontes da imaginação e a capacidade de compreender e a esperança de transformar o mundo. Daí a importância do livro.

Ao nascer Deus me deu um amigo, o livro, que jamais abandonei. Acredito que tenha passado 20% da minha vida lendo. Não tenho outra dedicação para encher o meu ócio, senão o prazer da leitura.

Não podemos falar de cultura sem que deságue no nosso inevitável desejo de abordar o problema da educação. Mas esse será o objetivo de outro artigo, tão vasto é o terreno em que a crítica ao modelo atual é maior que os ganhos.

Estamos no mundo da ciência e da tecnologia. O Brasil está atrasado. As últimas descobertas de ponta ocorreram no tempo em que ocupei a Presidência da República: enriquecimento de urânio, fibra ótica, fabricação de satélites, semicondutores…

Assim não podemos perder a visão do futuro. Nossos avanços atuais ficam na área da agroindústria, com o reconhecimento do extraordinário trabalho da Embrapa. Apesar de tudo o Brasil tem crescido muito em termos de pesquisa científica, estando hoje entre os grandes do mundo. Nada espetacular, mas muita coisa importante. 

Vamos terminar este artigo dizendo da nossa ambição (a minha!) de o Brasil transformar-se numa potência cultural, numa potência educacional, o que levará a ser uma potência científica e econômica.

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